Giovanna Almeida, Rio de Janeiro
Ontem (14) se completaram dois anos da execução brutal de Marielle e Anderson. São 732 dias sem resposta sobre esse crime político e é impossível falar de democracia no Brasil sem justiça para eles.
“(…) e quando falamos nós temos medo/ nossas palavras não serão ouvidas/ nem bem-vindas/ mas quando estamos em silêncio/ nós ainda temos medo/ Então é melhor falar/ tendo em mente que/ não esperavam que sobrevivêssemos“- Audre Lorde
São dois anos em que a pergunta “Quem mandou matar Marielle?” não sai da ordem do dia.
O feminicídio político da vereadora expôs uma rede miliciana de característica racista e misógina que possui relação com os poderes do Estado. E, nesse tempo, com o acirramento cada vez maior da conjuntura, a vida das mulheres negras e dos defensores dos direitos humanos no nosso país tem sido mais difícil e angustiante a cada dia.
Vivemos um momento de avanço do fascismo que permite que a violência do capitalismo se coloque acima de qualquer princípio democrático e, assim, ameace até essa democracia blindada em que vivemos – que não permite corpos e ideias como o de Marielle na sua construção – e que é manchada de sangue de preto e de pobre.
Por isso, as mulheres – principalmente as mulheres negras – que sonham e lutam por um outro tipo de sociedade, sem desigualdades, sem classes e sem opressões têm o grande desafio de vencer o medo das violências do capitalismo e sobreviver a elas.
Nessas horas de medo é preciso lembrar de Marielle, em toda a sua coragem, comprometimento e combatividade. Lembrar que antes de qualquer coisa, Marielle era uma grande militante que colocou o espaço institucional que conquistou a serviço do povo; que foi executada não só por ser mulher, negra, LGBT, favelada e socialista, mas, sobretudo, por reivindicar desses lugares para fazer política e por subverter e ameaçar as estruturas de poder.
É muito difícil perder essa grande referência, tanto pelo que ela representa quanto por nos lembrar que todos e todas que se levantam contra esse sistema desumano e contra as opressões correm risco. Vale lembrar que o Brasil é o país das Américas onde mais se matam defensores dos direitos humanos, segundo um relatório da Anistia Internacional, e além disso Marielle também era uma parlamentar e sua execução fragiliza todas as mulheres que se colocam nos espaços da política para fazer o tipo de denúncia que ela fazia. Sua execução é um recado, que diz que devemos aceitar as coisas como elas são.
Contudo, nossa resposta é nenhum minuto de silêncio! Quem achou que matando Marielle calaria os que lutam perdeu! O seu sangue, assim como o de várias outras lutadoras, serve de adubo para a coragem dos que não vão aceitar o fascismo, a violência política e as injustiças sociais.
Nossa resposta é espalhar pelo Brasil um chamado para resistirmos à brutalidade, para ocuparmos os espaços de poder e para lutarmos pela transformação deles. Um chamado coletivo para falar de Marielle, que é também falar sobre um projeto de sociedade que ela representava. Um chamado coletivo, enfim, para denunciar sua execução, pois falar disso é denunciar o sistema que a matou.
Que sigamos sendo sementes que vão florescer um mundo novo e que tenhamos coragem para incomodar cada vez mais os que não esperam que sobrevivamos. Pois é melhor morrer de pé do que viver ajoelhada.
Não seremos interrompidas!