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sábado, 5 de outubro de 2024

Ceará é o terceiro estado com mais mortes de Covid-19

Foto: reprodução

Claudiane Lopes
Ceará

O novo coronavírus chegou ao Brasil no mês de março, mas não atingiu os 27 estados brasileiros da mesma maneira. Segundo dados das Secretarias Estaduais de Saúde, foram 25.935 mortes provocadas pela Covid-19 com 418.608 casos confirmados da doença em todo o país até este sábado (23). Os três estados mais afetados formam, em primeiro lugar, o estado de São Paulo, em segundo o Rio de Janeiro e em terceiro é o Ceará.

O estado do Nordeste amarga mais de 37 mil pessoas infectadas com a Covid-19. Mais da metade se recuperou, porém são 2.671 pessoas mortas, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado. Os novos casos e novos óbitos são registrados de acordo com a data de confirmação, mediante o resultado dos exames.

O dado não significa que as mortes tenham ocorrido nessa data, mas que houve o resultado do exame com a confirmação de que o paciente tinha Covid-19. Mas em muitas mortes não foram realizados os exames, e, assim, os casos estão subnotificados, fazendo com esses dados sejam muito maiores que o que se apresenta oficialmente.

Áreas pobres são as mais afetadas

A maioria dos casos foram comprovados na periferia da capital cearense. O bairro da Barra do Ceará está no topo da lista dos bairros com mais mortes de Covid-19. Em apenas um mês, o número de mortes teve um aumento de sete vezes, indo de seis para 45 mortes. O segundo bairro com mais óbitos é o Vicente Pinzón (35), que apesar de ser vizinho de bairros da elite cearense, como Meireles, Aldeota e Varjota, amarga um dos piores Índice de Desenvolvimento Humano da Cidade.

É o caso de Maria Lúcia, 27 anos, que vive no bairro da Barra do Ceará com o marido e dois filhos pequenos, os dois estão desempregados e têm apenas como renda familiar o auxílio emergencial. A lista dos dez pontos com maiores números de mortes por Covid-19 segue com Cristo Redentor (31), Cais do Porto (25), Vila Velha, Carlito Pamplona, Granja Lisboa (22 cada), Quintino Cunha, Planalto Ayrton Sena e José Walter (20 cada). Todos são bairros populares e estão na periferia de Fortaleza. Meireles, a título de comparação, tem 19 mortes, igualado a Mondubim e São João do Tauape. Já a Aldeota tem 18.

“Nós pobres estamos passando por muita dificuldade. A gente recebe esses 600 reais do governo, mas para quem vive de aluguel, isso não dá para nada, pois paga o aluguel, o gás de cozinha, a comida e pronto acabou o dinheiro. Essa crise que estamos passando é muito pesada, pois veja, meu marido está desempregado há dois anos e com a idade avançada dele é mais difícil, como viver desse jeito, esse governo do Bolsonaro quer matar a gente, seja com o Covid ou de fome” afirma Maria José da Silva, do bairro do Quintino Cunha em Fortaleza.

Bairros pobres da periferia e com pouca infraestrutura de habitação são os mais afetados. Foto: MLB-Ceará

Mas com os dados podemos perceber que o avanço dos óbitos nas áreas pobres demonstra claramente que o vírus é mais cruel para quem vive em situação de vulnerabilidade social. A Covid-19 pode até não escolher raça, gênero nem classe social, mas as mortes pela doença têm tido alvo certo: as áreas pobres da cidade.

São várias famílias que dividem o mesmo teto, e assim ficam impossibilitados de fazer o isolamento social, pois vivem em moradias precárias, com falta de saneamento básico, com falta de água potável em alguns bairros, pela falta de acesso à saúde pública e a comprar medicamentos. Muitos não podem nem fazer o isolamento social, continuam trabalhando para levar o sustento para casa, e assim, quando saem, acabam levando o vírus para toda família.

O déficit habitacional e a ausência de políticas sociais são decisivos para o avanço da pandemia. Porém, o sistema de saúde público já não tem a capacidade de dar resposta diante de tantos casos, e isso pode explicar o aumento de óbitos na periferia, que tem pouco acesso à saúde. Temos uma doença que se transmite por gotículas, superfícies, mãos e com pouca higienização, saneamento básico e água nos bairros populares, a taxa de contaminação tende a ser maior nesses locais.

O avanço da doença na periferia demonstra com mais profundidade um problema social que é histórico. Em comunidades de baixo poder aquisitivo, com habitações precárias, muitos habitantes por domicílio e sem acesso à água potável, o isolamento se torna muito mais complexo do que em áreas nobres da cidade. Nessas regiões é possível estar em casa com internet, alimentos providenciados, e não precisa se preocupar com a sobrevivência. Essa realidade é retratada através de óbitos dos bairros pobres da capital cearense.

Rede de Solidariedade do MLB no Ceará. Foto: MLB-Ceará

“Lockdown” e solidariedade do povo pobre

O governo do estado e a prefeitura de Fortaleza decretaram o “lockdown”. São medidas mais rígidas e entraram em vigor desde do dia 08 de maio. Na capital, será decretado o bloqueio total das atividades comerciais não essenciais e medidas para restringir a circulação de pessoas e o tráfego de veículos. O isolamento social é necessário para conter a propagação do novo coronavírus e, assim, “salvar vidas”.

As epidemias têm essa capacidade de revelar e potencializar as nossas desigualdades sociais e econômicas, e que, diante de mais uma crise do sistema capitalista potencializa mais a pobreza de milhares de pessoas. E estamos vendo isso agora em Fortaleza e no interior, uma velocidade de propagação da Covid-19, principalmente nos bairros mais pobres.

O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) no Ceará iniciou a sua Rede Solidária no final do mês de março e até hoje ajudou 480 famílias em três cidades: Fortaleza, Caucaia e Juazeiro do Norte. Essa iniciativa popular em cestas básicas, material de limpeza e kit de higiene, além de doações em recursos financeiros, com a finalidade de ajudar famílias periféricas que vivem em bairros pobres e favelas que são os mais vulneráveis durante o isolamento social durante a pandemia de Covid-19.

A crise sanitária de proporção mundial trouxe um ensinamento coletivo, que “Só o Povo, salva o Povo”, é isso que representa esse exemplo do MLB que já ajudou milhares famílias no momento de tanto sofrimento para essas pessoas.

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