130 de anos do Primeiro de Maio

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Manifestação operária que reuniu 60 mil no 1º de Maio do Rio em 1919. Revista da Semana/CPDOC

 Por Felipe Annunziata, Rio de Janeiro.

“Companheiros, hoje não é dia de festas, foguetórios, bailes etc., mas sim um dia de protesto, de irmos pedir aos senhores contas do sangue de nossos irmãos derramado para nossa redenção; a estes senhores desta sociedade sem igualdade e sem liberdade. Eles morreram para nos libertar dos grilhões destes algozes. Continuemos as obras iniciadas por eles para breve depararmo-nos na estrada da salvação. Ai de vós, senhores, que dia menos dia recebereis os castigos de tantas carnificinas que haveis praticado.”

Jornal O Graphico, Primeiro de Maio de 1916. Jornal organizado pelos operários tipógrafos do Rio de Janeiro.

Foi num congresso operário de Paris, em 1889, que se definiu a data de hoje como um símbolo da luta operária internacional. Nesta data, três anos antes, operários de Chicago, nos EUA, haviam iniciado a luta pela jornada de 8 horas. Durante vários dias fizeram greves e manifestações e ao final tiveram suas lideranças executadas pelo governo estadunidense.

O Primeiro de Maio foi idealizado nesse período como um dia de lutas e greves pela pauta da jornada de 8 horas e em memória dos mártires operários de Chicago. Em todo o mundo, a partir de 1890 o primeiro dia do 5º mês do ano era data certa de luta e memória da classe operária no mundo.

Em nosso país, a data passa a ser lembrada já a partir de 1891. Com a escravidão recém-abolida e uma indústria pequena, nosso país ainda engatinhava no movimento operário internacional, mas já carregava no seu DNA séculos de tradição luta e organização contra a exploração do sistema escravocrata. As primeiras comemorações ainda são solenidades e procissões organizadas pelas associações operárias, algumas já de caráter sindical.

Naquela época as greves são vistas como casos de polícia. Os operários e operárias trabalhavam 14 ou 16 horas diárias e o trabalho infantil era largamente utilizado. Assim como no mundo, o Primeiro de Maio era visto como um símbolo da luta contra essa injustiça e um momento de lembrar da memória dos que morreram na defesa dos trabalhadores no Brasil e no mundo.

Vai ser a partir de 1900 que o Dia do Trabalhador toma uma forma de luta nas ruas no Brasil. Mas ainda vão ser mantidas as cerimônias da década anterior. Era comum a visita a túmulos de militantes operários mortos no Rio de Janeiro. Mas as procissões ganhavam cada vez mais a cara de passeatas. Faixas de protesto contra os governos e os patrões se espalhavam.

Como não era feriado, o dia era um dia de greve. O governo brasileiro e os patrões tentaram reprimir a todo custo isso. Vendo que não tinha como, a partir de 1910 a burguesia brasileira e o governo tentam se apropriar da data de luta dos trabalhadores. As empresas passam a dar folga aos operários para evitar as greves. Os patrões organizam festas, campeonatos de esportes e piqueniques para convencer os seus empregados a não irem às manifestações convocadas pelo movimento sindical.

Nesse período, os editoriais dos principais jornais do país tentam transformar o Primeiro de Maio como o “Dia do Trabalho” e não do trabalhador. Para eles a data deveria significar a “comunhão” entre o operário que produz tudo e os patrões “que investem e dão empregos ao povo”. Em 1925, o governo federal decreta a data como feriado na tentativa de desmobilizar qualquer manifestação.

Mas mesmo com essa ofensiva as manifestações ganham corpo nas grandes cidades. Os operários que ganham folga aproveitam para ir às manifestações de rua, os que não ganham entram em greve.

No espírito revolucionário iniciado na Revolução Russa de 1917, em 1919 os jornais da época relatam que o Primeiro de Maio reuniu 60 mil operários e operárias na Praça Mauá, no Rio. Foi a maior manifestação no Dia do Trabalhador até a Era Vargas. Nos anos anteriores os atos já reuniam uma média de 10 mil pessoas.

Estava claro para burguesia que esta data era um símbolo da luta da classe operária. Um dia para lembrar dos que lutaram em defesa dos direitos dos trabalhadores e também de lutar por uma nova sociedade que supere o capitalismo e acabe com a exploração do homem pelo homem.

Em 1930, convocando para a manifestação do Primeiro de Maio daquele ano, o PCB (Partido Comunista do Brasil – Seção Brasileira da III Internacional) afirmava em seu jornal A Classe Operária:Nesta vasta senzala a que procuram reduzir o movimento proletário os senhores da burguesia no poder, para melhor se venderem ao capitalismo estrangeiro, é preciso que o nosso 1º de Maio seja a manifestação mais positiva de nossa força e de nossa consciência de luta”.

Fronte do Jornal A Classe Operária de 17/04/1930. Fonte: marxists.org/portugues

Este ainda é o chamado do Primeiro de Maio nos dias de hoje. 130 anos depois após muitas conquistas, vemos a burguesia querer impor ainda mais a exploração do povo. Nessa pandemia este dia de luta evidencia a escravidão assalariada a qual foi submetida a humanidade. Dezenas de milhões são demitidos em todo o mundo. A fome e a falta de saúde pública é a realidade de milhões de brasileiros.

Este jornal busca manter vivo o espírito de luta e de combate às injustiças iniciados por esses trabalhados a mais de um século. Que neste ano lembremos da memória daqueles que durante estes 130 anos deram suas vidas e seu esforço no enfrentamento ao capitalismo. Continuemos com esta luta, que cada vez mais é a única saída para humanidade viver dias melhores e de dignidade.