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sábado, 20 de abril de 2024

EUA e Colômbia querem impor cerco militar à Venezuela

AGRESSÃO. Plano dos EUA é derrubar governo venezuelano (Foto: Gayones)

O ano de 2022 será um ano decisivo para a Venezuela em virtude da ofensiva político-militar planejada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, com apoio do governo colombiano.  

Por Fernando Rivero
Caracas, Venezuela


INTERNACIONAL – A globalização neoliberal condiciona a atual Doutrina Militar dos Estados Unidos. Seus princípios, táticas, técnicas, procedimentos, termos e símbolos baseiam-se em uma densa filosofia política e, particularmente, em uma concepção particular da filosofia da guerra. O pensamento militar norte-americano (baseado nas abordagens teóricas de Hobbes, Maquiavel, Foucault e Morgenthau, entre outros) evoluiu no século 20 desde o estritamente técnico-militar para focar sua atenção no controle populacional.

Por essa razão, a batalha semiótica é transversal a seu esforço de guerra. Tomar símbolos, ressignificar conceitos, destruir a filiação político-emocional do povo com seus dirigentes, demolir a identidade nacional, sugerir por meio da exploração do medo, semear incertezas, corroer a esperança e reposicionar ideias conservadoras são ideias-chave para os atuais pensadores militares estadunidenses. Disciplinar a população, uma vez quebradas as instituições de controle, requer romper com os regulamentos da guerra, bem como sua terceirização, de forma a usar sistematicamente a violência para modificar o comportamento político.

Sem dúvida, o capitalismo neoliberal exige museus de ordem para educar a humanidade, com uma pedagogia da violência que lhes permita impor seu sentido de existência humana. O uso da força militar, do ponto de vista da biopolítica, é inerente à imposição do atual projeto civilizatório.

Ingerência imperialista na América Latina 

Em consonância com esta Doutrina, a Missão do Comando Sul dos Estados Unidos cunhada por seu Comandante, Admirals Craig Faller (2019), estabelece que: “O USSOUTHCOM dissuade agressão, derrota ameaças, responde rapidamente a crises e constrói capacidade regional, trabalhando com nossos aliados, países parceiros e o governo dos EUA para aumentar a segurança e defender a pátria estadunidense e nossos interesses nacionais”. Esta Missão coloca em primeiro plano a defesa de seu modelo de sociedade mediante uma estratégia conjunta com governos aliados, como a Colômbia. Também concebe uma “fronteira portátil” projetada para o local onde os interesses dos Estados Unidos são afetados.

O Comandante Faller (2019) também endossa a dimensão econômica da Estratégia, bem como sublinha a existência de Estados que são nocivos aos Estados Unidos. “Parcerias e investimentos confiáveis ​​geram rendimentos sólidos e elevados para os Estados Unidos, nossos aliados e parceiros. As vacilações em enfrentar os desafios em todo esse hemisfério resultará num aumento das ameaças por parte das organizações criminosas transnacionais, das organizações extremistas violentas e dos atores estatais nocivos”, afirma. 

Desde essa perspectiva, o papel dos Estados Unidos é retomado como uma polícia regional que pode operar militarmente em qualquer lugar da Nuestra América. Faller descreve o estado final perseguido: “Que todas as nações apoiem a democracia, a soberania, os direitos humanos e o Estado de Direito. Que as nações sejam estáveis, amigas e prósperas”. A Estratégia do Comando Sul dos EUA também ratifica a defesa da democracia liberal como modelo político promovido pelo Ocidente. Faller, perante o Congresso dos Estados Unidos, em 2021, expressou que Nicarágua, Cuba e Venezuela são uma ameaça. Portanto, chegar ao estado final concebido em seu planejamento militar implica uma mudança de governo e, consequentemente, do modelo político nos três países latino-americanos nomeados.

Grupos paramilitares de direita são financiados pelos governos dos EUA e da Colômbia (Foto: Reuters)

A Colômbia no plano do Pentágono

As sete bases militares estadunidenses instaladas em Nova Granada, em 2009, a incorporação da Colômbia à OTAN, em 2018, e a chegada à Colômbia, em 2020, da Brigada de Assistência da Força de Segurança do Exército dos Estados Unidos delineiam o planejamento estratégico desenhado pelo imperialismo estadunidense para o controle da região e, especialmente, da Venezuela.

Em consonância com esse planejamento, a Colômbia vem redimensionando suas Forças Armadas desde 2016. A Doutrina de Damasco representa uma conversão doutrinária que, sem descuidar da guerra contra-insurgente, busca treinar suas forças armadas para enfrentar ameaças internas e externas. Trata-se de criar uma força multi-missão pronta para o cenário de guerra regular. A Colômbia planejou transformar sua instituição militar para assumir os padrões militares da OTAN e alcançar a interoperabilidade em missões multinacionais.

A Doutrina de Damasco, com seu novo Conceito de Operações Terrestres Unificadas, seus Comandos Conjuntos e a constituição de Forças-Tarefa de acordo com os desafios enfrentados, convertem as Forças Armadas em um braço militar da Casa Branca. Na verdade, para aprimorar suas habilidades dentro da estrutura do conceito de Extensa Área de Segurança, já divulgaram a compra de aviões caças de última tecnologia, bem como, de acordo com sua nova conceituação de guerra blindada, têm planos em curso para adquirir uma frota de veículos blindados. Em suma, a Doutrina de Damasco inspirada no pensamento militar norte-americano, parte da premissa de um ambiente operacional complexo, por isso prepara as Forças Armadas colombianas para enfrentar novas “ameaças” (leia-se Venezuela) por meio de uma ação unificada na arte e desenho operacional.

Paramilitarismo e Guerra Irregular Não Convencional

Na preparação da Colômbia para o cenário de guerra contra a Venezuela, o paramilitarismo continua sendo uma importante força político-militar das elites da Casa de Nariño. O paramilitarismo colombiano, uma velha criação da extrema direita neogranadina em aliança com o Mossad israelense, serve não apenas para a guerra contra-insurgente na Colômbia, mas também é a ponta de lança do plano do Pentágono contra a Venezuela.

Deve-se notar que o pensamento militar dos EUA criou em 2010 o “Manual de Guerra Não Convencional das Forças Especiais dos EUA”, identificado como TC-1801. Este documento contempla as diretrizes para as Forças Especiais destinadas a criar, desenvolver e consolidar um “movimento insurgente ou de resistência” capaz de desestabilizar ou derrubar regimes adversos a Washington. O Manual estabelece as bases doutrinárias para a condução de operações secretas que permitem o disfarce da participação militar dos EUA contra Estados soberanos.

Nesse sentido, a guerra inicialmente adota um caráter irregular, como está sendo evidenciado atualmente em Apure. Trata-se de uma guerra limitada, encarregada de sua execução por terceiro (paramilitares), sob a direção estratégica de militares dos Estados Unidos. No entanto, isso não exclui o futuro engajamento militar dos EUA em uma guerra convencional. Na verdade, o que acontece em Apure faz parte de uma campanha de longo prazo, concebida como Fase 6 do referido Manual:

“Em um cenário de guerra limitada, esta fase ainda consiste em uma campanha de guerra de guerrilha e subversão, mas as forças a executam de modo ligeiramente diferente. Geralmente, as operações de combate não se concentram em um único evento e culminam no Dia D. As forças realizam essas operações ao longo de um longo período de tempo, com o objetivo de corroer lentamente a fortaleza e o moral do inimigo” (Departamento do Exército dos Estados Unidos, 2010).

Narcotráfico e gangues criminosas na Venezuela

A inoculação do paramilitarismo colombiano em território venezuelano faz parte de um plano dos serviços de inteligência dos Estados Unidos. Em nosso país, os paramilitares se vincularam a gangues criminosas locais, usando dinheiro do narcotráfico, fortaleceram sua liderança e estabeleceram um conjunto de práticas criminosas que a sociedade venezuelana não conhecia.

Durante anos, o paramilitarismo não foi um fenômeno exclusivamente de fronteira. Sob influência paramilitar, surgiram gangues criminosas que exercem controle territorial em diferentes partes da geografia nacional. Essas gangues com grande poder de fogo, compostas principalmente por armas leves e curtas longas, já têm corredores estratégicos estruturados onde pretendem suplantar o Estado. Ao examinar a sua localização, percebe-se que essas faixas se encontram em pontos próximos a objetivos de alto valor estratégico do ponto de vista militar, tais como: acessos à capital da República, instalações militares, reservatórios de água potável, vias de comunicação de importância nacional, etc.

Da mesma forma, é necessário destacar que durante os atos de violência promovidos pelos partidos de direita em 2017, as referidas gangues atuaram como grupo armado nas ações mencionadas de enfrentamento às forças policiais e aos militantes do chavismo. Portanto, pode-se afirmar que as maiores quadrilhas criminosas da Venezuela estão relacionadas com paramilitares e respondem, conscientemente ou não, a um plano concebido contra a Revolução Bolivariana.

Grupos violentos são financiados pela direita venezuelana (Foto: Gayones)

Perfídia no Processo de Paz

A violação do Acordo de Paz alcançado em Cuba entre o Estado colombiano e as ex-Forças Armadas Revolucionárias do Exército Popular da Colômbia (FARC-EP), desencadeou um massacre de ex-combatentes e um agravamento do conflito político, social e armado interno. As antigas FARC-EP, após o fracasso do Acordo, resultaram em três grandes grupos. O Partido das Comunas, liderado por Timoleón Jiménez, ainda ligado à luta político-jurídica; a estrutura da Frente 1 (juntamente com outras estruturas) das antigas FARC-EP, comandadas por Gentil Duarte, que desde 2016 declarou que não assinaria o Acordo e, portanto, nunca foi pacificada; e, por fim, as FARC-EP/Segunda Marquetalia, que voltaram à luta armada em 2019 lideradas por Iván Márquez, Jesús Santrich, Oscar Montero e Edison Romaña, entre outros.

Essas duas últimas organizações revolucionárias enfrentam o ataque violento das Forças Armadas colombianas assessoradas, treinadas e equipadas pelos Estados Unidos. O “Plano Colômbia Cresce” acordado em 2020, uma reedição do antigo Plano Colômbia, é outra prova confiável da interferência dos Estados Unidos no conflito colombiano e da estreita aliança militar entre Washington e Bogotá. Consequentemente, não é razoável pensar que os grupos chamados FARC-EP estejam em conluio com o Estado colombiano e o governo dos Estados Unidos para atacar a Venezuela.

Conflitos armados na fronteira entre Venezuela e Colômbia deixam centenas de refugiados (Foto: AFP)

Combates em Apure

Grupos paramilitares colombianos operam na fronteira entre Colômbia e Venezuela. Esses grupos criam diversas redes baseadas em múltiplas atividades ilegais, gozam de impunidade do lado neogranadino, coordenam operações e trocam informações de inteligência com as Forças Armadas Colombianas. O paramilitarismo tenta se fortalecer no eixo Zulia-Táchira-Apure porque essa área, nos planos do Pentágono, é uma direção tática de aproximação para atingir objetivos operacionais definidos tanto no cenário de uma guerra convencional quanto em uma guerra irregular. Qualquer campanha militar inimiga desse setor busca o controle ou a secessão de uma parte do oeste da Venezuela como etapa preliminar para uma ofensiva total no resto do território.

Até agora, as ações violentas dos paramilitares em Apure delineiam o padrão de uma guerra de atrito. Talvez seja uma operação que visa, no curto prazo, projetar na opinião pública um “movimento insurgente ou de resistência” contra o Estado venezuelano que oculta a participação das Forças de Operações Especiais dos Estados Unidos e da Colômbia nas referidas ações. Talvez, embora improvável, eles estejam tentando criar o casus belli para uma agressão militar em grande escala perpetrada na Colômbia. Ou retome o argumento da crise humanitária para promover novamente uma “intervenção militar multilateral limitada às zonas de conflito”.

Mas, além das hipóteses, está confirmado que as Forças-Tarefa e Forças de Deslocamento Rápido das Forças Armadas colombianas não atacaram os irregulares que se retiraram para o Departamento de Arauca depois de serem repelidos na Venezuela. Não por desconhecimento, já que as bases estadunidenses e o Estado neogranadino realizam permanentemente tarefas conjuntas de Comando, Controle, Comunicações e Inteligência, que lhes permitem conhecer em tempo real o desenrolar dos combates das proporções que se deram em Apure.

Em suma, esses eventos fazem parte de um plano dos Estados Unidos com fachada colombiana em pleno andamento. É um processo de acumulação de forças, em sintonia com o recente anúncio de James Story sobre a Nova Aliança para Eleições Livres, que visa conduzir a uma “saída eleitoral”. O amplo espectro da Guerra Não Convencional, nesta fase busca preparar um clima de convulsão política com uma dimensão de confronto armado, por ora limitada, que se projeta no tempo, no máximo, até a realização do referendo revogatório. O ano de 2022 será um ano decisivo para a Venezuela em virtude da ofensiva político-militar planejada pelo governo Biden. Consequentemente, a guerra fratricida é uma manobra do Pentágono. Nesse contexto, é um erro dos bolivarianos da Colômbia e da Venezuela subestimar a importância da unidade anti-imperialista diante dos desafios em curso.

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