Por João Maranhão e Mariana Belfort, Militantes da UJR Pernambuco
Neste ano de 2020, comemora-se o ducentésimo aniversário de um dos maiores expoentes do socialismo científico no mundo. Friedrich Engels contribuiu, ao longo de toda a sua vida, para o desenvolvimento da teoria que guiaria toda a classe trabalhadora rumo a sua emancipação. Durante meio século, ao lado do seu grande amigo Karl Marx, estudou e denunciou a exploração do homem pelo homem ao longo da história até os dias atuais. Contudo, sua contribuição não se restringiu ao campo teórico, como também se mostrou comprometido com a prática revolucionária. Por isso, é tão importante homenageá-lo não apenas em seu aniversário, como também em todas as nossas lutas.
Nascido em berço de ouro, Engels, não conformado com a situação presente dentro das fábricas, na sua harmonia entre teoria e prática, se pôs a questionar, desde cedo, a hierarquia de poderes dentro do sistema de produção capitalista. A exploração que o seu próprio pai fazia e encorajava em diversas fábricas, a insatisfação e a miserável condição de cada um dos trabalhadores das fábricas Ermen & Engels, levaram, em 1844, o jovem alemão a escrever um livro denunciando “A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra”.
No processo de construção, dessa que seria uma de suas obras mais famosas, Engels coleta depoimentos de vários trabalhadores em Manchester, inclusive os que trabalhavam para o seu pai. Através desses depoimentos de primeira mão, ele denuncia para a sociedade da época o reflexo desse modo de produção doentio que afunda a maioria da população no desespero, enquanto enriquece poucos.
Após diversas observações sobre a realidade operária, Engels teve contato com a experiência da “colônia-modelo”, de Robert Owen e com as obras dos socialistas utópicos Saint-Simon e Fourier. Isso o levou a escrever em 1877, essa que seria uma das principais obras da sociologia marxista, o famoso “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico”. Dentro desse célebre texto, Engels vai dissertar sobre a evolução do socialismo como utopia que já não reconhecia o capitalismo e sonhava com o paraíso, para a ciência, onde se vê uma necessidade histórica de emancipação da classe oprimida.
Assim como Engels, Owen era um capitalista, dono de fábrica e também usou deste poder para contribuir com a evolução da teoria do proletariado. Ele usou dos artifícios de sua fábrica New Lamarck para instituir uma “colônia-modelo”, onde uma população operária, que somava mais de 2.500 pessoas, foi colocada para viver em condições mais humanas, em comparação com o que se tinha na época.
Apesar dos trabalhadores terem mais direitos e um turno de trabalho um pouco menos exaustivo, essa alternativa não acabou com a exploração e para ele essa ainda não era uma existência digna para o ser humano. Já Engels, como dono de fábrica, utilizou essa experiência pessoal das relações de produção no capitalismo para ajudar na pesquisa de Marx e na construção da obra que seria a denúncia mais completa do capitalismo, a maior obra da vida de Marx, O Capital. Temos aqui dois homens que não sofriam com o capitalismo, utilizando a sua posição nas relações de produção como instrumento para o desenvolvimento da teoria socialista.
Tendo o contato com toda a utopia do socialismo, promovida por Owen, Saint-Simon e Fourier, Engels sentiu a necessidade de sair dessa utopia e formar, junto com Marx, uma filosofia, uma sociologia, uma ciência traduzidas no socialismo científico. Portanto, partindo da análise dialética do mundo, promovida por Hegel, Engels enxerga os furos dessa perspectiva em direção a uma síntese do desenvolvimento histórico e das condições materiais entre a dicotomia de classes. Por meio das leis da dialética, de que tudo se relaciona, tudo se transforma, que mudanças quantitativas formam mudanças qualitativas e das lutas dos contrários, Engels concluiu que toda a evolução social e econômica que sofremos, foi necessária para chegarmos na classe oprimida que se emanciparia de uma vez por todas, o proletariado.
Em vista da não materialidade da dialética hegeliana, o socialismo científico necessitava uma filosofia que não mais tratasse a sociedade como um todo de forma subjetiva e idealista. Marx e Engels perceberam isso, e que era necessário não apenas a dialética, mas uma dialética material, que enxergasse a sociedade como um fato, uma ciência, daí o materialismo dialético.
Para chegarmos ao estágio em que a sociedade se encontra hoje, observou-se uma contínua sucessão dos modos de produção e de troca. Tudo começa com a acumulação de riquezas primordial que leva a criação de um mecanismo que rege os interesses da classe dominante, o Estado. É aí que surge o modo de produção escravista. Após a escravidão se tornar obsoleta, surge o feudalismo, onde agora, no lugar de donos e escravos, temos senhores e servos, que vem a ser ultrapassado com a evolução dos equipamentos de produção, formando nosso modo de produção atual, o capitalismo, a luta entre os burgueses e proletários.
Como produto dessas sucessões de modos de produção, viu-se um elemento comum a todos eles: a luta de classes. Inclusive, a primeira frase do primeiro capítulo do Manifesto do Partido Comunista diz que “a história de toda a sociedade até aqui é a história de lutas de classes”. Esse aspecto evidenciou-se como a principal consequência da instituição dos modos de produção burgueses, principalmente por meio da proletarização das massas, pelo aumento do desemprego (formando um exército industrial de reserva), da miséria, da sobreprodução, das crises e da concentração capitalista, em resumo, do capitalismo em si.
Ficou claro para Engels e para Marx que ao analisar a sociedade de forma materialista e dialética, é inevitável a derrota do capitalismo e a consequente emancipação do proletariado. Por isso, é um fato para nós marxistas, que o capitalismo vai se autodestruir pelas suas próprias contradições.
Engels foi um grande homem, um grande revolucionário e um grande companheiro. A sua contribuição para a emancipação da classe trabalhadora é imensurável. Engels foi, é e sempre será um companheiro que será lembrado como peça fundamental para a sociedade que tanto almejamos, a sociedade comunista. Suas obras são leituras indispensáveis e as Edições Manoel Lisboa oferecem a obra “Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico” com uma tradução acessível a um preço popular. Leia Engels lembre-se de Engels e viva como Engels.