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domingo, 3 de novembro de 2024

A vacina e a ganância capitalista

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FILA DA FOME – Mesmo sendo o centro do capitalismo mundial, ainda se organizam filas de fome em Nova Iorque, Estados Unidos. (Foto: Reprodução/Andrew Lichtenstein)
A humanidade começa nos que te rodeiam, e não exatamente em ti.” – Valter Hugo Mãe: A Desumanização.
Luiz Falcão
Diretor de Redação do Jornal A Verdade

RECIFE (PE) – O vírus SARS-CoV-2 contaminou cerca de 130 milhões de pessoas e matou mais de dois milhões e meio de seres humanos. Somente nos Estados Unidos da América (EUA), principal e mais rico país capitalista do planeta, 520 mil pessoas perderam suas vidas devido à Covid-19. O Brasil é o segundo em número de mortes com 260 mil óbitos.

Celebrado pela burguesia como a época do desenvolvimento tecnológico, da quarta revolução industrial, da internet, das coisas e do 5G, vemos, em pleno século 21, um vírus obrigar governos a fechar fronteiras, indústrias, comércio, escolas, proibir viagens dentro do país e decretar lockdowns (bloqueios) e diversos toque de recolher.

Para justificar a inépcia, os governos burgueses dizem que a Covid-19 surpreendeu a todos. Porém, com a segunda onda causando mais mortes no mundo, uma terceira onda e novas mutações no vírus se alastrando por dezenas de países, esta falácia foi desmascarada.

Na realidade, o vírus da Covid-19 está longe de ser algo inexplicável. Há anos que cientistas e organizações internacionais alertam que as condições impostas pelo capitalismo à natureza e ao ser humano, além do aquecimento global e da piora as condições de vida, provocam o aparecimento de vírus que ameaçam a própria vida humana. Porém, a classe dominante, preocupada em aumentar as suas riquezas, fingiu nada saber.

Registre-se que em 30 de outubro de 2020, a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um trabalho intitulado “A Era das Pandemias”, no qual afirmou:

“Não há grande mistério sobre a causa da pandemia da Covid-19 – ou de qualquer pandemia moderna. As mesmas atividades humanas que impulsionam a mudança climática e a perda de biodiversidade também impulsionam o risco pandêmico por meio de seus impactos sobre nosso meio ambiente. As mudanças na forma como usamos a terra; a expansão e intensificação da agricultura; e o comércio, produção e consumo insustentáveis perturbam a natureza e aumentam o contato entre a vida selvagem, a pecuária, os agentes patogênicos e as pessoas. Este é o caminho para as pandemias”.

O trabalho destaca também que 70% das doenças emergentes no mundo, como Ebola e Zika, e quase todas as pandemias (influenza, HIV, Covid-19) são zoonoses, ou seja, causadas por micróbios que infectavam originalmente animais. E o surgimento dessas doenças entre as pessoas está acelerando – eles calculam cinco novas por ano. Os pesquisadores estimam que possam existir cerca de 1,7 milhão de vírus hoje desconhecidos tendo como hospedeiros mamíferos, em especial os morcegos – como ocorreu com a própria covid-19 –, ou aves. Destes, entre 540 mil e 850 mil poderiam ter a capacidade de fazer o salto das espécies e contaminar humanos.

Os autores do estudo esclarecem que não se deve culpar a natureza, mas “entender que o surgimento das doenças só ocorre porque estamos impactando o ambiente onde os micróbios estão quietos. O desmatamento, a expansão agrícola, o tráfico de animais nos aproximam deles”.

O relatório conclui que dar respostas a doenças após seu surgimento, em particular a rápida concepção e distribuição de novas vacinas e abordagens terapêuticas, “é um caminho lento e incerto, além de não evitar o sofrimento humano generalizado”.

Por sua vez, a diretora de Organização Mundial de Saúde (OMS), Dra. Maria Neira, em entrevista o ao jornal El País, explicou: “Ao derrubar a floresta para substituí-la por agricultura intensiva e poluente, os animais que vivem nesses lugares nos quais o homem não havia entrado sofrem profundas transformações. Aparecem espécies com as que não estávamos em contato e que podem transmitir doenças. O cultivo, com adubos e pesticidas que nunca tinham entrado nesse ecossistema, altera o tipo de vetores capazes de transmitir os vírus. O desmatamento é uma forma de derrubar essa barreira ambiental entre espécies, que nos protege de forma natural. Um exemplo claro desse fenômeno é o vírus do Ebola, que saltou dos morcegos frutívoros das florestas da África Ocidental para os humanos e desatou o contágio. O grave é que aconteceu o mesmo com a Aids e a Sars (Síndrome respiratória aguda grave). Cerca de 70% dos últimos surtos epidêmicos que sofremos têm sua origem no desmatamento e nessa ruptura violenta com os ecossistemas e suas espécies.”

Eis a realidade: entre 540 mil e 850 mil vírus ainda não conhecidos podem contaminar humanos e novas pandemias podem ocorrer. Não se trata de algo longínquo: no dia 20 de fevereiro, a Rússia informou à Organização Mundial da Saúde (OMS), os primeiros casos de contaminação em humanos de uma nova cepa do vírus da gripe aviária, chamada de H5N8, depois que um surto de gripe atingiu o local de trabalho, em dezembro do ano passado.

Vacina: Bem Comum ou Privado?

Com a tragédia anunciada causando mortes em todos os continentes, a classe dominante passou a prometer a “salvação” por meio da vacina, a imunização das pessoas e a destruição do vírus. Voltaríamos, assim, à “velha paz” e ao “velho normal”.

Engrossando o coro dos governos, não faltaram especialistas para afirmar que nunca uma vacina foi desenvolvida com tanta rapidez. Tentava-se, dessa maneira, esconder o caráter obsoleto e ultrapassado do regime capitalista, apresentando-o como um sistema perfeito e eficiente.

Ao ver as primeiras pessoas sendo vacinadas, a população mundial se encheu de esperança e de alegria e acreditou que a pandemia da Covid-19 estava realmente perto do fim.

A verdade, infelizmente, é outra. Os laboratórios farmacêuticos são, em sua imensa maioria, empresas privadas que pertencem a pequenos grupos de capitalistas e têm como objetivo propiciar lucros aos seus donos (acionistas). A consequência desse modelo é uma injusta e desigual distribuição da vacina no mundo.

Com efeito, os países mais ricos do mundo, embora sejam apenas 16% da população mundial, compraram mais de 70% das doses que serão produzidas este ano. Os Estados Unidos compraram vacinas para 230% da população e nos próximos meses receberão mais um total de 1,8 bilhão de doses. Lembremos que a população dos Estados Unidos é de 330 milhões. O Canadá comprou seis vezes mais vacinas que população do país, e o Reino Unido anunciou que vacinará até julho toda a população adulta.

Enquanto isso, no dia 18 de fevereiro, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que somente 10 nações (as mais ricas) administraram 75% de todas as doses da vacina e 130 países ainda não receberam nenhuma vacina. De acordo com a OMS, essa realidade vai perdurar: 90% da população de 70 países praticamente não têm possibilidade nenhuma de serem vacinadas em 2021. Pior: estudo da revista científica BMJ, divulgado em novembro de 2020, apontou que dois bilhões de pessoas, um quinto da população mundial, não serão vacinadas antes de 2022.

Nem mesmo as palavras do diretor geral da Organização mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, de que “o mundo está diante de um fracasso moral catastrófico e que o preço deste fracasso se pagará com vidas dos países mais pobres” foram suficientes para sensibilizar a burguesia mundial e seus governos a mudarem esse quadro. Nada está acima da sacrossanta propriedade privada e da busca incessante para enriquecer uma minoria de ricaços. Em resumo, a egoísta ideologia burguesa revela toda a sua perversidade ao impedir bilhões de seres humanos de serem vacinados por não terem dinheiro para comprá-la.

Detalhe: a prefeitura da cidade de Seul, capital da Coreia do Sul, informou que todos os seus cães e gatos da cidade com febre ou problema respiratório serão testados para Covid-19.

Lucro a Qualquer Custo

Assim, logo após a decretação da pandemia da Covid-19 no início de 2020, uma dezena de poderosos laboratórios da indústria farmacêutica iniciaram uma gigantesca operação comercial para faturarem bilhões com a venda das suas ações. Ao mesmo tempo, isoladamente, cada laboratório desenvolvia pesquisas e guardava a sete chaves suas descobertas sobre o vírus. A humanidade foi privada de importantes informações e os cientistas envolvidos nas pesquisas proibidos de darem entrevistas pelas chamadas cláusulas de confidencialidade dos contratos que assinaram. Após onze meses, a vacina foi anunciada, período em que morreram mais de dois milhões de pessoas.

Algumas perguntas, entretanto, são necessárias: se todos os cientistas estivessem trabalhando coletivamente, em equipe, compartilhando os estudos e as descobertas, quanto tempo se teria levado para produzir a vacina?

Se os dois laboratórios da China, um do Reino Unido, três dos Estados Unidos, dois da Rússia, etc., em vez de esconderem dos seus concorrentes as experiências e pesquisas, as compartilhassem em prol da humanidade, não teria a vacina mais eficácia?

O que aconteceria se os cientistas trabalhassem unidos, dividindo o conhecimento e formando um grande centro mundial com o objetivo de salvar vidas?

Não é evidente que, desse modo, teríamos a vacina mais rapidamente e com eficácia maior, o que permitiria salvar milhares de vidas?

É claro que uma vacina resultante desse trabalho coletivo não poderia ser uma propriedade privada, seria um bem comum colocado à disposição de todos os povos, de toda a população, vivesse ele na África, na Europa, na América ou na Ásia.

Além do mais, das 13 vacinas produzidas, nenhuma delas tem proteção para todas as cepas e linhagens do SARS-Cov-2 e o vírus da Covid-19 sofreu várias mutações[1].

Vejamos dois exemplos:

No dia 7 de fevereiro, o Ministério da Saúde da África do Sul, após verificar que a vacina da AstraZeneca não protegia da variante do coronavírus existente no país, decidiu suspender a vacinação.

Na cidade de Osnabrück, Alemanha, 14 idosos que receberam duas doses da vacina produzida pela Pfizer-BioNTech, testaram positivo para a variante B117 do coronavírus, descoberta pela primeira vez no Reino Unido. Com base nestes e em outros casos, os cientistas concluíram que a maioria das vacinas consegue impedir que o vírus cause quadros graves da doença, mas não impede que a pessoa seja infectada ou mesmo transmita o vírus. Vale ainda lembrar que nenhuma vacina do mundo garante proteção total. Pois, enquanto o vírus estiver circulando e sofrendo mutações há a possibilidade de doença até entre as pessoas imunizadas. Aliás, muitos acreditam que devido a insuficiente vacinação e as novas variantes do coronavírus mais transmissíveis e mais agressivas, a chamada imunidade de rebanho não será alcançada antes de 2022.

Apesar de tudo isso, a indústria farmacêutica capitalista, contando com a cumplicidade dos governos, se recusa a compartilhar os estudos sobre a vacina, impedindo a sociedade de ter um melhor e mais eficiente imunizante. Aliás, apresentam essa anarquia proveniente da concorrência capitalista como uma alavanca do progresso, quando na verdade, é um entrave ao desenvolvimento e causa mortes inteiramente evitáveis.

Laboratórios Privados e o Lucro com as Doenças

Prova de que nenhum sentimento humanista ou de progresso da ciência moveu os proprietários da indústria farmacêutica mundial foi a orgia nas bolsas de valores desde o início da pandemia. De fato, a cada aumento do número de mortes, os acionistas dos laboratórios comemoravam a valorização das ações. Stephane Bancel, um dos donos do laboratório Moderna, dos EUA, explicou este idolatrado “espírito animal”: “Quando preparei meu plano de venda das ações ainda não tínhamos injetado a vacina em ninguém. Não sabia de nada.”

Em 20 de novembro de 2020, o site Investnews, após o número de mortos ultrapassar um milhão e trezentos mil, e antes da produção de qualquer vacina, estampou uma manchete eufórica: “farmacêuticas de vacinas já ganharam 97 bilhões na bolsa”.

Em fevereiro, após mais de dois milhões de pessoas mortas no mundo, a excitação continuou com “ganho bilionário: farmacêuticas chegam a valorizar mais de 1.000% no mercado de ações. As empresas farmacêuticas que se dedicaram às pesquisas de vacinas contra a Covid-19 tiveram ganhos bilionários no mercado de ações.”

Ganhos de Farmacêuticas com a Covid-19
Fonte: The New York Stock Exchange, Estados Unidos

Novavax: alta de 1.558%, a US$ 8,1 bilhões

Moderna: alta de 585%, a US$ 49,4 bilhões

BioNTech: alta de 223%, a US$ 24,3 bilhões

Regeneron Pharmaceuticals: alta de 32,4%, a US$ 56,9 bilhões

Johnson&Johnson: alta de 11,5%, a US$ 428 bilhões

AstraZeneca: alta de 6,7%, a US$ 133 bilhões

Pfizer: alta de 5,9%, a US$ 204 bilhões

Sanofi: alta de 3%, a US$ 126 bilhões

A chinesa Sinovac, com sede em Pequim, mas com registro no paraíso fiscal de Antígua e Barbudo, vendeu por R$ 2,6 bilhões – 15% das suas ações – à Sino Biopharmaceutical Limitesd.

Dinheiro Público Financia Laboratórios Privados

Vale salientar que além de faturarem alto com a valorização bilionária das suas ações nas bolsas, os poderosos laboratórios da indústria farmacêutica receberam bilhões de dinheiro público para as pesquisas sobre a covid-19.

Relatório publicado pela Fundação KENUP, organização europeia que acompanha as pesquisas em Saúde, revelou que em 11 meses de pesquisa sobre a SARS-Cov-2, os governos investiram 93 bilhões de dólares nos laboratórios privados. 32% desse dinheiro foi do governo dos EUA, 24% dos governos da França, Reino Unido e Alemanha, e 13% do Japão e da Coreia do Sul.[2]

Logo, o “maior propulsor” para acelerar os investimentos dos laboratórios foi o financiamento público, o que deita por terra a lenda, de que sem a iniciativa privada não teria sido descoberta a vacina.

Tem mais: embora tenham financiado os laboratórios privados, os governos dos países imperialistas, provando a imensa subordinação à classe capitalista, assinaram contratos com cláusulas secretas que os impedem de ter conhecimento dos estudos, de divulgarem o preço pago por cada dose de vacina ou exigir a entrega nas datas estabelecidas, além de isentarem os laboratórios por qualquer efeito adverso das vacinas. Vale salientar que a proposta defendida pela Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC) de, diante da calamidade mundial, revogar a patente da vacina da Covid-19, foi imediatamente rejeitada e repudiada pelos governos imperialistas. Trata-se de mais uma prova de que os atuais governos agem e atuam como verdadeiros servos do capital; em troca recebem bons salários e propina para seus partidos nas campanhas eleitorais.

O Preço da Vida Humana no Capitalismo

Na realidade, as vacinas, como de resto os medicamentos produzidos pelos laboratórios para as doenças causadas pela própria sociedade capitalista, tornaram a indústria farmacêutica um empreendimento altamente lucrativo.

De fato, o crescimento do desemprego, o aumento da exploração dos trabalhadores, a elevação da jornada de trabalho, a falta de lazer, o sofrimento imposto aos que não conseguem um emprego e que não veem perspectiva de melhoria da vida de suas famílias, elevam o número de doenças no mundo.

A Covid-19 é, assim, mais uma que se soma a essa longa lista de enfermidades que acomete o ser humano na moderna sociedade capitalista. O chamado mercado da gripe, por exemplo, embora já exista vacina há décadas, movimenta vários bilhões de dólares por ano. Ou seja, os medicamentos, bem como as vacinas permitem imensos lucros à indústria farmacêutica e aos bilionários que têm ações dessas empresas. Dito de outro modo, enquanto que para 99% da população mundial, as doenças e os vírus são um tormento e significam a destruição de famílias inteiras e um imenso sofrimento, para a classe capitalista toda essa dor é apenas uma excelente oportunidade para ganhar dinheiro e enriquecer.

Tal é a lei do capitalismo: quem tem dinheiro tem direito a vacina, quem não tem espera a morte chegar por fome, pelo vírus da Covid-19 ou outra doença qualquer. Afinal, quantos já morreram por não terem sido vacinados?

O que interessa aos senhores do mundo, aos poderosos, à classe dos exploradores, é aumentar mais e mais riquezas, saquear nações e explorar trabalhadores e trabalhadoras.

Vê-se assim, que “aquele capitalismo de ‘rosto humano’ de que se tanto se falou em décadas atrás, não passa de uma máscara hipócrita.” (José Saramago, Cadernos de Lanzarote).

Deter a Carnificina Capitalista

Tal realidade impõe a qualquer pessoa preocupada com a sobrevivência da humanidade, se perguntar sobre o que fazer para, em vez de sepultar seres humanos, destruir esse arcaico e apodrecido sistema capitalista. Afinal, não são apenas vírus, bactérias e doenças que o imperialismo capitalista impõe aos povos do mundo.

Com efeito, a globalização capitalista, em vez de melhorar a vida dos trabalhadores, aumentou o desemprego, a miséria, e propagou centenas de vírus numa escala planetária. De acordo com a OIT (Organização Internacional do Trabalho), 255 milhões de postos de trabalho foram fechados durante a pandemia e 436 milhões de empresas tiveram seu funcionamento afetado. Em todo o mundo, 75% dos trabalhadores e trabalhadoras não têm acesso a proteções como auxílio-doença ou seguro-desemprego. Um total de dois bilhões de trabalhadores atuam na chamada economia informal sem salário fixo, proteção social ou qualquer direito. Desse total, 740 milhões são mulheres que durante o primeiro mês da pandemia, viram sua renda despencar 60%.

Entre os milhões de trabalhadores desempregados, estão os refugiados das guerras imperialistas e da fome, que vivem em condições miseráveis nos campos de concentração da Europa e dos Estados Unidos, separados de suas famílias e sob um rígido racionamento de comida, água, e privados de visitas e uso de telefones.

Entretanto, além do desemprego, há também a epidemia da fome.

De acordo com a Feeding America, maior organização de combate à fome dos EUA, com 200 bancos de alimentos em todo o país, 54 milhões de pessoas, entre adultos e crianças, um em cada seis habitantes não tem o que comer. Na cidade mais rica do mundo e capital econômica dos EUA, Nova York, um milhão e meio de habitantes, todos os dias, formam filas gigantescas em busca de alimentos para sobreviver.

No mundo, pelo menos 736 milhões de pessoas estão em situação de pobreza extrema, informa o relatório Visão Humanitária Global, e por dia morrem de fome entre 6 e 12 mil pessoas, enquanto trilhões de dólares estão aplicados em papéis, ações, derivativos, títulos públicos ou criptomoedas. Eis a realidade: centenas de milhões de seres humanos não têm dinheiro para comprar alimentos quanto mais para gastar com máscaras ou álcool gel.

Porém, no mesmo ano em que morreram milhões de pessoas com Covid, as 100 empresas consideradas campeãs do mercado de ações aumentaram em USD$ 3 trilhões o seu valor de mercado. Ainda em meio ao crescimento gigantesco de mortes, fome, miséria e desemprego e diante de uma das maiores pandemias e crises enfrentadas pela humanidade, os dez maiores bilionários acumularam US$ 540 bilhões de 18 de março a 32 de dezembro de 2020.

Na China não foi diferente: a fortuna conjunta dos bilionários chineses aumentou mais de 40% de abril de 2019 até julho de 2020. No total, os cidadãos mais ricos deste país, alcançaram uma riqueza de US$ 1,7 trilhão.

Este é o retrato do sistema capitalista: de um lado, superprodução de carros e de smartphones, de outro, bilhões de pessoas sem moradia, água, esgoto, comida, e, agora, também sem vacina. Ademais, como mostram as constantes exibições de poderio militar e os investimentos na indústria bélica, a crescente rivalidade entre os países imperialistas, particularmente, entre os EUA e a China, torna real a possibilidade de uma nova guerra mundial.

Os fatos demonstram com clareza: a existência do ser humano, a sobrevivência da humanidade, depende da mudança do atual sistema capitalista, do fim da dominação burguesa e da vergonhosa exploração do homem pelo homem. No capitalismo mesmo quando ocorre algum progresso, como a vacina, ele se realiza à custa de milhões de mortes e beneficia somente a classe rica. Este é o dilema em que a humanidade se encontra: ou vive para alimentar uma minoria de vampiros capitalistas, de assassinos da vida e do planeta, ou se revolta e se organiza para construir uma nova sociedade, verdadeiramente justa.

Todos os trabalhadores e trabalhadoras do mundo sofrem na pele essa opressão e exploração capitalista. Não sabem, entretanto, qual é a origem desses males e se é possível acabar com essa dor e miséria. Por isso, para obtermos a libertação, as novas e velhas gerações necessitam empreender com mais energia a agitação revolucionária em todo o mundo visando desenvolver rapidamente nas massas, a consciência da necessidade da revolução socialista. Como disse Lênin, é uma tarefa que tem enormes dificuldades, mas cada minuto dedicado a esse trabalho será recompensado “cravando o último prego no caixão da sociedade capitalista”.


[1]. As variantes do coronavírus consideradas mais transmissíveis são: a variante do Reino Unido (B.11.7), a variante brasileira, originada no Amazonas, (P1) e a variante da África do Sul (501y.V2).

[2]. Johnson & Johnson, líder do mercado mundial de produtos de higiene e limpeza, e uma das maiores companhias do mundo, recebeu 100% de financiamento público para produzir sua vacina. O Laboratório anglo-sueco Astra-Zeneca, líder na venda de medicamentos para cânceres, de oncologia, recebeu 80%, além da colaboração da universidade de Oxford. A Pfizer, uma das 500 maiores empresas globais, associou-se ao laboratório alemão BionTech, e ainda recebeu 65% de dinheiro público.

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