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domingo, 24 de novembro de 2024

Complexo do Alemão: governos tentam matar o povo de doença, fome ou tiro

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ALVO – Complexo do Alemão, um dos maiores conjuntos de favelas no Rio onde moram dezenas de milhares de trabalhadores. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Fabiano Ferreira

RIO DE JANEIRO – Em meio a pandemia, diversos trabalhadores se levantam ainda de madrugada para expor-se ao risco de contágio a preço de nada. Sim, porque apesar das cientificamente corretas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que todos nos mantenhamos em nossas casas, a realidade brasileira é que segundo dados do IBGE, mais de 40 milhões de pessoas não podem ficar em casa sem uma garantia de fonte de renda para poder fazer coisas básicas como se alimentar e se higienizar adequadamente. Trata-se de trabalhadores que normalmente já recebem pouco, mas que sem nada morrerão. Trabalhadores de serviços essenciais ou não, com ou sem carteira assinada, todos submetidos à mesma lógica.

No Complexo do Alemão, um dos maiores conjuntos de favelas localizado na zona norte do Rio de Janeiro, esses trabalhadores – como muitas vezes antes da pandemia – são obrigados a fazer esse trajeto no meio de uma violenta troca de tiros que teve direito até a lançamentos de granada. Começando às 6 horas da manhã normalmente, são operações policiais porcamente planejadas e que só trazem mais violência, morte, medo e transtornos mentais e morais pra quem é submetido a essa realidade.

Um morador do Complexo, ativista e fundador do Coletivo Papo Reto, Raull Santiago deu o veredito do que significa para a população periférica uma ação desse tipo num momento como esse: “Em meio à pandemia, uma operação policial na favela. Aqui mesmo onde falta água e a fome se faz presente… vejam, essa foi a principal forma que o estado dialogou com o nosso momento atual. A falsa ideia de guerra contra as drogas, que não transforma realidades de forma positiva e aumenta a violência. Lastimável. Se não morrer de vírus ou de fome, te matarão com tiros de fuzil, em nome de uma segurança pública que não inclui nosso povo.”

Entre denúncias de brutalidades praticadas pelos policiais, como arrombamentos, dano a veículos dos moradores e pilhagens dos pequenos comércios da região – como se já não bastasse o prejuízo provocado pela redução das vendas – o resultado de uma das operações, realizada no dia 16 de maio: 13 mortos, dos quais apenas um foi identificado, supostamente sendo chefe do tráfico de drogas de outra comunidade, o Pavão-Pavãozinho.

Relata-se, ainda, que um dos mortos teria sido assassinado a facadas – o que evidentemente contraria a versão oficial da PMERJ de que teria havido confronto com uma “reação aos ataques feitos pelos criminosos”. Não bastando a carnificina e os problemas psicológicos e morais que a acompanham, em torno de 1800 moradores da região dormiram sem luz em suas casas devido aos danos provocados pelo tiroteio às fiações elétricas.

E isso continuou mesmo depois do Ministro do STF Edson Fachin ter determinado, no dia 5 de junho, o fim das operações no meio da pandemia. No dia seguinte a decisão a PM fez mais uma operação no complexo e iniciou um tiroteio numa das ruas do enorme complexo de favelas.

ORGANIZAÇÃO – Ação dos moradores do Alemão no combate à COVID-19. (Foto: Reprodução/Coletivo Papo Reto)

COVID-19 Também é Outro Drama na Vida dos Moradores

O Jornal Voz das Comunidades, criado pelo também ativista e morador do Complexo, diante da completa incompetência do poder público tomou a inciativa de, em parceria com médicos da Clínica da Família Zilda Arns, responsável por atender a região, criar um painel de dados sobre a propagação da COVID-19 nas favelas do Rio de Janeiro.

Segundo os dados de ontem (12), o Complexo do Alemão já contabilizou 104 casos confirmados e 37 óbitos pela doença, demonstrado a indiscutível necessidade de se estabelecer o isolamento social horizontal – ou seja, obrigatoriedade de que todos permaneçam em casa, independente da condição médica ou de idade. A medida é condição necessária para que se possa ter qualquer esperança de controle da transmissão do vírus no Complexo.

Entretanto, de um lado temos o presidente anti-povo, genocida que faz todo o possível para desgraçar ainda mais a vida da população pobre: atrasa de maneira injustificada, absurda e criminosa o pagamento do auxílio emergencial – cujo valor já é insuficiente pra garantir o mínimo aceitável – necessário pra garantir as condições materiais, econômicas do isolamento.

De outro lado, temos a polícia chefiada pelo governador Wilson Witzel que não mede para bater todos os recordes possíveis de letalidade, já tendo alcançado alguns desses méritos no ano passado, inclusive com uma operação no Complexo da Maré que também deixou 13 mortos – maior número em uma única operação desde 2011.

Juntos, Witzel e Bolsonaro promovem um cerco completo ao povo pobre. Bolsonaro quer garantir que o povo morra ou de fome ou doente. Witzel quer garantir que morra na base da bala ou mesmo doente – afinal, para se proteger dos tiros, todos se aglomeram desesperadamente, e obviamente sem cuidado nenhum para evitar contágio.

Wilson Witzel com medo de perder o mandato com o processo de impeachment iniciado na Assembleia Legislativa e buscando criar bases para sua sobrevivência política tenta apagar seu apoio dado num passado muito recente ao presidente genocida – que inclusive lhe serviu como alavanca para eleger-se. Agora, fala em preservar vidas e chega ao absurdo mentiroso e podre de, em entrevista recente no programa Roda Viva, ter dito que nunca foi chamado de genocida, como Bolsonaro. É uma óbvia mentira, mas falar a verdade nunca é demais: Wilson Witzel é um genocida, tal qual Jair Bolsonaro.

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