Júlia Ew e João Coelho
BRASIL – No último final de semana (17 e 18 de julho), a Coordenação Nacional da Escola Eliana Silva, escola de formação política e social do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), reuniu-se para discutir o funcionamento da escola e traçar um plano de desenvolvimento do trabalho de educação popular nas periferias de todo o país. Participaram da reunião representantes dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.
O Brasil vive, a cada dia mais, um processo de abandono do povo pelo Estado, inclusive dentro do sistema educacional: mais da metade da população acima de 25 anos não concluiu o ensino médio e o analfabetismo atinge cerca de 11 milhões de pessoas; mais, durante a pandemia, no Brasil, segundo a UNICEF, ao menos 1,38 milhão de crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos, abandonaram a escola, 4,12 milhões de estudantes, apesar de matriculados, não receberam nenhum tipo de atividade escolar e, em 2021, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) teve o menor número de inscritos desde 2009.
Esse é o retrato de um país onde a educação pública tem sido destruída por governos neoliberais, em especial o governo do fascista Jair Bolsonaro, afetando principalmente os estudantes e as famílias mais pobres, moradoras das periferias, favelas e ocupações.
Nesse contexto, a Escola Nacional Eliana Silva se tornou uma prioridade para o MLB: é necessário criar em cada bairro pobre uma escola que possa ajudar crianças, jovens, adultos e idosos a compreenderem a realidade de opressão do sistema capitalista; isso só será possível através de um processo de formação que enfrente os problemas gerados pelo Estado burguês, como o analfabetismo.
Esse trabalho não é exatamente uma novidade, uma vez que nos 20 anos de história do MLB a formação popular sempre foi um tema presente, com creches, turmas de alfabetização, cursos de formação política, etc. Trata-se no entanto da necessidade de estruturar essas ações e construir uma escola que possa se espalhar pelo país formando lutadores populares, com um método de trabalho que reúna as experiências e conhecimentos acumulados no cotidiano do povo e que desenvolva uma verdadeira pedagogia da luta pela reforma urbana, popular e revolucionária.
A reunião contou com a troca de experiências entre os estados, como a turma formação política da Ocupação Manoel Aleixo em São Paulo, a creche da Ocupação Emmanuel Bezerra em Natal, a Creche Tia Carminha na Ocupação Eliana Silva em Belo Horizonte e as turmas de reforço escolar do Rio de Janeiro, entre outras; os participantes também assistiram a uma aula da Coordenadora Nacional do MLB, Poliana Souza, sobre sua atividade como educadora popular dentro da Ocupação Eliana Silva, formando turmas de alfabetização de adultos. Houve ainda uma visita presencial à Ocupação Eliana Silva e à Ocupação Paulo Freire, na região do Barreiro, periferia de Belo Horizonte, para conhecer o espaço onde será construída a sede nacional da Escola.
A partir do debate, da troca de experiências e do estudo do terceiro capítulo do livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, a coordenação elaborou uma agenda de cursos nacionais, grupos de trabalho para desenvolver materiais político-pedagógicos próprios da Escola e ações para impulsionar a formação de creches, turmas de alfabetização de jovens e adultos e de reforço escolar em todos os estados onde o MLB atua. Também decidiu-se por iniciar a campanha “Uma creche em cada Ocupação!”, para garantir que, em um curto período, todas as ocupações do MLB no país consolidem suas creches e garantam a educação infantil.
A conclusão da reunião foi de que a construção da Escola Nacional Eliana Silva é uma questão fundamental para o avanço da luta urbana no país, sem a qual não será possível enfrentar os desafios que estão presentes nas cidades.
Por isso, deve ser uma escola integrada aos núcleos de base do MLB, de construção e organização coletiva de conhecimento, e de denúncia do sistema educacional capitalista. Para transformar as cidades é preciso aprender e ensinar, revolucionando o mundo através de uma pedagogia própria da luta pela reforma urbana.