UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 21 de dezembro de 2024

Mulheres argentinas conquistam a lei de legalização do aborto

Outros Artigos

Por Claudiane Lopes
Um dia histórico para as mulheres argentinas que lutam há décadas pela legalização do aborto em seu país. O Senado aprovou por 39 votos a favor, 29 votos contra e uma abstenção, a lei de interrupção voluntária da gravidez que permite o aborto livre até a 14ª semana. A lei anterior é a mesma que existe no Brasil, onde o aborto é permitido apenas nos casos de estupro e risco de morte para a gestante.
Com essa nova lei não haverá aumento de abortos, muito menos condenação para as mulheres que interrompe a gravidez, pois atual cenário era gritante, uma questão de saúde pública. O aborto é uma realidade na vida das mulheres de todos os credos e classes sociais. Por mais que a criminalização dificulte sua prática e crie riscos desnecessários para a saúde das mulheres, centenas de abortos são feitos todos os dias, no total são 39.000 mulheres hospitalizadas a cada ano por interromper a gravidez no país.
Essas mulheres geralmente são jovens, já tiveram filhos e seguem religiões cristãs. Mulheres comuns que, por dificuldades econômicas, situações de violência ou vulnerabilidade, planejamento pessoal ou qualquer outra razão, decidiram interromper uma gravidez, apesar das condenações morais e do cerco do sistema penal. O direito pela interrupção da gestação trata-se de uma questão de saúde pública: o aborto clandestino é a quinta causa de morte materna. Além disso, internações hospitalares causadas por abortos inseguros são recorrentes, custam caro e poderiam ser evitadas se a legislação garantisse condições dignas de atendimento nos serviços de saúde e acesso ao aborto legal e seguro.
A lei de criminalização do aborto estava em vigor no país desde 1921, pois era considerava a prática um crime. Agora a Lei é outra. As mulheres que decidem interromper a gravidez podem fazê-lo de forma legal, segura e gratuita pelo sistema de saúde, pois é um direito para toda cidadã argentina. As ruas de Buenos Aires foram tomadas por uma maré verde, a cor símbolo da luta feminista no país, explodindo alegria para todas e todos que empunharam essa bandeira.
Com a nova legislação, a Argentina é o primeiro grande país da região a permitir que as mulheres decidam sobre seus corpos e se querem ou não ser mães, como já fizeram Uruguai, Cuba, Guiana e Guiana Francesa (e regiões como a Cidade do México). Nas demais, há restrições totais ou parciais, como no Brasil. A iniciativa foi aprovada primeiro na Câmara dos Deputados há duas semanas, prevê que as gestantes tenham acesso ao aborto legal até a 14ª semana após a assinatura do consentimento por escrito. Também estipula um prazo máximo de dez dias entre a solicitação de interrupção da gravidez e sua realização, a fim de evitar manobras que retardem o aborto.
A legalização permite que cada mulher seja livre para tomar essa decisão de acordo com suas crenças e possibilidades. Essa luta não é somente das mulheres, à onda verde que tomou a Argentina, viam-se tantas pessoas – homens, pessoas cis e trans, crianças, idosos, mães, pais, avós, religiosos ou não. Defender a legalização do aborto é reafirmar a liberdade de crença em nosso país e o Estado Laico, assegurar que valores de parcela da população não impliquem no cerceamento do direito de decisão de todas as pessoas.
O aborto em sim não resolve esse problema social, são necessárias outras medidas, como educação sexual nas escolas, acesso gratuito aos anticoncepcionais para não abortar e, em última instância, aborto seguro e gratuito para não morrer. Coloca também outro debate na sociedade que reforça ainda uma cultura machista que faz recair sobre as mulheres quase integralmente a responsabilidade de evitar uma gravidez. Para prevenir o aborto, é preciso garantir políticas de saúde acessíveis e universais, que levem em conta os direitos sexuais e reprodutivos de todas as pessoas, a fim de diminuir também o número de gravidezes não-planejadas, mortalidade materna e mortalidade infantil. Forçar que uma gravidez não-intencional seja levada a termo é violar esse direito fundamental de todas as mulheres.
Em plena pandemia de coronavírus que milhões de pessoas foram vitimadas e perderam suas vidas, podemos dizer que vamos terminar o ano 2020 com uma boa notícia. Que a onda verde chegue logo ao Brasil no próximo ano.

 

Conheça os livros das edições Manoel Lisboa

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Matérias recentes