Carta sobre as queimadas promovidas por madeireiros e pelo governo Bolsonaro que estão liquidando a floresta tropical amazônica, gerando consequências devastadoras como a “madrugada das 15h” em São Paulo.
Carta: Thales Franco Sellberg Caramante
Foto: Daniel Beltrá/Greenpeace
No segundo volume de sua trilogia “Subterrâneos da Liberdade”, Jorge Amado a nomeia de “Agonia da Noite”. Mas por qual razão? Esse livro trata, antes de tudo, da vitória temporária da reação, da polícia, dos capitalistas sobre os comunistas e o povo. A vida passa a ser uma completa agonia, uma noite sem fim, uma dúvida intragável e incerteza de qualquer ação ou pensamento de qualquer personagem que seja.
Creio que, pessoalmente, as notícias mais recentes sobre as queimadas na Amazônia e a “madrugada das 15h” indignam até mesmo o mais bruto dos homens, pois o que se revela é uma noite agonizada que sufoca e tortura a todos. Não é à toa, não se fala sobre outra coisa no mundo senão a completa destruição de uma riqueza milenar que circundam os países da América Latina, – as florestas enormes que nos mais longínquos fins escondem suas maiores riquezas, isto é, suas relações internas e externas, seus animais, espécies particulares, povos originários, uma memória viva do que era o mundo antes da influência direta da sociedade com a propriedade privada.
As fotos e vídeos que mostram de forma nua e crua as extensões das queimadas, animais feridos ou mortos, sedentos por água; uma toda poderosa onça-pintada impotente, deitada no chão desértico e preto, queimada, rodeada com seu próprio sangue seco, ardem na espinha de todos. As fotos revelam a fundo uma política bestial, abaixo da condição do que consideramos suportável, pois é humanamente intragável. Essa agonia em forma de política se manifestou na noite de ontem em São Paulo, em uma atmosfera política muito semelhante que motivou o escritor do povo, Jorge Amado, a cunhar seu livro de “Agonia da Noite”.
Devo dizer que não duvido de que, assim como eu, diversas pessoas não conseguem acreditar em seus próprios olhos, pois o que se passa é um cenário abaixo da linha do completo absurdo inimaginável. Porém, apesar de que devemos reconhecer que tudo isso é real, tangível e que a “madrugada das 15h” em São Paulo, apesar da escuridão, nos clareou para as consequências naturais de uma política fascista.
Assim, pergunto sinceramente: O que resta de nós? A morte por sufocamento nas câmaras de gás das metrópoles afetadas pelo fim da vida natural? O fim da luz do Sol devido às intermináveis fumaças? A extinção fria e indiferente dos nossos mais queridos bichos?
O pequeno-burguês vê tudo isso e responde positivamente essas perguntas. Sabe que está caminhando a si e sua classe para a completa ruína, pois sabe que a vida se torna mais difícil e que está cada vez mais sem saída. Dessa forma, protesta humilhado, sem esperança, caminha somente nos trilhos da legalidade judicial, pois não tem nenhuma confiança em si e no próprio futuro.
Já o trabalhador consciente está muito a frente desse pensamento. Os trabalhadores não se rebaixam, mas crescem, reconhecem sua força a cada nova luta, a cada nova greve, temperam-se no combate às injustiças. Dessa forma, somos otimistas frente a qualquer luta que seja, principalmente contra as mais abomináveis políticas, porque a classe de Bolsonaro está condenada ao completo desaparecimento, enquanto que o futuro pertence à classe operária. Cabe a nós recuperar cada metro de floresta queimada, cada animal chacinado, sufocado pelas chamas.
Devemos lembrar que o final da trilogia de Jorge Amado se chamou “Luz no Túnel” pois, como eu disse no início desta carta, a burguesia apenas vence temporariamente. É impossível para ela dar um golpe definitivo no povo, isso porque vive dele e não existe sem o valor do trabalho roubado. Nosso caminho é claro: Radicalização até a destruição do governo fascista e até a vitória do socialismo.