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sexta-feira, 29 de março de 2024

Ocupamos contra a violência e pelo poder popular

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PODER POPULAR – Ocupações de mulheres são focos de construção do poder popular e de combate à opressão e exploração capitalistas (Foto: A Verdade)

Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benario

BRASIL – O Brasil é o 5º país do mundo em que mais mulheres são assassinadas! No último ano, uma em cada quatro mulheres foi vítima de violência em nosso país. Durante a pandemia, oito mulheres foram agredidas por minuto, a maioria por parceiros ou ex-parceiros. Em 2018 e 2019, uma média de quatro mulheres foram mortas por dia. A cada hora, quatro meninas menores de 13 anos são estupradas. Somente no primeiro semestre de 2020, 631 mulheres foram vítimas de feminicídio. A maior parte eram mulheres negras.

Esses dados expõem uma situação gravíssima! Nós, mulheres, somos agredidas e mortas por sermos mulheres! Por outro lado, as políticas existentes para o enfrentamento da violência contra as mulheres são insuficientes. Apenas 2,4% dos municípios brasileiros contam com casas-abrigo. O Brasil possui 5.568 municípios. Destes, apenas 417 possuem delegacias especializadas em crimes contra as mulheres (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher – DEAM), mas infelizmente a maioria destas não funciona no período noturno nem aos finais de semana.

Tendo em vista essa situação, o Movimento de Mulheres Olga Benario decidiu iniciar uma nova etapa da luta feminista em nosso país ao realizar ocupações de mulheres, exigindo políticas públicas contra a violência às mulheres e o direito à vida.

Ocupamos, em primeiro lugar, para salvar a vida das mulheres. Desde 2016, o Movimento organizou seis ocupações no Brasil. São elas: Ocupação Tina Martins (Belo Horizonte-MG), Ocupação Mulheres Mirabal (Porto Alegre-RS), Ocupação Helenira Preta (Mauá-SP), Ocupação Laudelina de Campos Melo (São Paulo-SP), Ocupação Carolina Maria de Jesus (Santo André-SP) e Ocupação das Mulheres Negras – Helenira Preta II (Mauá-SP), sendo estas duas últimas realizadas simultaneamente há poucas semanas, no dia 25 de julho.

Todas as ocupações se tornaram Centros de Referência para mulheres vítimas de violência e seus filhos, que não encontram na rede pública vagas para atendimento, devido aos cortes no orçamento público federal. Nesses cinco anos, atendemos milhares de mulheres que precisavam de aconselhamento, acompanhamento e encaminhamento para diversos serviços (de saúde, da justiça, etc).

Em segundo lugar, ocupamos para formar mulheres. Nas Casas de Referência que construímos, organizamos diversas atividades de formação política e de independência econômica. Sabemos que a emancipação da mulher passa por essas duas vias. Precisamos, todo dia, reforçar o poder político que as mulheres organizadas têm, para que não desistam das corajosas decisões que tomaram de sair de lares abusivos e de lutar por uma mudança pessoal e social. Acabar com a violência contra as mulheres é lutar em unidade por uma sociedade que não admita a exploração do homem pelo homem, nem da mulher pelo homem, uma sociedade em que o machismo seja visto como algo danoso para as relações sociais, ao contrário do que acontece no capitalismo.

Nós ocupamos para organizar mulheres, avançando para que mais mulheres vítimas de violência lutem para que outras mulheres não passem pelo mesmo. Para além de uma luta individual, a luta pela vida das mulheres é coletiva e ocorre em espaços de solidariedade e formação. Hoje, as Casas são referência para mulheres de diversas cidades, com diferentes saberes, que buscam, através da prática, entender melhor como funciona o ciclo de violência de gênero, para erradicá-lo.

E, principalmente, ocupamos para ser poder popular! O processo de ocupação e construção das nossas casas prova que nós, mulheres pobres, mulheres da classe trabalhadora, podemos e devemos ser poder! A organização das nossas Casas prova que as políticas públicas e o Estado devem ser geridos pelas trabalhadoras e pelos trabalhadores, pelas pessoas que vivenciam as dificuldades de ser mulher, mãe, negra, trabalhadora, estudante, desempregada.

A partir de reuniões, debates, propostas e experiências que vivenciamos o real empoderamento da mulher que se desvincula de valores e de uma ideologia que não nos representa. A ocupação é uma experiência que aprofunda os laços de nosso movimento com as massas e, por isso, ocupamos. Queremos viver, ocupar, resistir e organizar!

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