Raphael Assis, Aracaju
Somos constantemente induzidos a acreditar que nós, brasileiros, somos “acomodados” e que nada fazemos para mudar nossa realidade. Na verdade, isso não passa de uma mentira contada para nos tentar fazer esquecer de que, desde que os europeus invadiram estas terras e começaram a massacrar a população originária para explorar os recursos que aqui encontraram, sempre houve muita luta popular contra todo tipo de opressão.
Nos contam essa mentira, pois sabem que um povo esquecido de suas lutas é um povo fadado a perder a esperança de que pode mudar o rumo de sua vida. Tentam, com isso, “adormecer” a população, desesperançar a revolta de todos os explorados e oprimidos. Mas o mês de maio deste ano nos está mostrando que há ainda muitas pessoas no meio da gente dispostas a lutar contra isso; dispostas a irem às ruas fazer propaganda das lutas históricas que já foram travadas aqui no Brasil e os resultados que ela trouxeram para o bem coletivo.
Em Sergipe, não está sendo diferente. Isso porque, desde o 1º de maio, o Partido Comunista Revolucionário (PCR) vem organizando seus militantes e apoiadores junto ao Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), à União da Juventude Rebelião (UJR), ao Movimento de Mulheres Olga Benario, ao Movimento Luta de Classes (MLC) e à Unidade Popular (UP) para realizar diversas ações de agitação política nas ruas, mobilizando o povo sergipano à luta.
No dia do trabalhador, por exemplo, houve uma tribuna popular com panfletagem na feira de Santo Antônio, Zona Norte da capital, atividade que teve grande adesão dos que passavam pela área. Mais tarde, no mesmo dia, na Ocupação João Mulungu, houve uma grandiosa aula pública sobre a história da luta dos trabalhadores brasileiros. Essas duas atividades reuniram, juntas, mais de cem pessoas.
Além da tribuna na feira e da aula pública, mensagens com as palavras de ordem “Fora Bolsonaro”, “Vacina, já”, “Viva o Socialismo!”, “Manoel Lisboa vive”, “Emprego justo, salário justo” foram pintadas por diversos muros da cidade e assinadas pelo PCR e pela UJR, fazendo com que essas denúncias chegassem a milhares de trabalhadores que passam todos os dias por esses locais.
No dia 13 de maio, foi a vez de os sem-teto do MLB mostrarem como se luta por moradia. Logo de manhã, o movimento organizou dezenas de moradores da ocupação João Mulungu para ocupar a Câmara Municipal da cidade de Aracaju, com o objetivo de entregar ao prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) um ofício pedindo que uma lei seja criada visando a ceder ao MLB o título de posse do prédio que antes estava abandonado, mas que agora é lar de dezenas de famílias que não têm onde morar. À tarde, ainda no dia 13 de maio, cerca de 100 militantes interditaram com um piquete uma das principais avenidas do Centro de Aracaju (Ivo Prado), para denunciarem a falta de moradia no Brasil e o fato de que, durante a pandemia, o governo permitiu que 20 pessoas ficassem bilionárias no país, enquanto, do outro lado da moeda, os trabalhadores estão cada vez mais largados à própria sorte, imersos no desemprego e na fome.
É bem verdade que o momento é de crise sanitária e que, por isso, o melhor seria ficarmos em casa de quarentena a fim de conter a disseminação do vírus. Porém a luta de classes acirrada não espera uma pandemia acabar para acontecer; pelo contrário: ela continua se acirrando cada vez mais, à medida em que os capitalistas, para conterem os efeitos da crise, bombardeiam a classe trabalhadora com retiradas de direitos e ataques econômicos.
Por isso, depois de quase meio milhão de brasileiros mortos mesmo com tantas vacinas já criadas; depois de tanta fome, humilhação e desemprego; depois de tanto desrespeito dos que compram mansões de 6 milhões de reais enquanto assistem a seu povo desesperado e sem esperança, ocupar as ruas para denunciar o que precisa ser denunciado e para retirar do governo o presidente fascista que se elegeu através de fake news não é mais uma questão de escolha; é uma questão de sobrevivência! Afinal, Jair Bolsonaro e sua política de morte têm se mostrado mais perigosos do que o coronavírus.
A confirmação disso é, finalmente, os trabalhadores, os sem-teto, os estudantes e as mulheres sergipanas, os quais, no mês de maio, têm mostrado o quão bravo e combatente é o povo nordestino na luta pelos seus direitos mais imediatos e também na luta pelo Socialismo. É um povo que desmente, na prática, a mentira de que somos “acomodados”; um povo que ecoa o canto de revolta de Zumbi dos Palmares e de João Mulungu e que aposta na revolução socialista para pôr fim à sua exploração.