Dayane Augusta
BRASÍLIA – Na noite de segunda (23), em declaração nacional em torno do surto do coronavírus, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, declarou o bloqueio nacional de 21 dias a partir de 00h00 de hoje (26). Segundo o presidente, é “medida decisiva para salvar milhões de sul-africanos da infecção e salvar a vida de centenas de milhares de pessoas”, contra o vírus que “infectou mais de um quarto de milhão de pessoas em todo o mundo”.
É a medida mais restritiva já imposta desde o fim do Apartheid. Certamente, sem precedentes. Interfere na vida de todos, desde pessoas comuns, estrangeiros, pequenas e grandes empresas. Segundo o presidente, essa é uma primeira fase de combate ao vírus.
Diante dessa situação mundial, embora eu fale particularmente a partir da África do Sul, brasileiros estão enfrentando dificuldades e incertezas para retornar ao Brasil. Há mais de uma semana e meia, pessoas de diferentes trajetórias buscam de algum modo retornar à “segurança” de seus países. Contudo, o que temos encontrado é descaso e desconsideração por parte de empresas e mesmo do governo federal brasileiro no que tange a um posicionamento mais efetivo sobre o nosso retorno.
No meu caso, especificamente, tive uma remarcação e três voos cancelados no espaço de uma semana e meia. Primeiro, pela Taag, tendo em vista o decreto presidencial de fechamento do espaço aéreo angolano; acompanhando essa tendência, depois pela South Africa e, por último, pela Latam.
Apenas na África do Sul, somos mais de 200 pessoas tentando voltar a seus lares. Algumas dessas pessoas vêm se mantendo por conta própria, outras, sem saber como fazer, como farão no período de confinamento, onde permanecerão. Existem grávidas, idosos, jovens, crianças… pessoas presas na área de embarque internacional. As respostas têm sido lentas e o abalo emocional que todo esse contexto vem provocando, voraz.
Sabendo da seriedade de uma crise epidêmica, o governo sul-africano age na tentativa de poupar o maior número de vidas – o governo brasileiro, não. Existem casos tão dramáticos ou mais no Peru, Marrocos, Arábia Saudita, Portugal e outros.
No caso da África do Sul, as restrições se aplicam também ao espaço aéreo. Isso agrava nossa situação, tendo em vista a necessidade iminente de diálogo diplomático do governo brasileiro com o sul-africano. Ou seja, é necessário alguém que reconheça a gravidade desta situação do coronavírus, pessoa que nós infelizmente não temos.
Neste sentido, estamos apelando aos meios de comunicação e amigos na divulgação do caso para solicitar:
1. A negociação do governo brasileiro com a companhia aérea Latam, para que mantenha os voos dos dias 30 e 31 de março;
2. A vinda de avião da FAB (ou órgão semelhante) para buscar pessoas que não forem contempladas pelos voos da Latam (que estão cancelados até o momento);
3. A compreensão da urgência da situação dos estrangeiros que estão na África, passando por medidas mais restritivas de confinamento do que a população local.
Alguns hotéis estão nos “convidando a nos retirar” por não “oferecerem o serviço de quarentena”. Alguns de nós já fomos expulsos e, os que ainda não, estão sendo impedidos de sair dos quartos. Precisamos ser alojados, com segurança, enquanto esperamos o resgate para podermos voltar ao Brasil.