Em pronunciamento, Roberto Alvim reproduziu discurso do Ex-Ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, adaptado ao Brasil.
Guilherme Piva
Foto: Reprodução/Nando Motta
BRASÍLIA – Nesta quinta-feira (16), ganhou grande repercussão um pronunciamento do Secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim. Em um vídeo gravado para anunciar o Prêmio Nacional das Artes, ele afirmou que “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada”. Não demorou para que, nas redes sociais, os internautas chamassem atenção para o fato de que há um trecho muito similar à fala de Alvim em um discurso do infame ministro da propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. Segundo o livro “Goebbels: a Biography”, de Peter Longerich, o braço direito do líder nazista disse: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”.
O centro das atenções foi a semelhança das falas, porém isso não é tudo. No vídeo, a música de fundo escolhida pelo secretário foi “Lohengrin”, do alemão Wagner. O compositor era celebrado por Hitler e teve grande influência em sua formação ideológica.
Alvim se pronunciou nas redes sociais classificando o ocorrido como “coincidência retórica” e atacando os que notaram a semelhança. Hoje, entretanto, o ex-secretário mudou o discurso e culpou sua assessoria e uma pesquisa no Google pela menção a Goebbels.
Bolsonaro e o Neonazismo
Em uma tentativa de se blindar após a péssima repercussão do fato, que foi alardeado até por veículos da imprensa burguesa e gerou críticas até de políticos da própria burguesia como Rodrigo Maia, Bolsonaro exonerou Roberto Alvim na manhã de hoje, e disse que não comentaria a apologia ao nazismo do secretário. Mas o presidente não só sabia das inclinações nazistas de seu funcionário, como também não é a primeira vez que aparecem vínculos entre Jair Messias e fascistas.
Em 2018, Bolsonaro tirou uma foto com Marco Antônio Santos, neonazista assumido que frequentemente se veste com insígnias nazistas, membro do grupo fascista Nacional Democracia (DAP). Mas não para por aí. Em 2011, o grupo neonazista “White Pride Worldwide” convocou o que chamou de ato cívico em apoio a Bolsonaro no vão livre do MASP. O grupo nazi “Carecas do Brasil” também já manifestou publicamente apoio ao capitão.
Em 2013, um neonazista foi preso em Belo Horizonte após publicar uma foto simulando o enforcamento de um homem em situação de rua nas redes sociais. Em sua casa foi apreendido um vasto material de apologia ao nazismo – apologia que ele também fazia pelas redes sociais -, e uma carta enviada a ele pelo então deputado Bolsonaro. A carta foi despachada junto a outros materiais para o Ministério Público em 2017, na sentença da juíza responsável pelo caso. Até hoje não se sabe o conteúdo da carta, já que o processo corre em sigilo.
Foto: Reprodução/TRF-1
Bolsonaro, inclusive, já afirmou em entrevista ao extinto CQC que seu bisavô foi soldado de Hitler, além de relativizar as atrocidades do nazifascismo. Assim, fica explícito que o problema para ele não foi a apologia ao nazismo, mas sim a repercussão grande e negativa, e que ele não veria problema algum em manter o Secretário caso não houvesse tanto alarde.
A Cruzada Fascista de Alvim na Arte
Não é a primeira vez que Roberto Alvim toma uma atitude do tipo. Ao ser confirmada sua indicação para ocupar cargos dentro da secretaria, ele publicou um texto em seu Facebook onde convocava os artistas conservadores para criar uma máquina de guerra, e a enviar seus currículos para formar um banco de dados de artistas que seriam aproveitados para projetos. Em outubro de 2019, ele causou polêmica ao mudar os critérios de seleção de obras pela Fundação: o órgão vetou a peça “RES PUBLICA 2023” do grupo Motosserra Perfumada, que encenava um “Brasil Tropical Fascista”. Ao ser questionado pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, do MPF, ele afirmou explicitamente que o veto ocorreu porque pareceu, para ele, “que não havia nela alusão estética, apenas um discurso político”. A coordenadora da FUNARTE, Maria Ester Moreira, foi exonerada por se opor à censura da peça.
A revista Veja teve acesso a documentos que revelavam planos de Alvim para transformar o Teatro Glauce Rocha em um “teatro dedicado ao público cristão”, utilizando o espaço para abrigar o grupo evangélico “Companhia Jeová Nissi”, elogiado pelo secretário. Os planos foram confirmados pelo próprio.
A exoneração dele, no entanto, não representa um freio na cruzada ideológica do governo na arte e na cultura, mas mostra que o povo brasileiro em sua maioria repudia o fascismo. A apologia direta de um secretário de governo a Goebbels é mais uma evidência do caráter fascista do governo de Bolsonaro, e das chamadas “aproximações sucessivas”, testes para medir a aceitação entre a população desse tipo de discurso. Como a repercussão dessa vez foi ruim, o presidente exonerou o secretário, e segue com seu projeto de censura e guerra ideológica.