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domingo, 6 de outubro de 2024

Motoristas de Uberlândia fazem greve de 24 dias

Greve contou com grande apoio da população

Gabriel Fernandes e Felipe Palazzo, Uberlânia (MG)

Uberlândia foi palco recentemente de uma greve dos trabalhadores do transporte coletivo que durou 24 dias. As empresas responsáveis pelo fornecimento do serviço na cidade (Autotrans, Sorriso de Minas e São Miguel) vêm realizando ataques aos direitos de seus funcionários: parcelamento de salários; cortes de vale-alimentação, das cestas básicas, dos convênios médico e odontológico; abandono da sanitização adequada dos ônibus para evitar o coronavírus. Inclusive, pelo menos 16 motoristas já faleceram em decorrência da Covid-19.

A paralisação das atividades começou no dia 5 do mês de março. Pela primeira vez na História da cidade uma greve dos rodoviários se articulou para fechar todos os terminais de ônibus. No mesmo dia, houve a prisão de um desses trabalhadores, solto logo depois.

Vários movimentos sociais e partidários se juntaram a essa luta. Porém, o Sinttrurb (Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Uberlândia), desde o início das mobilizações, declarou a greve como ilegal, evidenciando a postura do presidente do sindicato em não defender os trabalhadores, o que facilitou a ação da empresa em ameaçar e realizar demissões injustas em massa.

Foi apenas no dia 11 de março que o sindicato aderiu ao movimento, mas não disfarçou o caráter de alinhamento aos interesses das empresas e, mesmo após declarar o estado de greve, não acrescentou na sua pauta a readmissão dos que foram demitidos por justa causa durante os primeiros dias, garantindo apenas o suporte jurídico, que não é mais do que a obrigação da entidade.

“Dirigimos ônibus com bancos quebrados, pneus carecas, com freios ruins, com seta quebrada”. Eu quero meus direitos. Precisamos de apoio. São vários pais de família que agora estão desempregados, sem dinheiro para comprar um pão, um leite para seus filhos”, desabafa um dos motoristas demitidos.

A Prefeitura Municipal de Uberlândia, que pagou R$ 25 milhões no ano passado para as empresas realizarem a manutenção dos serviços, anunciou, no decorrer dos acontecimentos, que não tinha dinheiro em caixa para auxiliar novamente.

No dia 19, a Polícia Militar impediu a realização da assembleia dos motoristas e utilizou a repressão para desmobilizar os trabalhadores, com tentativas de prisões.

No 24º dia de greve (27/03), concretizou-se um acordo entre trabalhadores e empresas. Dentre os pontos aprovados estão: 1. abono de metade dos dias não trabalhados, com a outra parte sendo incluída em banco de horas positivo; 2) reajuste de 5,45% do salário e do vale-alimentação, mas concedido somente se a tarifa da passagem for reajustada; 3) garantia da cesta básica referente ao mês de fevereiro. Vale ressaltar que estão tramitando na Justiça ações dos trabalhadores contra as empresas para que as demissões por justa causa sejam revertidas.

Nota-se que os problemas para a categoria continuam no horizonte. Após a efetivação do acordo, o secretário de Trânsito e Transporte de Uberlândia anunciou novas regras de circulação para o transporte coletivo: os ônibus só poderão operar limitados ao número de assentos, ou seja, sem pessoas em pé. No entanto, não garantiram nem a higienização efetiva dos transportes nem o aumento da frota (que, no começo de março, foi diminuída de 400 para 273 veículos), aumentando as dúvidas da população a respeito do atendimento adequado do serviço.

Diante dessa realidade, devemos seguir prestando solidariedade aos motoristas e fortalecendo sua organização contra cada injustiça cometida, cada retirada de direitos. Estaremos nas ruas, nas portas das empresas, na Câmara Municipal, na Prefeitura, onde for necessário.

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