Falha no sistema só revela a fraqueza na lógica de afunilamento ao acesso do ensino superior público brasileiro.
Gabriel Martins
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BRASIL – Em maio de 2019, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrou 5.095.308 de inscritos, dentre os quais, 3,9 milhões de candidatos estiveram presentes nas provas, o que representa 76,9% do total. Diante deste cenário, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) 2020/1 preencherá 237.128 vagas em 128 instituições públicas de ensino. Apenas 15% da população brasileira tem ensino superior e, destes, 88% foram em faculdades privadas. Para ficar mais fácil, é como se, a cada 46 pessoas, UMA (isso mesmo, UMA), passasse para a faculdade pública. Ou seja, em nosso país, ingressar em um curso superior é um privilégio para poucos.
A expansão das vagas nos governos do PT foi feita economizando-se ao máximo e está incompleta em vários sentidos, principalmente no que se refere à falta de infraestrutura nos campi do interior do país e na falta de cobertura da assistência estudantil. Tudo isso se acentuou com o congelamento dos gastos do Governo Federal (Emenda Constitucional 95), do governo de Michel Temer, seguido por mais ataques na gestão de Jair Bolsonaro. Esses fatores desenham um quadro caótico, que resulta no acesso a uma universidade sucateada, na qual o estudante tem uma formação de má qualidade, isso, é claro, se ele não desistir do curso antes do término por conta de suas dificuldades financeiras, que não são atendidas pelas políticas de permanência.
Em janeiro, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, admitiu a existência de falhas nas notas e correções do exame realizado no ano passado. “Falhas” estas causadas pela incapacidade da atual gestão do governo, que vem perseguindo as universidades federais, sucateando desde o acesso até a permanência de seus alunos com o intuito de apresentar soluções, como o programa privatista “Future-se”.
Fato é que existe dinheiro para assistência estudantil, existe verba para expansão, existem recursos para equipar laboratórios e pagar os salários sem atraso, entretanto, o Governo Federal fez sua opção em investir no setor privado com o dinheiro que deveria garantir a universidade livre. Como já sabemos, a proposta do Future-se é abrir as portas das universidades para o interesse privado dos grandes grupos educacionais, como Cogna (antiga Kroton) e Laureate, conhecidos como “tubarões da educação”, e que já demonstraram interesse em possíveis privatizações da gestão do ensino federal.
O acesso à educação de qualidade é fundamental para a soberania e o desenvolvimento de um país. Se um país não produz ciência, não forma técnicos, engenheiros e médicos, e principalmente profissionais das grandes áreas das ciências humanas, nunca conseguirá sair da condição de explorado e submisso. É por isso que a classe dos ricos e os imperialistas tentam impedir o acesso da juventude à universidade, transformando a educação em mercadoria, fechando as portas da universidade pública com o vestibular.
Não podemos seguir enriquecendo os banqueiros enquanto a juventude tem seus direitos negados. O vestibular é um método elitista de avaliação que não prova nada, apenas exclui e esconde a real falta de vagas. Por isso, é necessário pôr fim ao vestibular e conquistar o livre acesso à universidade.
Toda essa situação prova que é necessário lutar para conquistar a universidade pública e de qualidade que queremos e a que temos direito. Apenas com a luta da juventude e dos estudantes será possível acabar com o vestibular e conquistar o livre acesso à universidade.
No último semestre, o papel da juventude foi decisivo dentro das universidades na luta por uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos, denunciando as políticas de sucateamento e de congelamentos implantados pelo Governo Federal. Neste semestre, a juventude deve, cada vez mais, organizar-se e tomar a frente das lutas.