Por Leiliane Germano
Juiz de Fora (MG) – A pandemia tem rosto de mulher e, muitas vezes, é de uma mulher negra. Segundo o Instituto Pólis, a mortalidade pela Covid-19 entre mulheres negras é de 140 a cada 100 mil habitantes, enquanto a de mulheres brancas é de 85 mortes em relação ao mesmo número comparado. Mulheres negras são a maioria entre os usuários do SUS e têm menos acesso a um sistema de saúde de qualidade. E essa falta de acesso ficou ainda mais evidente na pandemia.
Além disso, as mulheres negras ocupam os postos mais precarizados no mercado de trabalho e são maioria nos ônibus lotados, nos metrôs, na linha de frente do combate à Covid-19 e nos índices de desemprego. Fatores que contribuem para que elas permaneçam em vulnerabilidade e sejam um maior alvo da contaminação pelo vírus.
De acordo com a PNAD Covid do IBGE, antes da pandemia, a renda do trabalho per capita de famílias chefiadas por homens brancos era cerca 2,5 vezes maior do que a de famílias comandadas por mulheres negras. Em agosto, com o auxílio emergencial, essa relação caiu para 2,1. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) apontou que as mulheres perderam, em 2020, cerca de 87,6 mil postos de trabalho. No mesmo período, a taxa de desemprego entre mulheres negras e indígenas atingiu 18,2%, maior do que de mulheres brancas (11,3%) e entre homens brancos (9,5%).
Uma pesquisa publicada pela FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) também mostrou que as mulheres negras são as pessoas que mais dependem do auxílio emergencial. Só em junho de 2020, mais de 4,2 milhões de mulheres negras saíram da extrema pobreza com os R$ 600, que impediram uma queda ainda maior do PIB. Agora, com o fim do auxílio emergencial e o impasse ao redor da renovação dos valores, muitas mulheres lidam com a instabilidade econômica e o risco da fome.
Enquanto isso, o Governo Federal propõe um benefício no valor de R$ 250 por mês, praticamente o mesmo que Bolsonaro propunha oferecer no projeto inicial. Uma quantia muito abaixo do que uma família brasileira necessita para viver com dignidade, pagando o mínimo, como aluguel, alimentação básica, água, luz e medicamentos quando necessário. Isso sem contar o baixo índice de vacinação que já favorece a proliferação de novas cepas do vírus. Tal situação gera um atraso da retomada da economia e mantém o cenário de contaminação pela Covid-19 em larga escala entre a população em situação de vulnerabilidade social.
Ampliar o acesso à vacina e cobrar o retorno do auxílio emergencial com um valor que garanta o mínimo para a sobrevivência das pessoas também é proteger a vida das mulheres. A luta pela vacinação em massa está relacionada ao combate ao racismo e à violência de gênero e classe.