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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O caráter ideológico do medo

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O medo contra os exploradores é uma arma do capitalismo. Foto: REUTERS

Ao pensarmos no medo, logo ligamos ele a uma sensação ruim, ou ainda ligamos a uma reação puramente fisiológica de nosso corpo. Porém, o medo tem diversas dimensões tanto fisiológicas, como também sociais e ideológicas.

Miguel Hauer, Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO O sentimento de medo tem acometido grande parte da parcela mais progressista da nossa sociedade. Devemos agora separar o joio do trigo, separando a sensação orgânica de nossas mentes do medo social existente em nossa sociedade.

O medo é uma sensação em consequência da liberação de hormônios como a adrenalina, que causam imediata aceleração dos batimentos cardíacos. É uma resposta do organismo a uma estimulação aversiva, física ou mental, cuja função é preparar o sujeito para uma possível luta ou fuga. Ainda, pesquisadores da USP descobriram que existem dois tipos de medo: o inato, para a preservação natural dos seres e o adquirido após experiências traumáticas.

Ainda podemos trazer à luz outra dimensão do medo, a social, uma vez que ele se constrói enquanto um importante fator dentro do debate política em nossa sociedade e através da história. Esse medo se relaciona com os dois tipos colocados acima e tem diferentes medidas na realidade.

É verdade que todos dias a população negra de nosso país acorda com medo de sair às ruas, já que são alvo constante da repressão do Estado. É verdade também que os trabalhadores durante a pandemia do COVID-19 no Brasil também tiveram medo de sair às ruas para ir trabalhar e se expor ao vírus mortal. Ainda no Brasil, 100 milhões de brasileiros tem medo de não ter o que comer no dia seguinte e estão em insegurança alimentar. Porém podemos comparar de forma não exata esse medo com o medo inato, pois todos os dias as pessoas se preparam para lutar e enfrentar seus medos, pois sabem que se não os enfrentar vão morrer.

Ainda na sociedade temos esse outro tipo de medo o adquirido, esse é relativo às classes dominantes, pois não estão acostumadas ao medo mas através da lutas populares a cada resistência e reivindicação de nosso povo os colocam medo. O medo de perder suas posses, bens, as riquezas que eles roubaram dos trabalhadores, então historicamente as classes dominantes, detentores das riquezas tem medo do povo.

“Não tive tempo pra ter medo”

Hoje, vemos parcelas das pessoas mais de esquerda em nosso país com medo do enfrentamento com o fascismo, com medo da luta de classes. Porém, se permitir sentir medo é um privilégio das classes dominantes e da pequena burguesia, uma vez que tem a sensação de ter algo para perder, de querer evitar um banho de sangue. A esses devemos lembrar a frases de Dom Pedro de Casaldáliga “o problema é ter medo do medo”.

Afirmamos isso, pois não temos mais o que perder. Não enfrentar o medo não é uma escolha para nós e sim algo quase que inato em nossas vidas, que assim não vamos evitar nenhum banho de sangue ou guerra civil, pois eles já existem todos os dias em nosso país. A cada 23 minutos um jovem negros é assassinado, já foram ceifadas quase 600 mil vidas pela COVID-19, a cada 6 horas e meia uma mulher é morta no Brasil.

A realidade é que é preciso deixar o fascismo com medo, combater eles nas ruas, ampliar o sentimento de indignação e luta de nosso povo. Fazer com que o medo esteja no seu local, onde historicamente esteve, com a burguesia e os fascistas.

Então sejamos consequentes e daremos para o fascismo e a burguesia apenas uma coisa de bom grado, o direito de ter medo, pois como afirmou o Carlos Marighella “eu não tive tempo de ter medo”. Vamos para as ruas derrotar o fascismo, vamos parar o país em uma greve geral, vamos fazer com que a burguesia e seu exército tenha medo do povo. As ruas são nossas e delas não vamos sair.

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