Fernando Alves e Indira Xavier
BELO HORIZONTE (MG) – Mais de três meses após o decreto de isolamento em Minas Gerais, o estado caminha a passos largos para se tornar o centro da contaminação pela Covid-19 no país. Os diferentes protocolos adotados para o isolamento social não foram cumpridos corretamente. Belo Horizonte adotou uma política mais enérgica, com o prefeito Alexandre Kalil (PSD) mantendo apenas os serviços essenciais e orientando a população neste sentido.
No início, os resultados surtiram efeito, mas seriam necessárias outras medidas econômicas e sanitárias para que a população tivesse garantias para cumpri-las, como o tão falado auxílio emergencial condizente com a realidade econômica, subsídios às micro e pequenas empresas, suspensão do trabalho nas empresas e indústrias com a garantia dos salários e a manutenção dos empregos.
Prejudicando ainda mais o quadro de pandemia, o governador Romeu Zema (NOVO) seguiu pelo caminho de submissão à política do presidente Jair Bolsonaro, defendendo o isolamento vertical. Cobrado pela falta de políticas, o governador debochou da situação: “Nós temos observado em muitas regiões e cidades os casos existentes, ou até a existência de casos não justificados, de fechamento total do comércio, até porque nessa crise nós precisamos que o vírus viaje um pouco”.
Sub-notificações Escondem os Efeitos da Pandemia
O próprio prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, afirmou que “é um consenso que menos de 10% dos casos estão diagnosticados por falta de testes”. De igual maneira, a Secretaria de Saúde do Estado reconhecia que os testes estavam sendo feitos em um número bastante reduzido de pacientes, priorizando somente pessoas que já estão com um quadro de doença respiratória desenvolvida, ou seja, em pacientes que já estão entubados ou em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). Fora esses casos, só em profissionais da saúde que também apresentem os sintomas ou em óbitos considerados suspeitos.
Alertas Foram Ignoradas
Com tantas sub-notificações, confirma que não há controle sobre sobre a propagação do vírus. O demonstrativo da Fundação Ezequiel Dias – Funed, que possui o único laboratório publico para realizar exames para testar as contaminações é um outro confirma o descaso do governo. Como a instituição científica passa por um processo de sucateamento, apenas 12 técnicos realizam os testes diariamente e, apenas 200 exames eram realizados no início da pandemia.
Em 21 de abril, a Secretaria de Saúde do Estado apresentou um total de 44 óbitos e outros 73 mortes sub-notificadas, com 1.230 pessoas contaminadas e 76 mil casos de suspeitas. Em 8 de maio, o número de casos suspeitos já estava em 94.124 nas cidades mineiras, sendo 30 mil somente em Belo Horizonte. Mesmo com as projeções apresentando discrepâncias entre a realidade e suposições, as prefeituras e o governo seguiram ignorando os alertas, como os apresentados pela Fundação Oswaldo Cruz e por grupos de pesquisadores da UFMG.
Em 25 de maio, após 66 dias de duração da quarentena decretada pela Prefeitura de BH, o secretário Municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, anunciou o início do chamado plano de flexibilização do comércio. Desde então, a capital passou a ter um fluxo de movimento de pessoas indiscriminadamente na região central. Fato já registrado anteriormente em algumas regiões muito populosas da cidade, como Barreiro, Venda Nova e Noroeste, além de importantes cidades da região metropolitana, como Contagem, Betim, Nova Lima, Ibirité, Santa Luzia, Ribeirão das Neves, e do interior como Juiz de Fora, Ubertlândia, Montes Claros e Divinópolis.
Foi comum ver dezenas e até centenas de pessoas se aglomerando nas ruas comerciais e circulando livremente sem uso de máscaras e álcool em gel. Todas as 12 mesorregiões do estado já foram afetadas pela doença, alcançando 817 dos 853 municípios. Faltando três dias para o final de junho, somam 890 óbitos e 40.900 infectados.
É evidente a falta de políticas efetivas de proteção por parte dos governos, sobretudo para as camadas mais pobres, que são obrigadas a viver expostas à superlotação nos transportes e manter sua rotina de trabalho. Agora, com 92% dos leitos ocupados, a preocupação é o estado viver o colapso no sistema de saúde, os números de contágios e óbitos dispararem e Minas se transformar no epicentro da pandemia no país.