A educação das crianças nas ocupações urbanas

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Jean Torres


SÃO PAULO – Ao debater acerca da educação e do papel de uma escola verdadeiramente popular, várias são as considerações sobre acessibilidade, ensino, correntes pedagógicas e principalmente o cidadão que será formado na escola do sistema capitalista. Porém, para além disso, vale considerar as escolas populares e os espaços não escolares que contribuem para a formação de todos, principalmente das crianças. 

Nesse sentido, torna-se válido um olhar mais cuidadoso no que diz respeito a educação infantil, é na primeira infância que se constrói os primeiros valores, a visão de mundo e se compreende o espaço em que cada um ocupa no mundo, sendo assim, tais elementos carecem de boas referências e influências para sua concretização. 

Um dos espaços que possibilitam a ampla formação das crianças são as ocupações urbanas e o contato com a cultura popular por meio delas, são vivências oriundas da luta construída por seus pais e familiares, não é por acaso que Paulo Freire sempre incitou o aprender a palavra POVO, aprendendo a ler e escrever tal palavra assim como o seu verdadeiro significado é que se constrói o sentido, chamado por ele de tema gerador.

Nessa perspectiva, o tema gerador para as crianças das ocupações não é nada mais do que a luta pela moradia,a luta por seus direitos, toda e qualquer criança é portadora de direitos, ensiná-las ou promover seu desenvolvimento não deve ser visto como favor, mas como um direito concretizado que muita das vezes é tirado pelo capitalismo.

Outro elemento relevante são as brincadeiras populares que ocorrem nas creches das ocupações urbanas, principalmente nas ocupações organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, na vivência da luta os pequenos brincam com objetos não estruturados como pedras, pedaços de madeira que fazem parte de suas próprias casas, o que possibilita a criação do imagético e consequentemente seu desenvolvimento, é uma formação dupla, a escola e a escola da luta.

Nadezhda Krupskaya ao discorrer sobre a pedagogia socialista e na defesa pela erradicação do analfabetismo, ilustrando uma sociedade sem classes e a crítica ideológica a escola do sistema capitalista pontuava sobre o papel da escola e o trabalho necessário que a cabia, tais defesas de certo modo podem ser concretizadas a partir das crianças das ocupações, é um indício de formação e educação proveniente da dialética na luta, ao ver seus pais e familiares na luta pelo socialismo elas se formam, se desenvolvem e vivem mesmo que minimamente momentos de uma educação livre de mazelas do capitalismo – como o machismo que é duramente combatido na obra “Deve-se ensinar ‘coisas de mulher’ aos meninos?”- decorrente dos espaços que moram.  

No campo da educação, vale dizer que as experiências nos movimentos sociais possibilitam a percepção de uma nova pedagogia, que possibilitará também, na aurora do novo tempo, o acesso à arte, à cultura, ao esporte, ao lazer e à ciência. Krupskaya deixou como legado a prova viva de uma educação socialista que irá mudar o futuro de todas as crianças e garantir uma boa vida às futuras gerações, uma educação do povo, é a construção do socialismo desde a primeira infância, os pequenos de hoje serão o novo homem e  a nova  mulher da sociedade nova.