Isabella Alho e Juliete Pantoja
Uma das mais severas consequências do sistema capitalista é a fome. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, 10,3 milhões de pessoas passam fome no país e 6.371 pessoas morrem de fome por ano, em média.
Por esse motivo, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) organiza há vários anos a campanha Natal Sem Fome e sem Miséria que denuncia a realidade de tantos brasileiros que são ainda mais invisibilizados nessa época do ano.
“Quando chega o natal, tudo o que vemos nos grandes meios de comunicação são propagandas de famílias felizes em torno de uma mesa farta. Crianças recebendo presentes e bem vestidas. Mas a triste realidade que precisamos encarar é que metade das crianças brasileiras vivem em situação de insegurança alimentar, situação semelhante à das mulheres que são a maioria em situação de miséria em nosso país.” disse Fernanda Lopes, do MLB do Pará.
Isso ocorre não porque produzimos pouco alimento, pelo contrário, produzimos tanto que sobra. De acordo com a com a FAO, estima-se que o país desperdiça 26,3 milhões de toneladas de alimentos por ano. O verdadeiro problema é o acesso a esses alimentos, ao gás de cozinha e a própria casa onde prepará-los. Sem moradia, sem emprego e sem a possibilidade de pagar por itens básicos de consumo, a fome é uma consequência imediata.
“Neste ano marcado por uma pandemia mundial, onde se agravou a realidade das famílias mais pobres, o MLB realizou uma grande Rede de Solidariedade a nível nacional, que foi responsável pela distribuição de toneladas de alimentos. E enquanto o povo se unia pra dividir o que tem, poucas famílias donas das grandes empresas e bancos vivem no luxo as custas da exploração dos trabalhadores. E o governo que deveria socorrer esses trabalhadores, teve como primeira ação da pandemia a liberação de mais de 1 trilhão de reais para os bancos, enquanto o auxilio emergencial, chegou tarde para muitas famílias e não representou nem ¼ do dinheiro enviado aos bancos.” relata Marcos Antonio, coordenador nacional do MLB e morador da Ocupação Pedro Melo em Natal/RN.
Veja vídeo do momento que o Movimento ocupou Carrefour no Demarchi, bairro do ABC paulista:
Mesmo aqueles trabalhadores que se mantiveram empregados convivem com a alta do preço dos alimentos e todo mês veem a feira do mês diminuir. Se já estava difícil comprar carne ou frango, agora itens básicos como o arroz chegou a custar R$45,00 (5kg) e 1 kg de feijão R$10,00. O que torna simplesmente impossível o consumo diário desses alimentos.
Por isso, neste ano o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas junto a centenas de famílias sem-teto ocuparam grandes redes de supermercados por todo o país denunciando a fome e reivindicando cestas básicas às famílias. O MLB ocupou dezenas de supermercados e realizou a Campanha do Natal Solidário em todos os estados onde o Movimento está organizado.
“Além destas reivindicações, somamos aos protestos contra o racismo e ao genocídio do povo negro, relembrando o espancamento até a morte de João Alberto Silveira Freitas dentro do supermercado Carrefour, ocupando em todo o Brasil sedes do grupo que teve um aumento de 24,1% em sua receita líquida, chegando a 80,73 bilhões de euros, além disso, explora seus trabalhadores e tem um histórico de diversos crimes racistas pelo Brasil todo.” disse Priscila Voigt, coordenadora do MLB em Porto Alegre/RS.
Esta ação do MLB fecha um ano de muita luta e resistência por condições dignas de vida e já deixa o recado para este governo que além de demonstrar um profundo desprezo com o povo pobre e trabalhador, acaba de anunciar que não irá construir nenhuma nova casa popular.
Como diz o ditado popular, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro!