Estudo da ONG Oxfam revela como a força de trabalho das mulheres é superexplorada pelo capitalismo.
Por Mariane Vincenzi
Movimento de Mulheres Olga Benario – Rio de Janeiro
Foto: ReproduçãoA Oxfam (organização criada com a missão de acabar com a desigualdade no mundo) lançou, em janeiro, relatório chamado “Tempo de Cuidar”, cujo principal objetivo é mostrar a assustadora realidade mundial que o sistema capitalista impõe todos os dias às mulheres, focando-se principalmente no trabalho mais essencial para o funcionamento da sociedade: o trabalho reprodutivo.
O trabalho reprodutivo, ou trabalho de cuidado, como o relatório nomeia, é o trabalho que consiste das ações de cozinhar, limpar, lavar roupa, entre outras, que são essenciais para o nosso dia a dia e ajudam na manutenção das forças produtivas, repondo a força de trabalho (daí o termo reprodutivo). Simplificando, o trabalhador que gasta energia e tempo no trabalho, seja ele onde for, tem sua energia reconstituída apenas por causa do trabalho reprodutivo, que lhe garante comida, roupa passada, cama arrumada, casa limpa, etc.
O relatório nos dá um panorama geral da situação de desigualdade social e foca nos números relacionados ao trabalho reprodutivo: ele é realizado majoritariamente por mulheres e meninas a partir dos quinze anos (principalmente as que vivem em situação de pobreza e são parte de grupos marginalizados), e são dedicadas a esse trabalho 12,5 bilhões de horas gratuitas todos os dias.
O cálculo feito pela Oxfam é de que esse trabalho gratuito agrega pelo menos US$ 10,8 trilhões (dez trilhões e oitocentos bilhões de dólares!!!) para a economia (valor calculado em cima do salário mínimo), o que significa mais de quarenta trilhões de reais por ano ou aproximadamente três trilhões e seiscentos bilhões por mês, sendo os mais beneficiados, é claro, os mais ricos, em sua maioria homens.
As mulheres fazem mais de 75% de todo o trabalho de cuidado não remunerado do mundo e, frequentemente, segundo os dados do relatório da Oxfam, “elas trabalham menos horas em seus empregos ou têm que abandoná-los por causa da carga horária com o cuidado.
Não há dúvidas de que essa exploração ocorre por causa do sistema capitalista e patriarcal que exige da mulher a realização de tais tarefas. Historicamente, mulheres eram as responsáveis por esse trabalho, mas com a evolução da sociedade ele passa a ser rebaixado, colocado como “invisível” e não remunerado.
O que acontece na prática é que mulheres realizam jornadas duplas e triplas, trabalhando fora, cuidando dos filhos e ainda fazendo o trabalho doméstico. Por consequência, a tão esperada igualdade de gênero no mercado de trabalho é impossível de ser alcançada no capitalismo, uma vez que o trabalho reprodutivo é imposto à mulher.
Ainda que feito pelas mulheres e não sendo fornecido pelo Estado, há empresas que oferecem como serviço as tarefas do trabalho reprodutivo, como cooperativas de empregadas domésticas e lavanderias pagas, além de empresas que oferecem a estrutura de refeitórios para outras empresas, universidades (bandejão) e fábricas. Isso só mostra que a logística para esse trabalho ser remunerado já existe no capitalismo, mas ao não ser fornecido pelo Estado, faz com que ele recaia na maioria dos casos em cima das mulheres, principalmente as mais pobres, que não têm condição de contratar esses serviços.
Outro aspecto do trabalho reprodutivo é o cuidado das crianças. As mulheres são responsáveis por gerar novos trabalhadores e ainda têm o trabalho de cuidar deles durante seu crescimento, muitas vezes sem a ajuda do pai da criança. Sem creches nos locais de trabalho, universidades e bairros, elas ficam mais presas ainda ao trabalho doméstico, aumentando em muitas horas a carga de trabalho semanal.
Precisamos lutar por uma sociedade onde a coletivização do trabalho reprodutivo seja colocada em prática e que ela não recaia apenas em cima das mulheres, permitindo a possibilidade de nós estudarmos e nos dedicarmos a outras tarefas que não sejam essas. A verdadeira igualdade de gênero só vai existir em uma sociedade socialista, e para garantir isso precisamos nos organizar cada vez mais e exigir nossos direitos.