Yusuf Karataş, colunista e jornalista do jornal Evrensel, foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão por participar do ‘Congresso da Sociedade Democrática (DTK)’ em 2011.
Thales Caramante
MOGI DAS CRUZES (SP) – Por participar do Congresso da Sociedade Democrática (DTK) como representante do Partido do Trabalho da Turquia (EMEP Partisi), Yusuf Karataş, foi condenado a 10 anos e 6 meses de prisão.
Durante o congresso, participaram também representantes do AKP, Partido da Justiça e Desenvolvimento, organização do Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan.
O governo turco declara que Yusuf Karataş é “membro de uma organização terrorista”. Ele foi detido em julho de 2017 e preso por 57 dias. Mais tarde, foi libertado para aguardar julgamento que culminou na condenação na penúltima segunda-feira (21).
Representantes do AKP, no entanto, mesmo participando do mesmo congresso, não enfrentam nenhuma repressão ou questionamento direto do Estado.
Selma Gürkan: “Este é um processo político”
A Presidente Nacional do Partido do Trabalho (EMEP Partisi), Selma Gürkan, comentou sobre o julgamento. Para ela, “a condenação de 10 anos e 6 meses de prisão ao jornalista Yusuf Karataş não é senão um processo político do judiciário.
Gürkan argumentou que o julgamento é um processo de condenação da atividade política de partidos de oposição, pois “esse processo é ilegal do começo ao fim. Ele é baseado em alegações infundadas em nome de um interesse político.”
Ela complementou dizendo que é a condenação é injusta, pois “alguns parlamentares do AKP também participaram do congresso de fundação do DTK, no entanto, não foram investigados, quem dirá condenados.”
Enfatizando que a nova organização DTK busca debater os problemas democráticos do país, dando contraste para a situação étnica do povo curdo, Gürkan ressaltou que a militância e a atividade políticas não podem jamais ser consideradas como crime constitucional.
“Pensando em um amplo perfil de organizações de massas na Turquia, desde sindicatos, organizações democráticas, organizações de juventude, mulheres, intelectuais, acadêmicos e escritores, Yusuf Karataş, como membro do Partido do Trabalho, teve a tarefa de representar nosso Partido e nossas ideias, nossas expressões que colocam em questão as contradições da democracia em nosso país, incluindo uma posição política sobre a questão curda, de acordo com o programa do nosso Partido.”
A militante ainda considerou que “o processo de investigação é completamente ilegal e tendencioso. Os telefonemas de Karataş a Coordenação Nacional do nosso partido foi considerada ilegal, suas atividades no Fórum da Mesopotâmia foram também consideradas ilegais, até mesmo sua participação nas manifestações contra o massacre Roboski-Uludere foi considerada crime.”
Para finalizar, Gürkan condenou o julgamento de Karataş. “Condenamos completamente essa ilegalidade antidemocrática. Temos consciência que a verdadeira democracia virá com a luta da classe trabalhadora e de todos os oprimidos e oprimidas; nosso partido mais uma vez enfatiza nossa determinação.”
Jornalista segue denunciando terrorismo do Estado
Yusuf Karataş, mesmo após a condenação, não parou de denunciar os crimes terroristas do Estado Turco no jornal Evrensel. No sábado (26), o colunista publicou em uma reportagem contra a tortura e o genocídio da população curda.
A matéria denunciou que a prática de tortura continua atual na política do Estado Turco, “mesmo após trinta anos do ‘Atentado de Yeşilyurt’, quando curdos foram obrigados a comer excremento humano e duas pessoas foram atiradas de um helicóptero, a tortura segue sendo uma prática inalterada contra a população curda.”