Claudiane Lopes
BRASIL – Eles estão na primeira linha de frente contra a guerra à pandemia do COVID-19. São enfermeiros(as), médicos(as), técnicos de enfermagem, demais funcionários dessas instituições, que se apresentam como possíveis vítimas de contaminação pelo coronavírus. Em todo o país, trabalhadoras e trabalhadores da saúde denunciam a falta de Equipamentos de Proteção Individuais (EPI) e o descaso com a saúde, que começou antes da pandemia do novo coronavírus.
A Organização Mundial de Saúde – OMS determinou o que deve ser usado para os profissionais que atendem pessoas contaminadas, máscaras n-95, luvas, gorro, avental e óculos de proteção, os chamados EPIs. A Presidente do Sindicato do Enfermeiros do estado de Pernambuco (SEEPE), Ludmila Medeiros Outtes Alves, afirma que a situação dos profissionais está complicada. Faltam os Equipamentos Proteção Individual básicos para o combate ao vírus nos hospitais públicos e privados.
“No estado, estamos fazendo as denúncias desde a semana passada da precariedade. Tem unidade que falta até sabão para lavar as mãos, entre outras coisas. A resposta do governo tem sido apenas de negar os fatos, dizendo que não faltam os EPIs. Os enfermeiros estão fazendo algumas paralisações pela falta dos materiais, mas pontualmente” – defende Ludmila.
A situação piora quando o governo do estado de Pernambuco, ameaça a presidente do SEEPE na tentativa de intimidação com a ida de dois homens armados, supostamente da polícia civil, em sua casa. O fato ocorreu, justamente, por causa das denúncias realizadas na imprensa pelo sindicato.
O Brasil tem cerca de 2,2 milhões de profissionais de enfermagem, entre técnicos, auxiliares, enfermeiros, segundo dados do COFEN (Conselho Federal de Enfermagem). A grande maioria é de mulheres. A escassez de material é generalizada: profissionais da China, da Europa e dos Estados Unidos também sofreram e sofrem com a falta de material de proteção. O número de profissionais da saúde infectados na Espanha chega a cerca de 4.000 com coronavírus. Na Itália, são quase 5.000 profissionais da saúde infectados pelo novo coronavírus, além disso, morreram 23 médicos desde o início da pandemia.
Para quem atende os infectados suas armaduras são os jalecos, as máscaras e as luvas. As maiores reclamações dos profissionais de saúde são a falta de máscaras, aventais (ou capotes), óculos de proteção e álcool gel. Também a qualidade dos produtos, pois os aventais são de um material tão fino que não é impermeável, o que caba sendo um perigo para quem precisa estar protegido denuncia, Nayá Puertas – Tesoureira do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.
“Estamos tentando fazer esse levantamento, na cidade do Rio de Janeiro, a segunda mais afetada com a pandemia, temos até agora 10 casos de médicos infectados pelo COVID-19, sendo que um veio a óbito, um médico de 65 anos”, afirma.
Para muitos profissionais dessa área, é como um cenário de guerra, em que toda a sociedade é, inevitavelmente, afetada – se não pelo vírus, pelas medidas tomadas para prevenir sua disseminação em larga escala. A doença que assola a todos os continentes não faz distinção entre jovens e idosos, homens e mulheres, ricos e pobres. Ainda que seja mais perigoso ao atingir alguns grupos (idosos, cardíacos, hipertensos, diabéticos, pessoas em tratamento de câncer, ou seja, pessoas com doenças crônicas).
Segundo especialistas, o pico da doença no Brasil ainda está por vir, por isso que a campanha para as pessoas ficarem em casa é de extrema importância. O sistema único de saúde – SUS somado aos hospitais privados não tem condições físicas e de recursos humanos para atender todas as pessoas infectadas. Mesmo as prefeituras e governos construindo alternativas de atendimento em escolas, quadras, ginásios esportivos ainda não atenderão todas as pessoas que mais precisam.
Não é por trabalharem em unidades de saúde que médicos, enfermeiros, seguranças, auxiliares de limpeza, maqueiros, atendentes, entre outras funções, temem menos o coronavírus. Pelo contrário, ninguém está imune à doença. Muitos profissionais relatam que o medo não é exatamente de ser infectado, mas de que a sua contaminação represente risco a muitas pessoas que estão no seu convívio ou ao seu redor, seja em casa, nas relações de amizade, nos hospitais ou postos, principalmente quando os hospitais ou governos não garantem a proteção necessária para esses trabalhadores.
A realidade no Brasil é que já existe um déficit de profissionais na área da saúde em todas as instituições públicas que funcionam para esse fim. Se essas pessoas também forem infectadas, vão ser afastadas, o que vai agravar ainda mais o atendimento à população. Mas quem cuidará dos doentes? Os capitalistas ou esses trabalhadores da saúde? O que está demonstrado é que a cada dia com avanço do coronavírus, a humanidade vive um xeque-mate, dado pelo próprio sistema capitalista. Em outras palavras o capitalismo não tem mais condições de se manter, o que precisamos neste momento é salvar vidas em detrimento dos fabulosos lucros que ainda existem acima das vidas humanas.