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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

“Olha a banana! Olha a laranja! Olha o Banco do Brasil!”

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CONTRA A PRIVATIZAÇÃO – Trabalhadores protestam contra fechamento de agência no Mato Grosso do Sul. (Foto: Reprodução/Brasil de Fato)
Saque do Banco do Brasil demonstra a necessidade de uma grande ação de massas do povo em defesa de seus direitos.
Eduardo Oliveira
Professor de Economia e Pensamento Marxista do Departamento de Economia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e membro do Diretório Estadual da Unidade Popular Pelo Socialismo do Piauí.

TERESINA (PI) – O que leva uma instituição capitalista a comprar um título podre? Refaço melhor a pergunta: o que leva uma instituição que na sua essência busca incessantemente lucros, a comprar uma mercadoria que possivelmente não seja lucrativa? (Pelo menos é o que se sugere quando se classifica essa mercadoria como podre).

No 1º de julho, o Banco do Brasil anunciou a negociação de uma carteira de títulos de crédito, no valor contábil de R$2,9 bilhões, vendida ao BTG Pactual por R$371 milhões, cerca de 12% do valor total. Nesta negociação, alguns pontos saltam aos olhos, e neles, devemos repousar nossa inquietação. Vejamos!

Em primeiro lugar, vale destacar que a carteira de créditos negociada pelo Banco do Brasil era considerada “podre”, ou seja, segundo matéria no Valor Econômico, tratam-se de dívidas que excedem cinco anos e que, parte delas já encaram processos judiciais iniciados há até quinze anos. Ainda segundo a mesma reportagem, 98% das dívidas dessa carteira negociada já estavam lançadas em prejuízo, pelo próprio Banco do Brasil. Por que uma carteira, nestas condições, seria interessante ao BTG Pactual? Por que não somente o BTG, mas outras três instituições financeiras também se interessaram pela mercadoria “podre”, dando lances?

Outro ponto que chama nossa atenção trata-se do obscurantismo da negociação e que ainda persiste, mesmo com toda a repercussão na mídia. Não importa apenas saber se são títulos “podres”, mas também, que tipo de títulos são. Ou quem seriam os devedores destes títulos negociados? São dívidas de meros e reles mortais detentores de CPF ou seriam de pujantes CNPJs, irretocáveis e laboriosos capitalistas? Por que o ministro da economia quer manter tal negociação sob sigilo? Por que o próprio BTG Pactual recorreu à justiça para censurar o episódio, em se tratando de títulos “podres”? Que tipo de “podridão” é essa?

Sabe-se que o atual ministro da economia foi um dos fundadores do BTG Pactual. Sabe-se também que o mesmo ministro da economia já declarou diversas vezes, e de forma veemente, a sua ânsia de vender o Banco do Brasil, bem como diversas outras empresas públicas. Eis outro ponto a chamar a nossa atenção. Embora a negociação possa ser entendida como uma estratégia de se livrar de dívidas para facilitar uma possível venda do Banco do Brasil, por que logo o BTG Pactual ofereceu o melhor lance? Por que a referida instituição não esclarece a estratégia arriscada utilizada, inclusive para seus acionistas, a fim de oferecer-lhes transparência e segurança para continuarem sendo acionistas? Ao contrário, prefere recorrer à justiça, para censurá-la na mídia.

Uma outra questão a ser observada é… o que explicar, em meio a uma pandemia global, em um cenário em que os países necessariamente estão tendo que gastar para uma tentativa de minimização dos prejuízos econômicos e sociais, o governo brasileiro, por intermédio de seu ministério da economia, propor uma troca de R$2,9 bilhões, por R$371 milhões? Trata-se de no mínimo um contrassenso por dois motivos básicos:

1. A quantia de R$371 milhões a mais nos cofres públicos, considerando o volume na órbita dos bilhões que deveriam ser gastos nesta crise sanitária, chega a ser um valor até inexpressivo do ponto de vista de receita; e

2. O Banco do Brasil, 4ª empresa brasileira mais lucrativa em 2019, segundo a InfoMoney, não aparenta necessidade urgente desta negociação, em pleno período pandêmico, considerando seus lucros acumulados em 2019 (e nisto repousa nosso último ponto a ser apresentado a seguir).

Enfim, apresento uma última e bastante objetiva inquietação. O que explica – além do entreguismo, óbvio –, um governo e seu ministro da economia, querer vender uma empresa que figura entre as quatro empresas mais lucrativas de 2019?

Por fim, diante das inquietações aqui trazidas, precisa-se que a população tome consciência do cenário contrário ao interesse coletivo que tem se desenhado no país recente, e que esta se aproprie das compreensões necessárias para a luta por seus direitos e pelos recursos nacionais que ainda são seus.

Se não, ao contrário, nos limitaremos a acompanhar à entrega do país, como em fim de feira, mas com uma característica peculiar… Os produtos podres sendo vendidos aos podres.

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