Crivella corta verba para prevenção de desastres e culpa população pobre pelas consequências das chuvas

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Em recente pronunciamento sobre as tragédias que atingiram o Rio neste último período de fortes chuvas, o prefeito da cidade diz que os moradores de regiões mais empobrecidas escolhem viver nesses lugares e, por isso, seriam os verdadeiros culpados pelos alagamentos, desabamentos de casas e pelas mortes que ocorreram no fim de semana.

Raphael Assis


DESCASO – População pobre do Rio sofre com descaso do poder público.

RIO DE JANEIRO – O início do ano, como de costume, está sendo marcado por fortes chuvas de verão que vêm atingindo principalmente o Sudeste. Por isso, cidades como Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, nos últimos meses, vêm  passando por gravíssimos problemas, tais como deslizamentos, enxurradas, enchentes e mortes. Só no último fim de semana, 4 pessoas já morreram no Rio e centenas de família perderam tudo por causa das enchentes e desabamentos. Como sempre, porém, os veículos de informação sempre utilizam manchetes que enfatizam unicamente a causa natural desses problemas, ou seja, a chuva. Quase nunca vemos notícias que relacionem as tragédias à sua principal causa, que é a forma desigual com que são aplicadas as políticas de planejamento urbano e habitacional dos municípios. É por isso que as regiões mais afetadas por todo esse caos são sempre as mais empobrecidas, situadas em locais de risco porém ignoradas pelo poder público.

O próprio Marcello Crivella admite saber dessa contradição quando diz que a culpa das tragédias é dos próprios moradores dessas regiões, por eles “escolherem viver nesses lugares”. Além de revoltante, essa absurda afirmação, que soa como um deboche à situação difícil do povo carioca, demonstra que, para o prefeito, a sua péssima gestão não é a verdadeira causa dos problemas trazidos pelas chuvas, incluindo as quatro mortes registradas no último fim de semana. Crivella parece querer esconder que, pelo terceiro ano consecutivo, cortou quase 200 milhões reais do investimento de prevenção a desastres naturais.

Além disso, ele segue o pensamento da política liberal, a qual põe sobre as pessoas a responsabilidade pelo seu bem estar social, excluindo o Estado dessa responsabilidade. É como se ele dissesse que as 300 mil pessoas que hoje vivem em áreas de risco e encostas, a maioria favelas, simplesmente decidissem por vontade própria morar nesses locais, e não por causa da forte desigualdade social que as obriga a buscar por moradia barata.

Mas o povo carioca já está percebendo que Marcelo Crivella não representa os interesses da população pobre, moradora de periferias, que ano após ano sofre com as terríveis consequências da falta de planejamento urbano durante as chuvas de verão, as quais sempre ocorrem e para as quais nunca é apresentada uma solução eficaz.

É por tudo isso que é necessário entendermos que, enquanto uma profunda reforma urbana que atenda aos interesses do povo, e não aos interesses e à ganância do poder público, não for aplicada, continuaremos assistindo nosso povo pobre morrendo soterrado e perdendo seus bens, enquanto é culpabilizado pela sua própria miséria.