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domingo, 22 de dezembro de 2024

Por que os fascistas tentam reescrever a história do Brasil?

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Gabriel Borges,
militante da UJR em São Paulo


Foto: Reprodução

BRASIL – Grande parte de nós já deve ter tirado um sarro ou compartilhado memes com uma daquelas frases icônicas do Bolsonaro sobre História. Do tipo que o português nem pisava em solo africano para obter escravos ou que o Golpe de 1964 seria na verdade uma Revolução. O absurdo das tiradas de Jair Bolsonaro pode ter o seu verniz cômico, mas ele está inserido em um movimento muito maior que a cada dia cresce no Brasil e toma força conforme cresce a onda conservadora: a do negacionismo histórico.

Quando se fala em negacionismo histórico, não há como não pensar em disputa por memória, ou em outras palavras, a corrida entre diversas forças políticas para conquistar, diante da opinião pública, o título de portadora da melhor narrativa sobre o passado. 

Disputar a memória sobre o passado faz parte da disputa pela legitimação, da disputa pelo poder. O negacionismo histórico é um elemento desses diversos movimentos por disputa pela hegemonia, porém, revestido de uma série de outras características que o tornam, nas mãos dos grupos mais extremistas que entram nessa disputa, uma arma de destruição da verdade. Conspiração, juízos de valor, contranarrativas mirabolantes, tudo isso faz parte de um projeto de História que legitima também os mais mirabolantes projetos de sociedade.

Não é à toa que foi justamente lado a lado com o fascismo que o negacionismo histórico moderno ganhou popularidade. Além de falsificar a história da Alemanha para conquistar o poder, com o término da Segunda Guerra Mundial, era interessante aos grupos nazifascistas remanescentes negar as atrocidades cometidas contra os grupos “indesejáveis” do III Reich por uma série de razões que iam desde motivações pessoais como por razões políticas. 

Paul Rassinier, considerado o pai do negacionismo é a prova cabal disso com seu livro “A Mentira de Ulisses”, onde constatava que a Segunda Guerra Mundial era na verdade um grande complô de um Governo Secreto comandado pelos judeus para dominar o mundo. Obras de teor parecido tematizando uma Conspiração Secreta Judaica e até mesmo a negação do Holocausto se espalharam entre movimentos fascistas do mundo inteiro. 

No Brasil, ninguém se destacou tanto como Siegfried Ellwanger, gaúcho descendente de alemães e autor de “Holocausto: Judeu ou Alemão? Nos Bastidores da mentira do século”. De forma geral, o negacionismo que surge como justificador do nazismo, tinha como premissa a caracterização do inimigo ao nível satânico, a ideia de que toda a história oficial é uma mentira e que, a partir do momento que se desvenda as “grandes mentiras do século”, uma Nova Era pode se iniciar.

Quando falamos em nazistas e judeus, holocausto e Segunda Guerra, parece que a realidade está muito longe dos últimos anos aqui no Brasil (apesar de certos políticos nos gabinetes da presidência), mas se aproximarmos algumas figuras, compararmos alguns discursos, tudo começa a fazer sentido. 

O que há de comum na narrativa de Jair Bolsonaro e seus adeptos sobre o golpe de 1964, o AI-5, o golpe de 2016 e a onda de notícias falsas da eleição de 2018? 

É sempre a luta contra os comunistas, essas figuras vermelhas que representam demônios quase onipresentes para os seguidores de Bolsonaro. Dizem que os reformistas do PT são comunistas, assim como os tucanos do PSDB e que chegaram ao poder através de uma conspiração nacional, às vezes até global. Dizem eles que os comunistas estão infiltrados na Comissão de Direitos Humanos, na Rede Globo, na ONU, no MEC, pregando marxismo cultural e ideologia de gênero. Cria-se uma dicotomia onde de um lado estão os cidadãos de bem e do outro ativistas, ex-torturados, as minorias, professores de história… A malfadada da história de novo.

O fascismo brasileiro de hoje já não precisa mais ficar negando holocaustos. Basta a ele demonizar toda a oposição ao grupo político o qual ele representa, caracterizar o inimigo ao nível do satânico, dizer que toda a história oficial é uma mentira e que, quando Olavos e Narlochs desvendam as “grandes mentiras do século”, a Nova Era poder se iniciar. 

A nova era do fascismo bolsonarista não possui uma ausência de história. Ela tem muita história! Uma História onde tudo que veio antes é comunismo, uma história que nega o sofrimento dos oprimidos, uma história que silencia a classe trabalhadora. É um Negacionismo burguês do tipo mais pueril, o do tipo fascista. 

Como Marx dizia no Manifesto Comunista, há um espectro de comunismo conjurado pelas forças da burguesia, é necessário, pois “os comunistas exporem, à face do mundo inteiro, seu modo de ver, seus fins e suas tendências, opondo um manifesto próprio à lenda do espectro do comunismo”. Não só isso, é necessário combater a narrativa histórica do fascismo com a narrativa histórica dos povos oprimidos, das massas. Afinal, a memória também possui um caráter de classe.

Por uma história voltada aos interesses da classe trabalhadora e das massas populares!

Abaixo ao negacionismo fascista! 

Indicação de leitura:
NETO, Odilon Caldeira. Memória e Justiça: o Negacionismo e a falsificação da História.

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