A ação ocorre em repúdio a vídeos protagonizados por um professor da Universidade fetichizando a relação aluna-professor.
Redação São Paulo
Movimento de Mulheres Olga Benario
SANTO ANDRÉ (SP) – No final de julho deste ano, chegou ao conhecimento da comunidade acadêmica vídeos de conteúdo pornográfico protagonizados por Flamarion Ramos, professor de ética e filosofia política da Universidade Federal do ABC, com a temática aluna-professor encenado em uma sala de aula. Para as estudantes, ao participar da produção desses vídeos, o professor demonstra como enxerga a sua relação com as discentes causando constrangimento e insegurança às mulheres da instituição.
De fato, a pornografia incentiva comportamentos violentos, compulsivos, naturalizando tratamentos brutais contra as mulheres. Segundo a Sociedade Americana de Psicologia, a internalização da pornografia por garotas adolescentes leva ao aumento dos sintomas de depressão, ansiedade, transtornos alimentares, baixa autoestima e à tendência de serem vítimas de violência sexual, sem perceber que são atos de violência. Para os homens, os efeitos se expressam, sobretudo, na dependência de conteúdos pornográficos, disfunção erétil, dessensibilização diante de práticas violentas e tendência a depender de conteúdos cada vez mais pesados.
Por esse motivo, as entidades ressaltaram em sua campanha que ser contra a pornografia não é apenas uma questão moral. A pornografia é violenta e é uma indústria que lucra cerca de R$ 400 bilhões por ano com a exploração e objetificação dos corpos de mulheres e crianças, utilizando da violência verbal e física nos seus conteúdos, promovendo a naturalização desse tipo de comportamento contra a mulheres. Sites de pornografia apresentam vídeos de estupro, pedofilia e inclusive filmes da categoria revenge porn, em que ex-parceiros vazam vídeos íntimos como uma forma de se vingar da mulher após o término do relacionamento.
Conforme as estudantes entrevistadas, por ser referência, não apenas para a comunidade acadêmica, como também para a sociedade é imprescindível que a Universidade se posicione sobre o caso e se comprometa com a segurança das mulheres e que o professor seja penalizado por seus atos: “Consideramos incompatível com a postura de um docente que lida de maneira próxima com estudantes atuar em vídeos que sexualizam a posição das alunas. Não nos sentimos seguras com essa situação e exigimos o afastamento desse professor até que o caso seja apurado pelos órgãos competentes”.
Uma das ações da campanha foi a produção de um vídeo denunciando o caso, e abordando os problemas envolvidos na produção e consumo da pornografia. A denúncia obteve uma grande repercussão e foi inclusive compartilhada por páginas que combatem a pornografia.
Fruto da pressão das entidades, as estudantes conseguiram realizar uma reunião com a PROAP (Pró-Reitoria Assuntos Comunitários e Políticas Afirmativas) para denunciarem o caso à universidade e buscarem apoio também no meio institucional, exigindo que o professor seja afastado do corpo docente da UFABC.
Enquanto a denúncia segue em curso, o professor utilizou um grupo de Facebook da Universidade para, de maneira leviana e oportunista, comparar seu caso com atitudes homofóbicas, alegando ser vítima de perseguição e privação de seus direitos. Nos comentários, o docente ameaçou ainda processar estudantes que criticaram sua postura, classificando o repúdio à pornografia como difamação e calúnia.
Mais uma vez, o docente enfatizou postura não condizente com o cargo que exerce. Além disso, a participação do professor em vídeos pornográficos pode ser enquadrada na Lei 8.122/90 do estatuto dos funcionários públicos e federais, artigo 132, parágrafo V, como passível de exoneração por incontinência pública e conduta escandalosa.
O Jornal A Verdade tem denunciado a violência contra as mulheres pela indústria pornográfica e seu consumo. Este caso na UFABC, demonstra a importância da organização das mulheres para lutar contra a pornografia e as suas consequências. Até o momento, as mobilizações da campanha foram essenciais para pressionar a Universidade: “Não iremos aceitar nos sentirmos inseguras dentro da sala de aula, é nosso direito ter aulas com professores que nos respeitem e que não fetichizem a nossa vivência como discentes. Apenas com a nossa organização podemos garantir que nossas demandas sejam atendidas”, afirmaram as estudantes.