Reconhecido torturador na época da ditadura militar, ex-tenente processa jornalista Aluízio Palmar por danos morais por denunciar seu envolvimento em sessões de tortura.
Por Redação (com informações de www.plural.jor.br)
BRASIL – O jornalista e escritor Aluízio Palmar, editor do site “Documentos Revelados”, que documenta centenas de arquivos do período da ditadura militar (1964-1985), está sendo processado por um dos seus torturadores, um ex-tenente, hoje advogado, de nome Mario Espedito Ostrovski.
Ostrovski é citado no livro “Brasil Nunca Mais”, coordenado pela Arquidiocese de São Paulo, e também consta no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) como um criminoso de lesa-humanidade. Se aproveitando da impunidade imposta pela Lei de Anistia e do fato de que o Palácio do Planalto está sendo ocupado por um entusiasta da ditadura e da tortura, o ex-militar processa sua vítima por denunciar os crimes cometidos durante o governo dos generais e solicita uma indenização por “dano moral proveniente das ofensas e imputações criminais em rede social” num valor de R$ 39,9 mil.
A ação foi “motivada” por uma publicação de Palmar na página do Facebook do Centro de Direitos Humanos e Memória, onde o jornalista denuncia o então tenente do Batalhão de Fronteiras de Foz como seu torturador na década de 1970.
“Entre suas vítimas estou eu, a professora Isabel Fávero, o líder estudantil Andreas Fávero e outros. Isabel estava grávida de quatro meses quando foi presa e abortou em consequência das torturas a ela infringidas”, escreveu o jornalista.
Em nota publicada nas redes sociais, centenas de personalidades e entidades ligadas aos direitos humanos afirmam que o processo trata-se, na verdade, de uma tentativa de silenciamento e intimidação.
“Tal processo revela-se um escárnio e pretende atingir a todos os Defensores de Direitos Humanos. Esses criminosos se sentem ameaçados por nós, militantes de Direitos Humanos, e ainda tentam alvejar os que se dedicam à Humanidade, como o jornalista Aluízio Palmar, que sempre se empenhou na luta por mais oportunidades a todos os brasileiros, para pôr fim às desigualdades socioeconômicas que corroem o Brasil e sacrificam o povo”.
Apesar disso, Palmar não recua. “A luta é política. É luta da humanidade contra a barbárie. Esperei 40 anos para ter esta oportunidade, para que venha à luz os crimes de lesa humanidade praticados pela ditadura militar”, afirma.
Casos como esses – e tantos outros – reafirmam a necessidade de se persistir no debate sobre a revisão da Lei de Anistia e a necessidade de se punir os responsáveis pelas perseguições, sequestros, torturas, estupros e execuções praticados por agentes do Estado durante os longos 21 anos de ditadura no Brasil.
Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça.