A organização, massificação e independência do Pravda foi uma conquista histórica da classe operária que mostrou a direção correta para o Jornal A Verdade.
Gregorio Motta Gould
Foto: Pravda/URSS
SALVADOR – Como sabemos, nosso jornal, em seu nome, homenageia o Pravda, jornal bolchevique que significa A Verdade, em russo.
Por isso, no ano em que nosso jornal completa 20 anos de existência, resgatar algumas particularidades do Pravda para que este sirva de inspiração para a construção de um jornal marxista-leninista, que cumpra o papel de organizador coletivo de nosso partido, ao mesmo tempo que seja um instrumento decisivo da agitação e propaganda de nossa linha, que nos aproxime das amplas camadas do proletariado e que forme um exército de tribunos populares.
O Pravda foi o primeiro diário do Partido Bolchevique, após a Conferência de Praga, em 1912, que separou definitivamente bolcheviques e mencheviques. Sua primeira edição foi impressa na madrugada entre os dias 21 e 22 de abril (4 e 5 de maio), quando, na gráfica onde se imprimiu o diário, chegaram operárias e operários, enviados pelas organizações do partido em São Petersburgo para buscar e distribuir o jornal para o conjunto da classe operária da capital.
A autorização para a edição do jornal foi conquistada pelo deputado bolchevique na Duma N. G. Poletáiev e seu primeiro número contou com matérias de Josef Stálin, N.G. Poletáiev, I. P. Pokrovski (também Deputado da III Duma), M. S. Olminski e N. N. Baturin.
Na história do Partido Bolchevique, o Pravda foi, entre tantos jornais e revistas ilegais e legais, o que adquiriu um caráter de massas, inclusive do ponto de vista da sua sustentação financeira, até então não alcançado. Lênin chegou a chamar o Pravda de “Grande iniciativa levada a cabo pelos operários petersburgueses”. Os operários e operárias aplicavam seu dinheiro, contribuíam, para a impressão do jornal por que o consideravam como seu jornal.
Em 1912, foram realizadas 620 aplicações em dinheiro; em 1913, foram 2.181; em 1914, foram 2.873 aplicações no Pravda. Lênin considerava essas aplicações de dinheiro como cotas de contribuição para o partido.
O fato é que o Pravda não se sustentaria sem essa contribuição financeira direta da classe operária de Petersburgo, pois, apesar de ser uma imprensa legal, era perseguida pela polícia czarista, que aplicava multas como forma de censura. Somente no primeiro ano do jornal, seus redatores foram vítimas de 36 processos judiciais, principalmente por não pagar as multas.
Nesse período, as prisões dos redatores somaram um total de 46 meses e meio e 41 edições do jornal foram confiscadas. É preciso que se diga que, apesar disso, a polícia nunca conseguia confiscar toda uma edição, senão só uma parte, pois, antes da inspeção da censura, os operários e operárias já tinham tirado uma quantidade e levado.
O Pravda foi proibido oito vezes pelo Governo Czarista, mas reaparecia com outro nome, como “Rabocháia Pravda” (A Verdade Operária), “Sévernaia Pravda” (A Verdade do Norte), “Pravda Trudá” (A Verdade do Trabalho), “Za Pravdu” (Pela Verdade), “Proletárskaia Pravda” (A Verdade Operária), ‘‘Put Pravidi” (O caminho da Verdade), “Rabochi” (O Operário) e “Trudovaia Pravda” (A Verdade dos Trabalhadores). Apesar de todos esses ataques, o Pravda, graças à participação ativa das massas, chegou a ter 636 números.
Apesar de estar exilado e a redação do Pravda ficar na Russia, a relação de Lênin com o Pravda era muito profunda. Quando morava em Cracóvia, Lênin escrevia quase todos os dias para o jornal e dava indicações aos redatores aos quais dirigia politicamente. Sua assinatura figurava no Pravda em muitas matérias através de diversos pseudônimos como: V. Ilin, V. Frei, K. T., V.I., Um pravdista, Um estadista, Um leitor, M. N. e outros, que totalizam cerca de 270 artigos.
Do ponto de vista do conteúdo político, o Pravda nasce durante uma profunda luta política entre os bolcheviques e os liquidacionistas (corrente oportunista que, no fundamental, defendia o fim do Partido ilegal dos marxistas russos). Em seus artigos, Lênin constantemente desenvolvia a crítica aos liquidacionistas, chegando M. S. Olminski, um dos mais destacados membros da redação a afirmar que o “tom zangado” de Lênin contra os liquidacionistas prejudicava o jornal, ao que Lênin respondeu: “Desde quando o tom zangado contra o mal, o nocivo, o falso… prejudica um diário? Ao contrário, colegas, ao contrário, eu os asseguro. Escrever sem tom de ira contra o mal significa escrever de modo chato”.
Foto: Pravda/URSS
O Pravda cumpriu ainda um destacado papel na eleição para a IV Duma, apresentando a plataforma dos bolcheviques e denunciando os inimigos da classe operária. Nessa eleição, o Partido Bolchevique foi vitorioso, em todos os seis centros industriais a eleição nos distritos operários deu vitória aos candidatos bolcheviques.
Em março de 1913 a tiragem do Pravda era de 30 mil e nos feriados chegava a 42 mil exemplares. Mas Lênin não se contentava e defendia a continuidade do esforço para fazer chegar mais longe a imprensa comunista. Nessa época, ele falou: “A vitória do espírito de partido é a vitória do Pravda e o contrário também”, ele defendia que os bolcheviques deviam ter como objetivo elevar a tiragem do jornal para 50 ou 60 mil e em seguida para 100 mil.
Ainda por indicação do Lênin, o Pravda tratava amplamente da vida e das condições de vida dos operários e operárias das grandes fabricas do país. Mais de 17 mil artigos enviados por operários e operárias foram publicados no jornal, do qual mais de 10 mil foram sobre a luta grevista.
A força do Pravda foi tão grande que o dia de sua aparição, 22 de abril (5 de maio), passou a ser na URSS o dia da Imprensa Operária. Uma declaração de Lênin, anos mais tarde, ressalta em especial o caráter de massas que adquiriu o jornal: “Nos anos de 1912 e 1913, quando surgiu o Pravda Bolchevique legal, o defendiam milhares de operários que com suas arrecadações, kopek a kopek venceram a opressão do Czarismo e os esforços dos traidores pequeno-burgueses e mencheviques”.
O exemplo do Pravda deve nos inspirar, além do belo nome que batizou nosso A Verdade, com a construção de um poderoso jornal, defensor intransigente dos interesses da classe operária e construído por ela.
Precisamos intensificar nossa crescente campanha de agitação nas ruas, nos trens, nas portas de fábricas e empresas, garantir a dedicação ao dia nacional de brigadas que temos realizado, debater mais com nossa militância a importância da venda cada vez maior de cotas individuais em seus locais de atuação, a busca por novas bancas de jornais que vendam e exponham o jornal A Verdade.