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sábado, 20 de abril de 2024

Brizola Neto e a importância de ser solidário ao povo norte-coreano

No último dia 29 de novembro, o vereador Leonel Brizola Neto (PSOL) causou polêmica ao apresentar à mesa da Câmara Municipal do Rio de Janeiro uma moção de louvor à luta pela paz e contra o imperialismo desenvolvida pelo povo da República Popular Democrática da Coreia, mais conhecida como Coreia do Norte.

Por Felipe Annunziata, Rio de Janeiro

Foto: divulgação

A Coreia é uma das civilizações contínuas mais antigas do mundo, sendo unificada no século X, permanecendo como um reino até 1910, quando o Japão invadiu seu território e transformou-o numa colônia, de onde tirava recursos naturais e explorava a mão de obra local. Com o avanço do fascismo no Japão, nos anos 1930, este país passou a perseguir os costumes, a cultura e a religião dos coreanos, e milhares de mulheres coreanas foram abusadas sexualmente como “mulheres de conforto” para as tropas japonesas. Até a língua local foi proibida e os habitantes foram obrigados a adotar nomes japoneses. Em nada o domínio japonês deixava a desejar comparado aos massacres promovidos por potências imperialistas da Europa e dos EUA, em relação aos povos da África e Ásia.

Bombardeio estadunidense na cidade de Wonsan durante a Guerra da Coreia. Fonte: divulgação

Diante dessa situação, o povo coreano nunca baixou a guarda e foi à luta armada contra o imperialismo japonês, sob a liderança do Partido Comunista da Coreia. Essa luta contou com o apoio de todo o movimento comunista internacional, liderado pela União Soviética. Com o início da II Guerra Mundial e a entrada do Japão no conflito ao lado da Alemanha nazista, a resistência popular na Coreia aumentou e passou a receber apoio logístico e militar da URSS. Com a derrota do Japão, finalmente a Coreia se libertou, com o apoio decisivo do Exército Vermelho Soviético. O imperialismo norte-americano, entretanto, impôs a divisão da península coreana em duas zonas, uma no norte, controlada pelas forças comunistas, com apoio da URSS, e outra no sul, controlada pelos EUA e os europeus.

Em 1950, após intensas provocações do sul capitalista, começa uma guerra civil entre os dois governos, e logo os EUA, com apoio da ONU, intervém no conflito. Embora o governo do sul tenha se envolvido diretamente, a maioria das tropas que enfrentaram o norte foram estadunidenses. Os EUA chegaram a colocar mais de 300 mil soldados no país e bombardeou dezenas de cidades do norte com bombas de napalm e fósforo. Porém, a República Popular da Coreia consegue resistir e evitar a tomada de seu país pelos EUA, com o apoio do Exército de Libertação Popular da China, que entrou na guerra quando as tropas do imperialismo estadunidense se aproximaram do Rio Yalu, em novembro de 1950. Em três semanas as tropas estadunidenses foram empurradas para o Sul do Paralelo 38, levando o general MacArthur, comandante do exército dos EUA, a defender o uso de bombas nucleares contra as tropas chinesas e coreanas. Em 1953, finalmente, foi assinado um armistício entre as partes envolvidas no conflito.

Por que ser solidário ao povo norte coreano?

Como de costume, setores da grande mídia burguesa apresentaram a iniciativa do vereador Brizola Neto como se fosse uma homenagem exclusiva ao líder do país, Kim Jong-un, e uma defesa acrítica do sistema de governo norte coreano, levando-o a ser alvo de sucessivas notas públicas de repúdio. Infelizmente, alguns setores da esquerda corroboraram com esse discurso, revelando sua incompreensão em relação à necessidade de se combater o imperialismo e apoiar a autodeterminação dos povos.

Desde o armistício, em 1953, as duas Coreias continuam oficialmente em guerra, embora nenhuma batalha seja travada há 66 anos, sendo que os EUA mantêm mais de 28 mil soldados na Coreia do Sul até hoje. Com isso, desde o ano passado, o governo norte-coreano vem procurando aproximação com o governo sul-coreano para selar o tratado de paz e iniciar a discussão sobre a reunificação da península. O líder do país, inclusive, chegou a abrir diálogo com os EUA para evitar que os dois países entrassem em guerra nuclear.

Foi neste sentido que veio a homenagem do vereador do Rio. O esforço que o governo norte-coreano vem fazendo para buscar a paz, mantendo sua independência do imperialismo, tem sido importantíssimo para evitar que o mundo entre numa III Guerra Mundial. Saudar esta atitude não significa, entretanto, uma defesa do regime daquele país, do qual se sabe muito pouco no Brasil por conta do bloqueio político, econômico e midiático que o imperialismo impõe.

Assinatura do armistício entre os EUA e a Coreia do Norte em 1953 onde hoje é a fronteira entre norte e sul. Fonte: divulgação

Em sua página no Facebook, o vereador explicou a iniciativa: “A unificação e desnuclearização da região é de interesse global. Não faz bem para o mundo isolar e discriminar a RPDC, pelo contrário, com base na autodeterminação dos povos, é vital que tenhamos boas relações com Pyongyang e que possamos usar o histórico de paz e concórdia que o Brasil acumulou através dos tempos para contribuir nesse processo de pacificação”.

A Coreia é formada por um povo com uma história de milhares de anos com tradições e costumes próprios; aquela região tem suas contradições e particularidades próprias. Cabe a nós, como está na intenção da moção, a defesa da autodeterminação dos povos, pois só o povo coreano pode decidir sobre seu futuro e sobre sua forma de governo. Qualquer postura diferente dessa é apenas coadunar com a política imperialista que criminaliza qualquer país que não siga seu modelo de “democracia”.

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