Caio Prado Junior continua sendo referencia de estudo para todos os historiadores e revolucionários que buscam compreender e transformar o Brasil.
Arthur Ventura e Gabriel Borges
Foto: Divulgação/Acervo IEB-USP
BRASIL – Caio Prado Junior pode ser considerado um dos principais intérpretes da sociedade brasileira pela ótica do marxismo e da luta de classes. Paulista e paulistano, nasceu no dia 11 de fevereiro de 1907 vindo de uma família aristocrática de fazendeiros de café, tendo vivido uma típica juventude da elite paulista. Ingressa na Faculdade de Direito do Largo São Francisco onde tem sua formação, aproximando-se também no mesmo período das ideias varguistas da chamada “Revolução de 30”.
Desiludido com os rumos que tomara o projeto político de Vargas, toma uma decisão corajosa para alguém de seu meio social: ingressar no Partido Comunista do Brasil (PCB) no ano de 1931. Corajosa, pois sofre represália da própria família, além de sua filha ter sido agredida por pedradas, acusada de ser “filha de comunista” pelos moradores da rica Higienópolis onde viviam.
Em 1933 escreve sua primeira obra de relevância: Evolução Política no Brasil, uma das primeiras a interpretar a história do Brasil pela ótica das classes sociais e não pelos feitos dos grandes políticos. No mesmo ano viaja para a União Soviética para entrar em contato com a experiência e cultura socialistas no que resultou em mais um livro: URSS – um novo mundo de 1934.
De volta ao Brasil, participa da direção da ANL, a frente antifascista que reunia comunistas, socialistas e a ala esquerda do tenentismo, e toma parte nos levantes de 1935 contra o governo fascista de Vargas, tendo sido preso e exilado. Foi também deputado pelo PCB no mesmo período que Marighella na década de 40, mas ambos tiveram seus mandatos caçados pela política anticomunista de Dutra, sucessor de Vargas.
Caio Prado sempre esboçou uma teoria bastante original sobre o Brasil. Para ele, a independência política de 1822 não alterou de forma profunda o sentido de funcionamento da economia brasileira. Por mais que tenhamos deixado de ser colônia formalmente, Caio entendia que o Brasil de sua época continuava cumprindo a mesma função que desempenhava quando ainda dependia de Portugal, isto é, continuava em um modelo de desenvolvimento que privilegiava entregar nossas riquezas para as potências europeias enquanto deixava ao nosso povo apenas a miséria, a fome e o subdesenvolvimento. Teoria essa que desenvolve em seu Formação do Brasil Contemporâneo de 1942.
Essas ideias muitas vezes entraram em choque com as de seus próprios camaradas de partido, principalmente nas décadas de 50 e 60. Naquela época, o PCB no contexto da industrialização do Brasil promovida por Juscelino Kubitschek defendia que a burguesia nacional brasileira teria um papel a cumprir na superação do subdesenvolvimento da nossa nação exercendo uma luta conjunta com os trabalhadores contra o imperialismo. Já Caio Prado, em seu A Revolução Brasileira de 1966, ao analisar a história do desenvolvimento brasileiro, percebeu que esta elite nacional dependia dos negócios com as empresas estrangeiras para garantir sua sobrevivência e, portanto, não teriam razão para entrar em uma luta contra o imperialismo. Para Caio, assim como para outros revolucionários da época, como Manoel Lisboa, a revolução para a emancipação do nosso povo contra o subdesenvolvimento, deveria partir da própria organização independente dos trabalhadores e camponeses, os quais ditariam o processo de desenvolvimento da nação, enquanto as alianças necessárias para isso só poderiam ser feitas no contexto da própria luta e com a hegemonia da classe trabalhadora.
Os acontecimentos políticos que levaram ao golpe militar fascista de 1964 demonstram a justeza do pensamento de Caio. De fato, quando os imperialistas se articularam para a derrubada do governo desenvolvimentista de João Goulart, a burguesia nacional abraçou este projeto e investiu contra o povo num dos mais sangrentos capítulos da nossa história para a manutenção de seus privilégios.
Nos dias de hoje podemos perceber que essa mesma permanência da tendência ao subdesenvolvimento e de dependência às potências centrais do capitalismo mundial que Caio percebeu ao longo de sua trajetória ainda são válidas para os nossos tempos. Os grandes monopólios capitalistas exploram desenfreadamente nossas riquezas naturais e nossos trabalhadores, como mostrou a tragédia causada pela VALE/SAMARCO que não sentiu nenhum pesar de trocar a vida de centenas de trabalhadores em troca de seu lucro. Além disso, a maior parte de nossa economia é sugada por uma dívida pública impagável que nos deixa completamente a mercê do capital financeiro do qual fazem parte tanto os capitalistas estrangeiros quanto a chamada “burguesia nacional” representada por instituições golpistas como a FIESP e os bancos brasileiros.
Mais do que nunca é necessário levar a cabo um enfrentamento massivo contra o imperialismo e seus agentes nacionais, principalmente no contexto de acirramento das tensões em nosso continente com ameaça de guerra dos Estados Unidos contra o povo venezuelano. Portanto, “Abaixo ao imperialismo e viva ao socialismo”.