Raphael Almeida
RIO DE JANEIRO (RJ) – Conhecida também como prévia da 2ª Guerra Mundial, a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) é um marco na luta antifascista. No começo do século 20, a Espanha ainda vivia sob um regime monárquico absolutista. Enquanto outros países europeus já tinham aprofundado a Revolução Industrial e a burguesia tinha se constituído enquanto classe dominante, a Espanha vivia sob mando do latifúndio, da aristocracia e da Igreja Católica.
Durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1919), o país viveu o primeiro boom econômico e industrial. Com a demanda têxtil, da metalurgia e siderurgia, os lucros cresceram enormemente e o número de fábricas instaladas aumentou, resultando numa migração dos trabalhadores do campo para se tornarem operários nas cidades.
Contudo, o pós-guerra fez o mercado espanhol entrar em declínio. Não tendo mais demanda, as minas de carvão foram fechadas e as companhias donas de estaleiros estavam atoladas de dívidas, já que as taxas de frete caíram e os navios construídos já não tinham mais pedido de transporte. As usinas siderúrgicas não encontravam demandas para seus produtos. Os proprietários de terra não conseguiam escoar sua produção. O desemprego agrícola aumentou o êxodo rural, arroxando ainda mais o salário dos trabalhadores nas cidades, que já enfrentavam graves problemas com o desemprego em massa.
Com o tempo, intensificaram-se as greves por melhores condições de vida. Temendo uma revolta em defesa da República, as classes dirigentes optaram, em 1923, por interromper a monarquia e substituí-la por um governo militar chefiado pelo Coronel Antonio Primo de Rivera.
A transição para o regime militar não melhorou a condição de vida na Espanha. Enquanto a qualidade de vida piorava, as manifestações se intensificavam. Seguindo essa mesma proporção, a ditadura fechava o cerco contra o movimento popular. Vendo que a ditadura militar tinha piorado a situação, a aristocracia pressiona para que Rivera renuncie ao cargo, mas já era tarde.
Nesse momento, a burguesia e os trabalhadores espanhóis defendiam o fim do governo militar, da monarquia e a convocação de eleições para o Parlamento. Graças à pressão, foi instituída a 2ª República Espanhola, em 1931, e convocadas eleições gerais para o final do mesmo ano.
Apoiado na classe média, Manuel Azaña Díaz é eleito presidente. Seu governo tinha elementos relativamente progressistas, entretanto, mostrou-se extremamente incapaz de resolver os graves problemas que o povo vivia no período pós-crise econômica de 1929.
Nesse período, os anarquistas da Espanha dispunham de grande respeito entre as massas trabalhadoras, inclusive dirigiam a segunda maior central sindical do país. No ano de 1933, novas eleições gerais foram convocadas. Os anarquistas organizaram uma grande campanha de “Greve de Voto”, orientando os trabalhadores a se absterem do processo eleitoral. Com isso, tendo apoio da classe média e da burguesia espanhola, a direitista Confederação Espanhola de Direitas Autônomas (Ceda) venceu as eleições, elegendo Alejandro Lerroux para a Presidência da Espanha. Com a vitória da Ceda, a Falange Fascista, que integrava a Confederação, passa a ocupar cadeiras no Parlamento.
Quando novas eleições presidenciais são convocadas, em fevereiro de 1936, os fascistas já tinham tomado o poder na Itália, com Mussolini, em Portugal, com Salazar, e na Alemanha, com Hitler. O Partido Comunista da Espanha, cumprindo a orientação estabelecida pela Internacional Comunista de construir a Frente Única, fez um chamado para a formação de uma frente com o Partido Socialista, os republicanos de esquerda, liberais radicais, sindicalistas e antifascistas. A frente não contou com a participação dos anarquistas, mas, ao final, estes fizeram campanha para ela. Já a burguesia espanhola, aliada aos monarquistas, o Exército, a Igreja, a Maçonaria, o latifúndio e os fascistas, organizaram a Frente Nacional para disputar as eleições parlamentares.
A Guerra Civil se Inicia
A Frente Popular vence as eleições e ocupa 60% do parlamento. Não aceitando a derrota, menos de quatro meses após as eleições, no dia 18 de julho de 1936, o general Francisco Franco, com apoio da burguesia espanhola, dos componentes da Frente Nacional e do fascismo europeu, principalmente de Hitler, insurge o Exército contra o governo republicano. O golpe militar começou no Marrocos, em Córdoba e Sevilha. Nos três primeiros dias, os golpistas já haviam tomado 25 cidades.
Porém, na madrugada de 19 de julho, as forças de Franco foram surpreendidas pela resistência popular em Barcelona. O Sindicato de Trabalhadores em Transportes tomou posse de armas encontradas em navios estacionados no porto e as entregou aos operários. Nas cidades onde o povo pegou em armas, como Madrid, Barcelona e outras cidades Catalunha, os fascistas não conseguiram se estabelecer.
Em pouco tempo, o país estava dividido entre fascistas e republicanos. O cenário de destruição tinha tomado a Espanha. Os fascistas europeus forneceram a Franco aviões, tanques, navios, armas de artilharia e de infantaria em grande quantidade. Hitler entregou aos franquistas uma companhia inteira de tanques e 200 instrutores de guerra alemães. O ditador nazista também ordenou que 10 mil homens da força aérea alemã bombardeassem os territórios republicanos, entre eles, a cidade de Guernica, onde um terço da população foi morta pelas forças fascistas. Já Mussolini, o ditador italiano, enviou 50 mil homens das forças armadas italianas contra os defensores da República.
A Igreja Católica também teve um papel determinante para o resultado da guerra civil ser favorável ao fascismo. A Igreja e os latifundiários espanhóis levantaram recursos e contrataram 75 mil mercenários marroquinos para atuar no exército franquista. No interior do país, padres mapeavam e entregavam aos fascistas nomes de pessoas defensoras da República, relatavam segredos de confissão e tudo que pudesse ser utilizado a favor das tropas de Franco.
Por outro lado, nas regiões controladas pelos republicanos avançava a revolução social: as terras foram coletivizadas, as fábricas eram dirigidas pelos próprios trabalhadores e seus sindicatos, os meios de comunicação estavam sob controle popular, a jornada de trabalho foi reduzida e a educação foi separada da Igreja (ensino laico).
“Para viver de joelhos, é melhor morrer de pé!
Sob direção da Internacional Comunista, um dos maiores movimentos de solidariedade já vistos na História da humanidade foi colocado em prática: as Brigadas Internacionais. Vindos de 53 países, mais de 45 mil combatentes, entre eles médicos, operários, engenheiros, camponeses, estudantes, músicos, poetas, soldados, fotógrafos e dirigentes comunistas ingressaram nas milícias populares e pegaram em armas na defesa do governo republicano. Conforme escreveu o poeta inglês W. H. Auden: “Vieram ofertar as suas vidas”.
Devido à operacionalidade de comunicação, optou-se por agrupar os Brigadistas por nacionalidades ou por língua. Estas unidades rapidamente se autointitularam com nomes relativos às lutas e heróis populares nacionais. Os franceses criaram o batalhão “Comuna de Paris”, os italianos o “Garibaldi”, os búlgaros criaram o batalhão “Dimitrov”, etc.
O povo que mais colaborou com a resistência espanhola foi o francês, que enviou mais de 13 mil combatentes. O Brasil também participou da luta com cerca de 30 patriotas, entre militantes do Partido Comunista, da ANL e antifascistas, sendo Apolônio de Carvalho o mais conhecido.
Sobre a resistência antifascista, Dolores Ibárruri Gómez, também conhecida como La Pasionaria, disse em discurso que entrou para a história: “Faremos todos os sacrifícios possíveis diante de consentir com as forças que significam um passado de opressão, um passado de tirania! Todos contra a reação! Todos contra o fascismo! Os fascistas não passarão!”.
Governos Imperialistas Sabotam a República Espanhola
Apesar de toda a solidariedade internacional antifascista, os governos burgueses europeus adotaram uma política que facilitou a vitória de Franco contra os republicanos. A França fechou suas fronteiras com a Espanha, impedindo que aeronaves, peças de artilharia e os mais de 10 mil canhões que a União Soviética enviou para os republicanos fossem utilizados contra os fascistas. Sem conseguir acessar o apoio logístico internacional, os republicanos antifascistas foram perdendo vantagem sobre as forças franquistas. Em outubro de 1938, os fascistas espanhóis lançaram um contra-ataque contra o Exército Republicano que resultou na morte de 50 mil soldados e 20 mil prisioneiros antifascistas.
Depois da derrota em Ebro e a moral renovada dos fascistas, era apenas uma questão de tempo a tomada da Catalunha. Franco tinha 340 mil homens a sua disposição e armas abundantes sendo continuamente supridas pela Alemanha nazista e pela Itália fascista. Já os republicanos tinham apenas 120 mil homens mal equipados, dos quais apenas 30 mil tinham rifles. O ataque fascista à Catalunha começou a 23 de dezembro. A ofensiva não podia ser contida. Tarragona caiu em 14 de janeiro de 1939. O governo mudou-se de Barcelona para Gerona. Barcelona caiu em 26 de janeiro. Após a queda da Catalunha, a resistência da República se desfez.
Doze mil comunistas foram levados à prisão, os dirigentes foram entregues a Franco. Nesse ponto, a guerra estava perdida. Na terça-feira, 28 de março de 1939, os fascistas entraram em Madri e, em 30 de março, toda a Espanha tinha caído.
O resultado da Guerra Civil Espanhola revela toda a vilania dos governos burgueses europeus, que de tudo fizeram para impedir a vitória das forças antifascistas apoiadas pela URSS, e todo seu desejo que o nazifascismo concentrasse sua sanha contra os comunistas e revolucionários. Porém, revela também que a derrota do fascismo depende da unidade e da luta da classe trabalhadora e de seus aliados e que não se pode confiar nem um tantinho assim no imperialismo e na burguesia.
Caros colegas, o cartaz com o qual vocês ilustram o artigo não foi um cartaz convocando a luta contra o fascismo, mas um cartaz fascista, especificamente dos assassinos fascistas da Falange que apoiaram o ditador Franco em seu golpe contra a legítima Segunda República Espanhola