Milena de Souza
Movimento de Mulheres Olga Benário
GOIÁS – A política, principalmente no campo parlamentar, é um segmento historicamente masculinizado. O próprio voto feminino é uma conquista recente e as prefeitas, vereadoras, senadoras, governadoras etc. ainda são expressa minoria. Na própria presidência só tivemos uma e o seu segundo mandato foi interrompido por um golpe. Esse cenário apresenta de maneira nítida a necessidade de mais mulheres na política. Mas quais são essas mulheres? Com a pauta feminista desvinculada da luta de classes vemos um crescimento do feminismo liberal, por exemplo, e de pensamentos ligados a ele que apresentam uma ideia falsa e desonesta de que a ocupação de cargos por figuras femininas é amplamente representativa e suficiente. Mas quais as mulheres que queremos no poder?
A direita tem apresentado, e eleito, mulheres nos últimos anos. Figuras como Joice Hasselmann e Carla Zambelli. Essas figuras, que se colocam enquanto representativas por seu marcador de gênero, servem aos interesses da burguesia e do fascismo e não podem dar voz às reivindicações da classe trabalhadora, e, portanto, das mulheres dessa classe. São figuras que com seus projetos e falas endossam a manutenção de uma minoria rica, a exploração trabalhista, a violência de gênero, o encarceramento e o conservadorismo, tão violentos para a massa feminina do proletariado.
Dizer que queremos mulheres na política é necessário, mas mulheres em sua pluralidade: radicalizadas, negras, com deficiência, mulheres trans, da educação, da saúde, da cultura e principalmente mulheres que tenham em sua agenda de luta o objetivo principal de emancipação da classe trabalhadora e da construção do poder popular, o socialismo.
Se as esferas do poder fossem totalmente ocupadas por mulheres e essas seguissem uma política neoliberal de exploração, não haveria grande avanço. As mulheres que queremos na política constroem movimentos sociais, fazem trabalhos em seus bairros, conhecem as necessidades do povo porque fazem parte dele. São negras, travestis, lésbicas, indígenas, mães, cientistas, estudantes, moradoras de ocupação, periféricas, artistas, são mulheres em suas potencialidades diversas e alinhadas com a construção do socialismo e de uma sociedade onde a exploração não faça necessariamente parte da manutenção do sistema.