“No meio da crise e sem resposta por parte do governo federal, o presidente resolveu viajar. Fazer turismo enquanto seu vice faz piada com a manifestação do Greenpeace e minimiza mais esse problema socioambiental que estamos vivendo.”
Carta: Hinamar Araujo
Unidade Popular Pelo Socialismo
Foto: Reprodução
51 dias. Foi esse o tempo que as forças armadas brasileiras levaram para iniciar seus esforços para conter os estragos ambientais causados pelo vazamento de óleo nas praias do Nordeste. Segundo o IBAMA, já são mais de 230 praias atingidas em 88 municípios, distribuídos em nove estados do nordeste. São eles: Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Piauí, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Mas parece que o patriotismo importado do governo o impediu mais uma vez de se quer se posicionar em relação ao problema, já que o mesmo parece querer governar o país por meio das redes sociais. No meio da crise e sem resposta por parte do governo federal, o presidente resolveu viajar. Fazer turismo enquanto seu vice faz piada com a manifestação do Greenpeace e minimiza mais esse problema socioambiental que estamos vivendo.
Pernambuco, com 10 cidades afetadas pelas manchas, recebeu a visita de três ministros do governo nessa ultima semana de outubro, mas, infelizmente, tudo não passou de “conversa pra boi dormir”. Os ministros que por aqui passaram, vieram apenas cumprir agenda e defender o governo. Medidas objetivas não houve.
Temendo as críticas das autoridades locais, que cobravam um posicionamento do governo federal, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por exemplo, pediu para que não se “politizasse” o assunto. Coincidentemente ele não perde tempo em afirmar (quase tão sem provas quanto os órgãos federais envolvidos até agora no caso) ser o governo da Venezuela o culpado pelo aparecimento das manchas. Uma coisa que mudou com a sua chegada foi a postura do exército, que passou a impedir alguns voluntários de fazerem seu trabalho, mesmo com as denuncias de que os militares, além de terem demorado em iniciar o seu trabalho, chegam tarde aos locais atingidos, além de se preocuparem mais com a presença da imprensa do que com as manchas nos locais.
Já o Ministro do Turismo, Álvaro Antônio, veio ao estado para colocar os pés na água (de uma praia que não foi atingida) e dizer que “todas as praias já estavam limpas e prontas para uso”. Mas o pior momento foi sem dúvida a participação do Ministro da Justiça, Sergio Moro. O ex-juiz da Lava-Jato veio até o município de Paulista, Região metropolitana do Recife, dois dias antes das praias desse município ser também atingidas pelas manchas, mas se negou a falar sobre o assunto. Ele veio ao estado para falar sobre seu programa de segurança chamado Em Frente Brasil e não gostou quando perguntado por uma repórter local sobre a ausência do estado na crise. Incomodado, respondeu de forma arrogantemente categórica: “o assunto aqui é outro”.
Pois bem. Essa é uma das maiores crises ambientais dos últimos trinta anos no Brasil, enquanto o presidente sai do país para vender a nação para os países imperialistas. Em nossas praias vemos famílias inteiras se desesperam por seu futuro, especialmente aquelas que dependem diretamente do mar para sobreviver e o medo de que esse vazamento atinja ainda mais profundamente nossa biodiversidade e toda a sua cadeia produtiva. O patriotismo de Bolsonaro e seus ministros, importado dos EUA, deixa bem claro que o presidente não se importa nem um pouco em resolver mais um problema ambiental em nosso território. Parece que os 2.250 km de praia atingidas não foram suficientes para sensibilizar o governo e seus ministérios. Mas, assim como a população se mobilizou para salvar as nossas praias, dando uma verdadeira aula de organização, consciência e solidariedade, as mentiras desse governo não irão muito longe. Se depender desses fascistas, inimigos do meio ambiente e do povo que aí estão aquelas músicas do Caymmi falando sobre o mar se tornarão apenas lembranças.