Famílias organizam ocupação urbana em Curitiba

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POR MORADIA – Famílias ocupam pois não conseguem mais pagar aluguel e comprar comida (Foto: A Verdade)

Redação Paraná 

PARANÁ – Do final de 2020 até maio de 2021 houve, em Curitiba, 08 ocupações urbanas, sendo 05 já despejadas pelo Estado; no último dia 14 de maio, na Vila União, bairro Tatuquara, uma nova ocupação nasceu na capital paraense. A crise econômica que se alastra e se intensifica com a pandemia, levando muitos trabalhadores ao desemprego, tem colocado o povo em uma encruzilhada entre pagar o aluguel ou comprar comida e impulsionado a luta por moradia digna.

Os depoimentos dos moradores ao jornal A Verdade, logo nos primeiros dias de ocupação, foram um relato vivo sobre a péssima situação a que o povo trabalhador está submetido devido ao neoliberalismo aplicado pelos governantes. O perfil dos moradores da ocupação demonstra a necessidade da luta: casais de idosos, jovens, mães solo com mais de um filho e também cadeirantes, crianças com necessidades especiais,etc. Trata-se de uma luta justa por acesso à moradia para quem não consegue pagar aluguel.

A Coordenação da ocupação mantém um controle de entrada de novas famílias: todas precisam trazer comprovantes ou contratos de aluguel, demonstrando que realmente não possuem uma casa; além disso existe uma chamada para conferir a presença das famílias na ocupação, sendo essa presença obrigatória para garantir que a prioridade seja dada para quem mais precisa.

A ocupação, altamente organizada, foi realizada em um terreno que há 9 anos está abandonado pelos donos, que não pagam os impostos há quase uma década.

Reintegração de posse e luta

Apesar da dívida de anos que os proprietários do terreno possuem com o Estado e da necessidade das famílias ser comprovada, no dia 20 de maio foi expedida uma reintegração de posse contra as famílias.

A liminar logo chegou à ocupação, que decidiu se manter na luta, pois voltar para o aluguel ou correr o risco de morar na rua não é uma opção para eles. Assim, no dia 24/05, as famílias da ocupação começaram a se reunir logo cedo, às 06h da manhã, e se prepararam para se manifestar e reivindicar o direito à moradia.

Madeiras pinceladas com palavras de ordem foram usadas como faixas e cartazes e, para não aglomerar, foram feitas duas filas, uma guardando distância da outra. Máscaras e toucas também fizeram parte do traje para se proteger da COVID e do vento gelado.

Assim, mais de 100 moradores marcharam da ocupação até a sede da Regional Administrativa do Tatuquara, fechando um lado da rua com muitos cantos de luta e palavras de ordem: “chega de aluguel!”, “queremos moradia!”, “eu só quero um lar!”, “com luta, com garra, a casa sai na marra!”.

Uma vez em frente à sede da regional, as famílias continuaram cantando e se manifestando, buscando chamar atenção dos órgãos públicos para conquistar uma reunião e discutir a situação, devido à iminência da reintegração de posse.

Após muito barulho, uma comissão de representantes da ocupação, de movimentos sociais e mídia independente foram aceitos para entrar no prédio administrativo e começar a reunião com os representantes da Fundação de Ação Social (FAS), da Regional do Tatuquara, inspetor da GM e da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (COHAB).

Durante a reunião foi enfatizado que o compromisso da ocupação é com as famílias que pagam aluguel e não estão em condições de continuar pagando, que uma reintegração de posse as colocaria numa situação ainda mais difícil e que há disposição de diálogo com os órgãos competentes para que não se repitam as últimas ações de repressão da Polícia Militar contra as ocupações.

Assim, foi marcada uma visita dos órgãos competentes à ocupação para cadastrar os moradores, conferir a situação de cada família e repassar os dados à COHAB, para que haja subsídios a um encaminhamento adequado.

Na visão dos coordenadores da ocupação, a manifestação das famílias e a conquista da reunião foi uma vitória, principalmente porque ganha alguns dias em relação à reintegração de posse e a oportunidade de mostrar a transparência e seriedade do trabalho. De todo modo, ponderam que a luta, a organização e a disposição para continuar na busca pelo direito à moradia continua.