UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 20 de abril de 2024

A morte do Bando de Lampião: “Banditismo por uma questão de classe”

Tassio Sereno¹ e Tiago Bezerra²


Cabeças cortadas do bando de Lampião em exposição. Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

“Sobe morro, ladeira, córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
Quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava muitos hoje ainda falam:
‘Eu carrego comigo coragem, dinheiro e bala!’
Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente”

 

– Nação Zumbi & Chico Science 

BRASIL – Lampião foi uma das figuras mais emblemática da História do povo brasileiro. Como a maioria dos nordestinos, era pobre e sofria com o início de uma República que já nasceu Velha e com os mandos e desmandos do coronelismo. Também passou pelo início de outro momento histórico, A Era Vargas, marcada por golpes e a constituição do Estado Novo, um Estado de caráter notadamente fascista. 

Os eventos do início do século 20 são determinantes para a formação do operariado brasileiro, suas organizações políticas e o grande avanço dos ideais socialistas, espelhadas pela grande Revolução Russa de 1917. Além das organizações políticas, movimentos espontâneos surgiam, principalmente nos sertões, onde o povo sofria nas mãos dos coronéis, que controlavam a política usando o voto de cabresto, elegiam os representantes dos interesses da manutenção da propriedade privada e concentração da terra nas suas mãos. Nos Sertões os direitos trabalhistas não existam e o trabalho tinha características análogas à escravidão. 

É nessa vida sêca que o Virgulino Ferreira da Silva entra no cangaço e se torna o Lampião, O Rei do Cangaço. A história conta que Virgulino entra para o cangaço por causa de uma desavença com um dos vizinhos, Zé Saturnino, acerca de um animal. Como Zé Saturnino tinha parentes na polícia começou a perseguir a família Ferreira, ficou impossível de morar em Serra Talhada. A partir desse momento Virgulino e seus irmãos começam a sua vida de batalha. 

Ele só tinha ele mesmo pra se defender e com toda essa briga foram obrigados a se mudar para Alagoas. Nessa mudança a mãe dos Ferreiras morreu e cerca de 19 dias depois a polícia passa pela região e mata o pai de virgulino, sem ter culpa nenhuma, mesmo este sendo um homem pacato que não gostava de brigas. 

Daí em diante Virgulino entrou efetivamente para o cangaço, dizendo que “Já que derramaram um sangue de um inocente, eu vou matar até morrer”, assim ele concretiza seu ato e entra para as fileiras no bando de Sinhô Pereira.

Como morreu o Rei do Cangaço?

Lampião estava na grota de angicos, para descansar um pouco, e queria fazer uma viagem para Minas Gerais. Dentre outros objetivos, queria dar uma “Lição em Zé rufino, que quer passar de pato a ganso”.

Entretanto, Lampião e seu bando estavam para ser traídos. Joca Bernardes, que era um coiteiro³ de Corisco, avisou ao sargento Aniceto que Lampião estava no Angicos e que quem sabia sobre era Pedro de Cândida. Assim o sargento Aniceto mandou um telegrama para João Bezerra, dizedo que tinha boi no pasto. 

João Bezerra que era comandante da volante de Piranhas e estava em Pedra de Delmiro-AL, e com isso segue se reunindo com mais duas volantes para dar cabo do cangaceiro. João Bezerra mandou buscar Cândido e fez com que levasse as volantes na grota, porém Pedro não sabia exatamente onde Lampião estava, quem sabia era seu irmão Durval. 

Atravessando o rio eles chegam na casa da mãe de Pedro e faz com que Durval os levasse ao ponto exato onde estava Lampião e organizam o ataque. 

Na madruga do dia 28 de julho de 1938, Lampião jamais imaginaria que ali seria seu fim. A volante fortemente armada atacou o coito e seu objetivo era cercar os cangaceiros e matar todos, porém não conseguiu e um dos lados ficou sem ser cercado e por alí alguns cangaceiros conseguiram fugir. 

Foi um verdadeiro massacre, sem direito a defesa. Eles pegaram Lampião e sua turma sem preparo. Lampião levou um tiro na região lateral  e caiu mortalmente ferido, O rei do cangaço tombou na grota de Angicos, município de Poço Redondo, nesta mesma madrugada. 

A polícia massacrou os cangaceiros, finalizando na morte de Maria Bonita e  mais nove cangaceiros. Ao total morreram onze cangaceiros em Angicos, 09 homens e 02 mulheres, sendo todos decapitados. Suas cabeças foram expostas na cidade de Piranhas, como demonstraram de força do Estado, tentando assustar aqueles que se rebelassem contra o coronelismo. Os pertences ficaram com volantes e pouca coisa sobrou do Rei do Cangaço. O que  fica eternamente é a sua memória, sua luta, e seu legado. 

O que temos de lá pra cá é a manutenção da propriedade privada, o povo sofrido nos sertões do Brasil, os mandos e desmandos das elites locais e toda forma de repressão a qualquer tentativa de organização e contestação. 

Em pleno ano de 2020 pessoas morrem de fome, passam períodos de secas e estão sofrendo sem nenhuma política efetiva de combate ao CoronavÍrus. Chegamos na fase em que a COVID-19 está cada vez mais se espalhando e aumentando o número de infectados nos interiores e sertões.  

Vivemos tempos sombrios, não de Hoje, mas desde a manutenção da propriedade privada e a consolidação repressiva do capitalismo. Por isso lembrar de Lampião é, assim como na música de Nação Zumbi & Chico Science, lembrar que a mesma polícia que matou Lampião sobe morro e favela para matar os mais pobres e às vezes até os lutadores sociais, pelos interesses das elites do capital. Nos faz lembrar também a importância de termos organizações como o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas e partidos como a Unidade Popular pelo Socialismo, dispostos a levar a luta de classes até às últimas consequências, aglutinando as massas oprimidas a se mobilizarem de forma revolucionária pelos seus interesses de classe, com um propósito claro de construir o socialismo.

Hoje completa, exatamente, 82 anos da morte de Lampião e de seus companheiros na grota de Angicos, município de Poço Redondo no estado de Sergipe. Nesse local é celebrado uma missa anualmente em homenagem aos cangaceiros pela Sociedade do Cangaço com a direção de sua neta Vera Ferreira. Porém, por causa da pandemia do Coronavírus não será possível a presença dos penitentes e fãs do Cangaço. Mas será transmitida pela internet nas redes sociais do Museu da Gente Sergipana (https://www.instagram.com/museudagentesergipana_oficial/?hl=pt-br.) ao vivo.

¹ Tassio Sereno é artista de réplicas dos Embornais dos cangaceiros na madrugada da Grota de Angicos e leitor de A Verdade.

² Tiago Bezerra é militante do MLB, UP de Sergipe e professor de História. 

³ Pessoa que dá asilo ou proteção aos que estão sendo procurados pela polícia.

Outros Artigos

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes