Leopoldo Paulino, atualmente militante da Unidade Popular, e integrante da ALN durante os anos de chumbo da ditadura militar de 1964, compartilhou com o Jornal A Verdade uma história de Barão de Itararé conhecida durante seus anos de exílio.
Redação São Paulo
Jornal A Verdade
Foto: Divulgação
ESCRITORES DO POVO – Na edição nº 218 do Jornal A Verdade apresentamos a história de Barão de Itararé, escritor que contribuiu durante toda sua vida para a mídia popular.
Com seu humor irreverente dirigia gozações às autoridades que lhe renderam “várias ameaças, concretizadas após a ‘Revolução de 30’, quando editava o Jornal do Povo, pela publicação da história da Revolução da Chibata” , na ocasião, “foi sequestrado, apanhou, rasparam-lhe a cabeça e o deixaram nu num local deserto”.
O relato a seguir refere-se a esse período da vida de Barão:
“Essa história me foi contada por José Maria Crispim no exílio. Crispim foi membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro e deputado Constituinte em 1946.
Quando Crispim e o Barão foram presos juntos no Estado Novo, Barão começou a tirar sarro do delegado e esse nervoso gritou: ‘Respeite minha autoridade!’
O Barão, com ar sério, passou a dizer: ‘O senhor sabe que estamos no Planeta Terra, que é ligado a uma galáxia. O Universo tem várias galáxias que ainda não conhecemos’.
E continuou por aí afora.
O delegado, sério, prestando muita atenção.
Até que de repente o Barão falou: ‘E diante dessa grandeza toda, o senhor quer que eu respeite a otoridade de um delegado de polícia?’
O delegado teve um ataque histérico.
Essa história me foi contada por Crispim em Buenos Aires em 1974.”– Leopoldo Paulino
Conforme artigo do historiador José Levino para o Jornal A Verdade, a repressão cometida contra o Barão não o curvou e tampouco fez com que recuasse. Coerente, manteve a cômica sempre tenaz: “Na porta da sala da redação, colocou uma placa ‘Entre sem bater’, numa alusão à repressão de que fora vítima”.
Histórias como essa demonstram a grandeza de Barão diante das injustiças sociais. Sua postura inflexível e destemida diante de seus algozes perpassa os séculos e servem de exemplo de como o humor pode ser uma ferramenta poderosa e coerente contra os opressores, atuando na denúncia e propagação das lutas populares.
De fato, um homem eleito como vereador com o lema “mais água e mais leite, mas menos água no leite” que durante seu mandato foi capaz de motivar o povo a suspender as novelas para ouvi-lo nas seções da Câmara tem muito a ensinar sobre o papel político do humor.