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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Paralisação dos transportes por vacinação e salário se espalha no ABC Paulista

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NA LUTA Trabalhadores mantêm mobilização e paralisações em várias cidades do Grande ABC (Foto: Reprodução)

Hendryll Luiz e Victoria Magalhães

SÃO PAULO – Após um dia de paralisação geral dos condutores de ônibus nas cidades do Grande ABC na última segunda-feira (22), em defesa do pagamento de salários atrasados e pela vacinação da população, com integração dos condutores no grupo prioritário de vacinação, a mobilização dos trabalhadores não cessou. Na madrugada da quarta-feira (24) foi iniciada mais uma paralisação nas garagens da Viação Ribeirão Pires, Empresa Auto Ônibus Santo André – EAOSA, Empresa Urbana Santo André – EUSA, Viação São Camilo, Viação Triângulo, Viação Riacho Grande e Viação Imigrantes, todas empresas pertencentes ao Grupo BJS (Baltazar José de Souza), um grupo milionário dono de dezenas de empresas de transporte público, que conta com mais de mil funcionários e que segundo a Receita Federal possui dívidas federais da ordem de R$1 bilhão.

O Jornal A Verdade cobriu as paralisações nas cidades de São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá e São Caetano do Sul, realizando entrevistas com diversos trabalhadores e diretores do sindicato, divulgando a importância da luta e das reivindicações da categoria, que além das já citadas incluem o pagamento imediato do Convênio Médico e do Vale de adiantamento do salário, que com frequência são pagos em atraso. Um dos trabalhadores entrevistas foi João (nome fictício), motorista da Viação Riacho Grande que participou das paralisações.

A Verdade – Como aconteceu a paralisação dessa quarta feira e quais fatores levaram à greve?

João – Chegamos na empresa e o sindicato já estava organizado na frente da garagem, dessa forma fomos convocados para a paralização. Todos aderiram. Entramos em greve porquê é necessário que a nossas vidas sejam priorizadas. Mesmo estando em uma pandemia a empresa não pagou o nosso convênio médico, por isso não estamos recebendo atendimento, e o hospital ameaça despejar os trabalhadores ou familiares que usam convenio e estão internados por covid-19 ou outra doença. Isso é um absurdo!

Para piorar, nós estamos todos os dias na linha de frente, dirigindo ônibus lotados de trabalhadores, e ainda assim não temos nem previsão de sermos vacinados. Já morreram mais de 5 motoristas próximos da gente, sem falar dos familiares. Por isso, que segunda [22] a gente parou os ônibus nas avenidas, nós temos que ser vacinados imediatamente!

A Verdade – Os atrasos no pagamento, acontecem com frequência?

João – É o normal já. Agora mesmo: o vale do dia 20 está atrasado, eles primeiro pediram para adiar até o dia 23, e depois disso, recebemos mais um aviso de adiantamento para o dia 25. É sempre do mesmo jeito: a gente chega na garagem e tem uma placa de aviso, escrita a mesma coisa, a mesma desculpa, só muda o que vai atrasar esse mês. Isso vem desde antes desse vírus. Não recebemos nem pagamento, nem ticket-alimentação, vale, nas datas corretas. Não somos pagos todos de uma vez, é sempre escalonado, se eu recebo, você não recebe, vice-versa.

FALTA DE SALÁRIO – Apesar de manter altos lucros, a empresa tem atrasado salários e pago os trabalhadores de maneira escalonada (Foto: Reprodução)

A Verdade – Como vocês se sentem com esse descaso?

João – A gente sente que não existe lei para eles. No meio do ano passado, quando os setores estavam voltando, eles demitiram muitos motoristas, fiscais, inspetores, mecânicos numa só canetada. Fizeram isso alegando uma diminuição no número de passageiros em consequência redução das frotas, mas nós sabemos que isso não é verdade. Os ônibus continuam lotados de trabalhadores que assim como a gente, não podem ficar em casa e fazer o isolamento.

Pior que ser mandado embora ou pedir demissão é ter certeza que você não vai receber nada. Nem mesmo os trabalhadores que ganharam a causa na justiça estão recebendo. Não falta dinheiro para essas empresas, pelo contrário. Eles estão lucrando mais e ainda assim, querendo tirar da gente.

A Verdade – Então a organização dos trabalhadores é justa?

João – Com certeza. A empresa deveria agir corretamente, porque dinheiro o dono tem. O que eles fizeram com os trabalhadores foi crime, o desconto foi feito no pagamento de todo mundo aqui. Ele recebeu e o que ele fez com nosso dinheiro? Eles têm o jeitinho deles, como fizeram com outras viações: deixam de pagar e abrem falência de um serviço essencial que lucra muito. Ter medo de perder o emprego a gente tem, né? Mas é como se a gente já tivesse perdido. Por isso fizemos a greve!

Se a gente não lutar agora, pelo nosso pagamento, por vacinação já…. Se a gente não denunciar essas grandes empresas, o Governo do Bolsonaro e os governos estaduais e municipais, nada vai mudar. Lutar é a única alternativa que temos para colocar comida na mesa e defender as nossas vidas. Essa é a ordem do dia.

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