Lucas Evangelista
BRASÍLIA – A Polícia prendeu Lázaro Barbosa, na manhã do dia 28 de junho, no Distrito Federal. Foi uma busca de 20 dias, que envolveu quase 300 policiais, drones e helicópteros e que foi marcada pelo racismo religioso estampado pela mídia.
O caso demonstra, em primeiro lugar, o despreparo das Forças de Segurança, considerando que as buscas demoraram 20 dias para serem concluídas. No entanto, quando se trata de realizar operações policiais nas favelas, oprimir e até mesmo assassinar a população pobre, a Polícia é muito mais eficiente; talvez porque a segunda seja a verdadeira função para a qual foi criada. Talvez Lázaro corresse mais riscos se morasse na favela e saísse de manhã para ir ao trabalho, ou fosse a um baile à noite para se divertir, como os nove jovens mortos pela Polícia em Paraisópolis, em 2019.
A fim de maquear sua própria incapacidade para lidar com a situação, a Polícia buscou, ao longo da investigação, criar uma narrativa cheia de racismo religioso; o racismo religioso é uma faceta cruel desse mal que assola nossa sociedade, responsável por criar a ideia de que a cultura negra é inferior, ruim, maligna ou criminosa, o que pode ser visto ao longo da história com a capoeira, o samba, o funk e também as religiões de matriz africana.
As religiões trazidas ao Brasil pelo povo negro escravizado são tratadas, até hoje, como “magia negra”. Exemplo dessa marginalização é que é comum ver nos museus da Polícia por todo o Brasil elementos de religiões afro-brasileira expostos como apreensões criminosas.
No rastro da perseguição a Lázaro, surgiram diversas denúncias de pais e mães de Santo que tiveram seus terreiros invadidos pela Polícia, assim como fotos de objetos sagrados para as religiões afro-brasileiras têm sido profanadas e divulgadas na mídia como “rituais feitos por Lazáro Barbosa”. Além, é claro, de indícios de que a Polícia tem se esforçado em criar provas contra as religiões de matriz africana, em vez de caçar o suspeito.
Na busca, os policiais encontraram uma suposta oferenda feita pelo suspeito: um papel com seu nome em torno de uma vela. No entanto, o nome estava escrito errado e, mesmo assim, foi divulgado como um ritual feito pelo próprio Lázaro. No dia 18/06, em Águas Lindas, Goiás, policiais invadiram um terreiro de candomblé pertencente ao Pai de Santo André Vicente de Souza, de 81 anos. Segundo as vítimas, os agentes torturaram o caseiro que cuidava do templo, espancando-o com um cabo de foice, e fotografaram uma imagem de Exu (entidade central na crença candomblecista, responsável por intermediar o mundo terreno e o divino), divulgando as imagens como sendo uma das casa de Lázaro.
Além disso, segundo o Correio Braziliense, mais de dez terreiros de religiões de matriz africana foram invadidos pela Polícia em busca de Lázaro Barbosa. Provas ou indícios que os terreiros ajudaram o suspeito, não há! Mas a Polícia parece convicta.
Sobre o clima de medo envolvido na busca e no racismo policial, nenhuma frase seria capaz de resumir melhor que a Mãe Bel, yalórixá do terreiro Ilê Asé Olona: “Ao contrário do que se imaginaria, aqui a gente sente dois medos: de Lázaro, que pode invadir a nossa casa, e da Polícia, que sempre invade”.