Velhas e novas oligarquias se enfrentam em Juazeiro do Norte

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OLIGARQUIAS – Famílias de latifundiários e capitalistas reacionários disputam o poder por Juazeiro do Norte. A Unidade Popular surge para questioná-las. (Foto: Reprodução/Arquivo)
Antigas e novas famílias tradicionais se enfrentam, a benção do Padre Cícero pesa até hoje sobre os Bezerra, assim como os da Cruz se beneficiam até nossos dias da Revolução de 30.
Sued Carvalho e Anne Cordeiro

JUAZEIRO DO NORTE (CE) – Em 1898, Cícero Romão Batista, o Padre Cícero, foi punido por sua persistência em continuar pressionando a igreja a respeito do milagre da beata Maria de Araújo que teria transformado uma hóstia em sangue, perdendo o direito de rezar missas e ouvir confissões.

Tendo ficado isolado dentro da igreja, o padre, já reconhecido e respeitado no então povoado de Juazeiro do Norte – distrito do Crato àquela altura – recorre a influência dos políticos locais para não cair no ostracismo e, quem sabe, conseguir pressionar o bispo do Ceará para retomar seu lugar.

A relação foi de benefício mútuo para ambas as partes, o Padre tornou-se protagonista da política da região e de imensa influência na política estadual e os políticos locais se fortaleceram ainda mais “sob a batina” do sacerdote, venerado como santo pelos novos habitantes que chegavam ao ascendente povoado.

Um dos maiores beneficiados pelo apoio do padre foi um certo Major José Bezerra de Menezes, ancestral das primeiras famílias que chegaram a Juazeiro, sendo João Bezerra de Menezes, da mesma família, o terceiro prefeito da cidade da cidade após sua emancipação em Juazeiro do Norte.

Tanto o Padre Cícero quanto os Bezerra de Menezes eram ligados ao latifúndio. Diga-se de passagem, o padim tornou-se gradativamente o maior proprietário de terras de Juazeiro do Norte.

Até os anos 1930, só conseguia tornar-se prefeito ou vereador na cidade com benção do santo popular, dos coronéis e de seu braço direito, Floro Bartolomeu, tais quais os Bezerra.

O cenário começa a mudar nos anos 30, após o golpe que colocou Getúlio Vargas no poder. Na época, Padre Cícero foi devidamente visto como um representante das elites da República Velha e é afastado do poder com a indicação de José Geraldo da Cruz para a prefeitura. Nasce, então, uma nova oligarquia alinhada aos intentos liberais do governo federal, que procura descolar-se do poder do sacerdote. Pode-se dizer que Padre Cícero, com sua morte em 1934, deixa de ser uma autoridade política e transforma-se em um “totem”. Seu funeral atraiu 60 mil pessoas de todas as regiões do Nordeste demonstrou que não era possível ser tão agressivo com sua imagem. Doravante tanto os Bezerra, aliados de primeira linha de Cícero Romão e os da Cruz, inicialmente opositores do padim, passam a reivindicar sua imagem para fins populistas.

José Geraldo da Cruz foi prefeito cinco vezes, quatro delas indicado pelo interventor do Ceará durante o Estado Novo. Os Bezerra voltaram igualmente a ocupar a prefeitura mais uma vez com o a deposição de Getúlio Vargas. Carlos Cruz, filho de José Geraldo foi, também, uma vez prefeito já no século XXI e em 2016, Arnon Bezerra retoma o cargo, após uma longa carreira como deputado estadual e federal.

Em 2020, diante da ameaça de impugnação de sua candidatura, Arnon Bezerra (PTB) chegou a considerar seu sobrinho, Pedro Bezerra, para a disputa, porém, até o momento, permanece na disputa pela reeleição; Ana Paula Cruz (PSB), da família que historicamente enfrenta os Bezerra, disputa a possibilidade de seguir o caminho de seus ancestrais e procura aproveitar-se do fato de ser a única mulher na disputa para se vender como empoderada, embora seu empoderamento tenha sido herdado.

Outras oligarquias se espalham nas outras candidaturas, o preferido da extrema-direita Gledson Bêzerra (Não pertence a mesma família de Arnon) do PODEMOS, tem apoio de Gilmar Bender, empresário da região que ganhou muito poder nos anos 90, quando a economia de Juazeiro do Norte começa a se deslocar do artesanato e das romarias para o comércio em larga escala, serviços e especulação imobiliária, assim como Nelinho (PSDB) tem como vice Davi Macedo, filho de Raimundo Macedo, ex-prefeito que ganhou muita força na política local com o protagonismo ganho pelo MDB após a redemocratização em 1988.

A única candidatura não ligada às oligarquias municipais é a de Demontieux Fernandes (PSOL), que disputa pela terceira vez com o apoio da Unidade Popular pelo Socialismo (UP).

Antigas e novas famílias tradicionais se enfrentam. A benção do Padre Cícero pesa até hoje sobre os Bezerra, assim como os da Cruz se beneficiam até nossos dias da Revolução de 30, entretanto com a diversificação e expansão da economia novos grupos surgiram: Os Macedo, os Bender, Os Sobrinho e etc. Estas oligarquias vêm por mais de cem anos influenciando direta e indiretamente a política de Juazeiro do Norte em nome de seus próprios projetos, loteando a cidade entre si, em total detrimentos dos trabalhadores e trabalhadoras de Juazeiro do Norte.

A era das oligarquias em Juazeiro do Norte precisa acabar, as trabalhadoras e trabalhadores nada ganharam sob sua influência, qualquer membro das oligarquias ou qualquer candidato apoiado por estas que vencer não representará qualquer mudança para o povo, apenas mais do mesmo.