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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Covid-19 contamina milhares de professores após retorno às aulas em São Paulo

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CONTAMINAÇÃO – Professores são obrigados a trabalhar em escolas sem estrutura, gerando a contaminação de milhares de trabalhadores (Foto: Ag. Senado / Reprodução)

Pablo Cavichini | Professor da Rede Estadual.

SÃO PAULO – De acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), já são mais de 1.000 casos de covid-19 confirmados entre trabalhadores da educação em 548 escolas. A última divulgação oficial realizada pelo Governo do Estado de São Paulo ocorreu há duas semanas, no dia 16/02, sendo contabilizado um número de 741 contaminações, além de 1.133 casos suspeitos. O retorno presencial das aulas ocorreu há apenas 4 semanas. 

No penúltimo sábado (20), morreu a professora Maria Teresa Miguel Couto, de 32 anos, no Hospital Municipal de São José dos Campos, primeira vítima da Covid-19 após o retorno presencial das aulas. A professora não fazia parte do suposto grupo de risco, sendo assim, foi obrigada a retornar ao trabalho presencial, uma vez que era jovem e não possuía comorbidades. Depois de contrair o covid-19, questão que possivelmente se deu em decorrência do retorno ao trabalho presencial, Maria Teresa ficou dez dias internada e faleceu por complicações da doença.          

A pandemia em São Paulo está fora de controle, mas mesmo assim o governador João Dória (PSDB) e seu secretário de educação, Rossieli Soares, continuam insistindo na volta às aulas presenciais. As escolas da Rede Estadual de São Paulo sempre foram alvo de denúncias por sua péssima estrutura e falta de investimentos, mesmo nos tempos antes da pandemia. As denúncias por falta de papel higiênico, sanitários sem portas e ventiladores quebrados eram recorrentes. Na pandemia não poderia ser diferente. Diversos professores estão reclamando das péssimas condições de trabalho e, principalmente, da grande mentira que é contada através das farsantes medidas sanitárias de segurança:

“O Wi-fi da minha escola parou de funcionar, sendo assim, todos os professores foram obrigados a darem suas aulas na sala de informática. Imagine uma sala pequena com 12 professores, sendo que somente 8 dos 15 computadores funcionam” denuncia um professor que prefere não ser identificado. Um outro colega ainda relata: “já que o Wi-fi da escola não funciona, sou obrigado a usar minha internet particular e dar aula do pátio da escola, que é o único lugar onde existe o sinal de celular”.

Diante de tal situação precária e absurda, os professores da rede pública decidiram entrar em Greve Sanitária. Diferente de outras greves comuns, a Greve Sanitária não significa a paralização do trabalho, mas sim a recusa ao trabalho presencial, dispondo-se a continuar trabalhando remotamente de casa. Os educadores também estão organizando carreatas como forma de protesto contra a reabertura das escolas.

Que não há condições para o retorno das aulas presenciais todos já sabem, mas, então, a quem interessa insistir em tal absurdo? Certamente a pressão da rede privada de ensino ocupa um peso enorme nessa tragédia anunciada. Em nome do lucro acima da vida e dos interesses pessoais acima da saúde pública, a grande maioria dos donos de escolas privadas continuam pressionando o governo pelo retorno presencial das aulas. Parece absurdo, mas alguns sequer tentam esconder tais intenções: “lamento como cidadão essa notícia. Isso tumultua o processo que as escolas já vinham fazendo” diz o presidente da Associação Brasileira das Escolas Particulares (Abepar), Arthur Fonseca Filho, sobre a decisão da Justiça de barrar a volta às aulas presenciais em todo o Estado de São Paulo. O Governo Dória e a Abepar trabalharam juntos contra a decisão judicial que suspendia a reabertura das escolas, conseguindo assim que o retorno presencial fosse concretizado.

Fica mais do que claro quem são os responsáveis diretos não só pelas mortes dos professores, mas também pelos mais de 250 mil corpos que se acumulam no chão sob o patrocínio dos grandes empresários que pagam pela omissão das autoridades públicas. 250 mil brasileiros e brasileiras morreram para que a engrenagem da economia “não parasse de girar”. Que futuro tem um sistema em que o povo serve a economia, mas a economia não serve ao povo?        

Em meio a tantas dificuldades para nós, trabalhadores e trabalhadoras, a pergunta que fica é: até quando nossas vidas ficarão nas mãos de meia dúzia de megaempresários? Até quando a ganância de alguns poucos valerá mais que a vida de centenas de milhares de pessoas?

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