Gregorio Gould, Salvador
O sistema capitalista amarga, desde 2008, sua mais profunda crise econômica. Esta crise afetou as grandes potências e demais países do mundo. Desde seu início, a política adotada pelos governos de plantão foi a de transferir o peso da crise para os ombros da classe trabalhadora e os pobres por meio de retiradas de direitos e programas que ficaram conhecidos como austeridade ou ajuste fiscal, que nada mais são do que cortar investimentos em educação, saúde, moradia, etc. Com isso, foi possível transferir os recursos para os bancos e grandes empresas com a chamada “dívida pública” e outros mecanismos.
Vários governos injetaram recursos diretamente nas empresas e até chegaram a estatizar bancos para salvá-los com recursos públicos e depois devolvê-los para a iniciativa privada, ou seja, para os ricos. No Brasil várias empresas e bancos receberam recursos públicos, como é o caso do Banco Panamericano e da Ford, que, após receber mais de R$ 8 bilhões do Governo Federal (Lula, PT) e do Governo do Estado de São Paulo (José Serra, PSDB), demitiu centenas de trabalhadores sem nenhum constrangimento ou punição.
Nenhuma lei proibindo demissões ou garantindo direitos aos trabalhadores e ao povo pobre foi aprovada nesse período, mostrando o caráter de classe do Estado.
Apesar de já se passarem 11 anos do início da crise, a economia capitalista não experimentou uma recuperação e se encontra sempre em uma depressão mais profunda que a anterior. A conclusão é uma só: os ricos e suas medidas capitalistas não são capazes de resolver a crise que eles mesmos criaram; o máximo que fazem é usar os governos para salvar bancos e empresas à custa da vida do nosso povo.
Essa política tem sido, no Brasil e no mundo, uma política assassina, como mostra o crescimento do número de pessoas com fome, o crescimento avassalador do desemprego, a piora dos serviços públicos.
Para garantir essa política econômica, o que assistimos no terreno político foi o crescimento da repressão aos movimentos sociais e a realização de golpes militares e institucionais, financiados e articulados principalmente pelo imperialismo estadunidense. Também a socialdemocracia, que se apresentava como uma alternativa aos governos “neoliberais”, o que fez foi se colocar como tropa de choque dos interesses dos bancos e empresas, retirando direitos, reprimindo as greves, etc.
É nesse contexto que apareceu a pandemia da Covid-19. Portanto, não passa de uma brincadeira sem graça dizer que “a quarentena proposta pela OMS não deve ser seguida, pois a economia não pode parar”. Não passa de mais um grito de uma burguesia desesperada para manter sua taxa de lucro e que nunca se importou nem se importará com a vida das pessoas pobres.
Mas como então resolver a crise econômica e, agora, essa crise sanitária?
A crise econômica que assola o mundo é a chamada crise de superprodução do sistema capitalista e ela existe porque o modo de produção capitalista busca a todo tempo o lucro. Para aumentar seus lucros, os capitalistas demitem os trabalhadores sempre que surge um novo maquinário que permita isso e reduzem os salários (direta ou indiretamente, a exemplo das terceirizações).
Com o crescimento do desemprego e a redução dos salários, a capacidade dos trabalhadores e trabalhadoras de comprar os produtos que eles mesmos produzem diminui e estes produtos passam a sobrar nas fábricas e nas lojas. Junto a isso, produz-se em excesso aquilo que é mais lucrativo, sem se levar em conta as necessidades reais. Portanto, produz-se em excesso algo que a sociedade precisa pouco; a mesma coisa acontece com o inverso.
Logo, a crise não é uma fatalidade dentro do sistema capitalista, mas uma tendência. Ou seja, só é possível acabar com as crises se acabarmos com o modo de produção capitalista e o substituirmos pelo modo de produção socialista.
O socialismo é o sistema dos trabalhadores e trabalhadoras no poder. Nele, o objetivo da produção deixa de ser o lucro e passa a ser o de suprir as necessidades da sociedade. Com isso, a produção deixa de ser anárquica e passa a ser planificada, ou seja, organizada de acordo com o que precisamos para viver e de forma que todas e todos tenham trabalho. A introdução de um maquinário mais moderno deixa de representar demissões e passa a possibilitar a redução da jornada de trabalho. O lucro do patrão é substituído pela divisão das riquezas pelo povo que as produz.
No caso de uma crise sanitária como a que vivemos, cabe também a reflexão. É tão difícil produzir em quantidade suficiente o álcool em gel e as luvas e máscaras que estão em falta no mercado, sendo vendidos a preços absurdos? Claro que não. Mas somente em uma sociedade onde os interesses do povo estejam acima do lucro. E a saúde pública? Não seria mais fácil combater uma pandemia se metade do orçamento do Governo Federal não tivesse comprometido com o pagamento de juros de uma dívida pública, que é, na verdade, um mecanismo de transferência dos nossos recursos para os bancos? Sim, seria, e assim será.
Será, mas não por obra divina nem sem esforço organizado. A transformação da sociedade capitalista em sociedade socialista, especificamente a derrubada da primeira e a construção da segunda, é possível apenas pela mudança da classe que está no poder, a saída da classe dos capitalistas para que este poder seja assumido pela classe trabalhadora.
Para uma classe retirar a outra do poder e tomá-lo para si é necessária uma revolução social. Qualquer projeto político hoje, depois de 11 anos de uma crise econômica sem solução, que não proponha uma revolução socialista e a tomada de poder pela classe trabalhadora é um projeto político de manutenção do sistema capitalista, portanto, um projeto de exploração, de fome e de mortes.