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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Devemos lutar para derrubar Bolsonaro?

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Foto: Mídia Ninja

Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!

(Mario Quintana)

Bastaram cinco meses do governo Bolsonaro para parcelas significativas dos seus 57 milhões de eleitores abrirem mão de apoiá-lo. Se somarmos aos 89 milhões de brasileiros que não votaram no atual presidente, podemos afirmar, sem qualquer medo de errar, que a imensa maioria do povo brasileiro é contra esse governo fascista.

Isso acontece porque até agora não há sequer uma medida do governo Bolsonaro que represente uma atenuação dos grandes problemas do país. O desemprego cresceu, o salário mínimo foi reduzido em relação à proposta do governo anterior, os combustíveis alcançaram preços estratosféricos, a desigualdade social ampliou-se, o poder de compra da população diminuiu e a criminalidade só aumentou. Bolsonaro revelou-se, portanto, um verdadeiro vendedor de mentiras.

Não bastasse, o governo tem cortado dinheiro da educação e quer acabar com a aposentadoria dos mais pobres, o que tem provocado o ressurgimento das grandes mobilizações sociais pautadas pela esquerda, expressado no gigantesco 15 de maio, quando milhões de pessoas ocuparam as ruas de todo o país contra Bolsonaro e Weintraub, o economista que não sabe calcular porcentagem.

Outro exemplo: apesar da unidade da burguesia em favor da reforma da Previdência e da defesa constante desse crime contra os pobres através da imprensa, a maioria do povo brasileiro é contra a reforma, conforme revelou a última pesquisa Datafolha, o que indica uma grande possibilidade da Greve Geral convocada para o próximo dia 14 de junho ser ainda maior que a Greve Geral de abril de 2016, quando, também contra a reforma da Previdência, 40 milhões de trabalhadores cruzaram os braços.

Além disso, esse governo está totalmente desmoralizado, tenta manter uma base social pautando costumes e moralismo ao mesmo tempo em que Flávio Bolsonaro, filho do presidente, está comprovadamente envolvido em crimes de lavagem de dinheiro. Sérgio Moro, antes paladino da moral, silencia diante disso, afundando-se completamente no governo em troca de uma vaga prometida no Supremo Tribunal Federal (STF). Fica a pergunta: cadê o Queiroz?

Com o governo fragilizado, Paulo Guedes, apesar de ser chamado de superministro, não demonstra poder algum. Não consegue implementar o programa do capital financeiro e do imperialismo e se vê também fragilizado. A própria disputa entre olavistas e militares tem rendido cenas patéticas, como ficou demonstrado nas trocas dos ministros da Educação e na política internacional em relação ao caso da Venezuela. Ainda sobre essa disputa, enquanto Bolsonaro (e Paulo Guedes) substituem Deus pelos Estados Unidos no seu lema oficial, Mourão se senta para negociar com o imperialismo chinês e indica aproximações. Uma verdadeira balbúrdia!

Nunca um governo eleito se tornou um fracasso em tão pouco tempo. Pelo contrário, o primeiro ano de mandato, tradicionalmente era sinônimo de grande autoridade política na trajetória da maioria dos presidentes. Diante disso, Mourão está sendo preparado para ocupar o lugar de Bolsonaro. O motivo é simples: Bolsonaro, graças à sua incapacidade política, tem demonstrado grandes limites em implementar a agenda do núcleo duro da burguesia. Caso a marcha em sua defesa, convocada para o próximo dia 26 de maio, seja um fracasso, a tendência é que haja inclusive uma tensão maior na sua derrocada.

O capital, diante da crise econômica e política, quer a garantia dos seus lucros e não terá pudores em descartar suas marionetes. Portanto, trata-se de um grande erro setores da esquerda defenderem que não é hora de derrubar Bolsonaro, já que, supostamente, isso significaria colocar  Mourão no lugar.

Ora, esse é um plano que já está em curso dentro da própria burguesia! Se alguém tem dúvidas, leia os grandes jornais e ligue a TV. Poupar Bolsonaro trata-se do mesmo erro cometido no governo Temer, pois se o nível de mobilização da Greve Geral de abril de 2017 tivesse sido mantido, o “Usurpador” teria caído já naquele ano. Porém, em nome do calendário eleitoral e das ilusões com o Estado liberal, as centrais sindicais e os partidos da esquerda social-democrata arrefeceram as lutas sociais, desmobilizaram as greves gerais seguintes e o resultado foi a vitória do fascismo nas eleições.

Só pode surgir uma alternativa à ascensão de Mourão diante de uma queda de Bolsonaro se a esquerda perder as ilusões na institucionalidade dessa farsante democracia burguesa. Isso significa que é preciso apostar todas as fichas na Greve Geral e nas mobilizações sociais que estão sendo convocadas em defesa da educação e do direito à aposentadoria.

O que se deve esperar? Que o fascismo, seja com Bolsonaro ou com Mourão, feche os partidos, os sindicatos, as entidades estudantis, persiga artistas e opositores, expulse-os do país ou mate-os sob torturas nas masmorras? Não! Quem tem compromisso com a liberdade e a justiça não deve aceitar que o fascismo continue governando, seja com Bolsonaro ou com Mourão.

Só o êxito das lutas sociais trará a possibilidade de um novo cenário político favorável à esquerda. É dessa insurgência popular que surgirá a alternativa tanto a Bolsonaro quanto a Mourão ou a qualquer um dos lacaios da burguesia e do imperialismo. Não podemos temer derrubar esse governo! Não podemos temer construir o poder popular contra a falsa democracia burguesa! Se o caminho não for o da luta radicalizada, o fascismo seguirá governando, seja com Bolsonaro ou com Mourão.

Podem ficar certos: a deusa história não perdoará os que agora dizem que é preciso dar passos atrás quando a situação política exige apenas passos à frente!

Magno Francisco da Silva, professor de filosofia, presidente da Unidade Popular/AL


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