A radicalização do autocuidado

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SAÚDE. Movimentos de mulheres lutam pela liberdade de escolha sobre os seus corpos (Foto: JAV)

No Brasil, por falta de democratização da informação e dos investimentos necessários nas campanhas oferecidas pelo SUS, o aumento do número de casos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) tem sido exponencial. Por isso, as mulheres lutadoras, mas também aos homens lutadores, precisam se cuidar, pois o que temos de mais importante para fornecermos ao combate contra o fascismo e a luta revolucionária é a nossa vida.

Chantal Campello
Cabo Frio (RJ)


MULHERES – Recentemente, a ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, defendeu a “abstinência sexual” como método para evitar o aumento de casos de gravidez na adolescência. No lugar de promover políticas públicas efetivas sobre o assunto, o ministério organizou uma campanha para defender essa visão como sendo “o único método 100% eficaz”.

Cartazes chegaram a ser produzidos pelo ministério criticando o uso da camisinha como método de prevenção e afirmando — sem qualquer respaldo científico — que poros no preservativo permitem a passagem do vírus HIV.

No Brasil, por falta de democratização da informação e dos investimentos necessários nas campanhas oferecidas pelo SUS, o aumento do número de casos de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) tem sido exponencial. Segundo dados do Ministério da Saúde, só em 2018, foram registrados 158.051 casos de sífilis.

Segundo dados do UNAIDS, programa das Nações Unidas, o Brasil está na contramão mundial do combate ao HIV, com um aumento de 21% de novos casos entre 2010 e 2018, enquanto o restante dos países observou uma queda de 16%.

Mas, infelizmente, não é só a transmissão de sífilis e HIV que crescem no Brasil. Gonorreia e HPV, outras duas doenças sexualmente transmissíveis, também estão em alta no país. Dessa forma, é preciso reforçar a vigilância sobre esses perigos a que todos estamos expostos.

Vivemos numa sociedade patriarcal que incentiva a inferiorização da mulher e normatiza práticas violentas em nome do “prazer” masculino. Um dos reflexos disso é que o índice de gravidez na adolescência no Brasil está acima da média latino-americana, segundo a OMS. A cada mil adolescentes brasileiras entre 15 e 19 anos, 68,4 ficaram grávidas e tiveram seus bebês entre 2010 e 2015, conforme relatório da Organização Mundial da Saúde.

A situação fica pior quando vivemos sob leis que não permitem um aborto legal e seguro a todas que decidem interromper a gravidez. A proibição expõe a maior parte das mulheres a processos clandestinos, extremamente invasivos e que podem trazer sérios riscos à saúde e, inclusive, à vida. As mulheres trabalhadoras ficam expostas à insegurança e ao medo, enquanto as ricas podem pagar procedimentos caríssimos, eficientes e seguros.

Em contrapartida a essa criminalização e negação dessa discussão, os movimentos de mulheres seguem cobrando a liberdade de escolha sobre os seus corpos, a garantia do acesso à saúde pública e também promovendo rodas de conversa e conscientização sobre a vida sexual, temática que parece ainda ser um assunto muito pouco entendido.

A batalha é grande e a exigência de nos mantermos firmes, vivas e saudáveis para crescermos as fileiras da luta consciente para a derrubada desse sistema que nos adoece para enriquecer sob nossa dor é urgente.

Por isso, as mulheres lutadoras, mas também aos homens lutadores, precisam se cuidar, pois o que temos de mais importante para fornecermos ao combate contra o fascismo e a luta revolucionária é a nossa vida.