77 anos de Manoel Lisboa

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Manoel Lisboa, antes de entrar na clandestinidade era estudantes de Medicina na UFAL.

Por: Clóvis Maia1 – Recife

Quando em sua obra “O Papel do Indivíduo na História” Plekhanov afirma que “os grandes homens são aqueles capazes de entender e servir às grandes necessidades sociais de sua época” temos que se lembrar do sacrifício, ousadia, exemplo e dedicação de Manoel Lisboa de Moura. Manoel, que completaria 77 anos em 21 de fevereiro desse ano, foi um desses grandes homens que viu mais longe, resolvendo os problemas colocados pela sociedade, indicando as novas necessidades desenvolvidas pelas relações sociais naquele momento.

Tendo nascido em berço de ouro, como diz a expressão tão comum em nosso meio, o jovem alagoano conseguiu romper com toda uma tradição familiar que lhe jogava para ser mais um dos chamados privilegiados. Mas a sua consciência não permitiu.

Preso em 1965, um ano após o famigerado golpe militar em nosso país, assina um manifesto em prol do socialismo declarando-se Marxista-Leninista. Solto, funda com apenas 22 anos o Partido Comunista Revolucionário (PCR) por ter certeza de que o caminho para libertar o país das mãos do fascismo não estava nem no oportunismo ou no reformismo derrotista vigentes nas lideranças da época, que teimavam em frear as lutas populares de resistência. Manuel foi contra esses desvios na teoria e na prática.

Vivendo clandestinamente e sendo um dos homens mais procurados pelo regime em todo o Norte/Nordeste, Manoel (ou “Galego”, “Celso” ou outro codinome que o protegesse dos milicos) ousou recrutar, formar, ouvir e descobrir uma geração de militantes que, assim como ele, foram indispensáveis para a derrota da ditadura em nosso solo e que ainda estão por aí até hoje, espalhando as sementes do que foram os pensamentos de Manoel acerca do socialismo científico e das tarefas que eram traçadas para libertar nosso país do julgo imperialista.

Seqüestrado, torturado covardemente e assassinado em 1973, com apenas 29 anos, Manoel foi capaz de doar aquilo que de mais precioso tinha em troca da liberdade de nosso povo: sua vida. Ainda em meio à tortura não entregou seus companheiros. Foi fiel até o ultimo momento. Valente até o fim. Como afirmou o poeta Brecht, há aqueles que lutam toda a vida, os imprescindíveis, mas Manoel foi mais do que isso.

Ao construir o partido da classe trabalhadora ele nos legou a única ferramenta e o único meio do Brasil conquistar sua liberdade. Com seu exemplo Manoel apontou que não se pode ter meio termo na luta de classe, que não se pode amar uma pátria que nos mata de fome e que nossas revoltas precisam ser organizadas, objetivas para nos trazerem frutos.

Hoje, 48 anos depois de seu assassinato sua presença ainda se faz nas lutas e em toda a bandeira erguida, todo punho cerrado exigindo liberdade ou reparação. Nas lutas pela democracia ou pelos Direitos Humanos, nas palavras de ordem das manifestações e em cada publicação feita, cada muro pichado em defesa e exigência do Socialismo e da Revolução como saída pra toda essa crise a que nos jogou o capitalismo vemos o exemplo de Manoel Lisboa. Uma semente que nos ajuda sempre a lembrar qual o nosso futuro. Por isso não é nunca demais lembrar sempre que Manoel Lisboa Vive e está presente! Sempre!

1 Feito com trechos de O Papel do Indivíduo na História, de Plekhanov e Declaro-me Marxista-Leninista(https://averdade.org.br/wp-content/uploads/2020/05/Declaro-me-Marxista-Leninista-Formatado.pdf), depoimento de Manoel Lisboa em 1965, quando de sua prisão em Recife.