104 anos da Revolução Russa: o poder soviético e a luta anticolonial

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Vladimir Lênin: a principal líder dos bolcheviques na Revolução de Outubro. Foto: reprodução.

Revolução Socialista Russa faz 104 anos hoje. A tomada dos poder pelos trabalhadores na Rússia conquistou avanços para os povos oprimidos e colonizados do Império Russo. A Revolução Russa deu origem ao primeiro Estado antirracista da história: a União Soviética.

Felipe Annunziata | Redação Rio

REVOLUÇÃO – Neste 7 de novembro se completa o 104º aniversário da grande Revolução Russa. Em 1917, os trabalhadores e soldados de Petrogrado e Moscou, liderados pelo Partido Bolchevique, tomaram o poder e derrubaram o governo provisório dos capitalistas.

A terra passava a ser de todos os camponeses, as fábricas de todos os operários e o os sovietes de toda a Rússia propuseram ao mundo a paz e o fim da guerra imperialista. A Europa se encontrava submersa na I Guerra Mundial, que no seu final, em 1918, ceifou a vida de mais de 10 milhões de pessoas.  

A revolução, que no calendário usado naquele período na Rússia aconteceu no dia 25 de outubro, não ocorreu apenas nessas cidades. Logo, os povos de todo o antigo Império Russo se levantaram ao lado do poder soviético. 

Bielorrussos, ucranianos, azeris, georgianos, armênios, cazaques e povos de mais de 150 etnias passaram a ser reconhecidos como cidadãos pelo poder soviético. O Império Russo por séculos colonizou esses e outros tantos povos na Ásia Central, Cáucaso e outras regiões do mundo. A língua, a cultura, a música e até o alfabeto utilizado por essas populações eram proibidos pelos tsares. 

Em 1913, Vladimir Lênin, líder da Revolução Russa, já dizia que “para que diferentes nações livre e pacificamente vivam em conjunto ou se separem (quando isto lhes for mais conveniente), constituindo Estados diferentes, para isso é necessária a completa democracia defendida pela classe operária. Nenhum privilégio para nenhuma nação, para nenhuma língua! Nem a mínima perseguição, nem a mínima injustiça para com a minoria nacional! — tais são os princípios da democracia operária.”

Revolução Russa levou ao poder operários e camponeses organizados dos sovietes. Foto: reprodução

A Revolução de Outubro e a questão das nacionalidades

Logo após a vitória bolchevique, o Congresso dos Sovietes, órgão máximo de poder popular composto por representantes de operários e camponeses, decidiu pela constituição da Rússia como uma república soviética federativa. Pela primeira vez na história, centenas de povos ganharam o direito de se auto-governarem. 

Falar e escrever as línguas nacionais deixavam de ser crimes, todos eram cidadãos com os mesmos direitos e deveres. E o domínio dos capitalistas e latifundiários começou a ser destruído. 

Em 1920, em Baku, capital do Azerbaijão, a Internacional Comunista e os sovietes organizaram um congresso com representantes de povos de toda a Ásia. Nele estavam centenas de delegados de territórios colonizados pelas potências europeias. O Congresso dos Povos do Oriente reafirmou o caráter internacionalista e anticolonial da Revolução de Outubro e chamou os povos oprimidos de todo o mundo a se levantar contra o imperialismo e o colonialismo. 

Josef Stálin, líder da URSS entre 1924 e 1953, foi um dos principais bolcheviques a pensarem o problema do colonialismo e do racismo no mundo. Stálin, que era georgiano, defendia a necessidade da luta anticolonial e antirracista para se alcançar o socialismo.

“Os comunistas foram os primeiros a pôr a descoberto a relação existente entre o problema nacional e o problema das colônias; deram-lhe um fundamento teórico e colocaram-na na base de sua prática revolucionária. Com isso veio abaixo o muro que se levantava entre os brancos e os negros, entre os escravos “cultos” e “incultos” do imperialismo. Esta circunstância facilitou consideravelmente a coordenação da luta das colônias atrasadas com a luta do proletariado avançado contra o inimigo comum, contra o imperialismo.” dizia ele, em 1921.

Congresso dos Povos do Oriente, realizado em Baku, reuniu delegados de todas as regiões da Ásia em 1920 e chamou para luta contra o imperialismo. Foto: reprodução

União Soviética: o primeiro Estado antirracista da história

Logo o poder soviético se consolidou com a criação de repúblicas soviéticas na Bielorrússia, Ucrânia e no Cáucaso. Em 1922, após 3 anos de uma sangrenta guerra civil, onde o imperialismo tentou por todos os meios derrubar a Rússia soviética, foi fundada a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

O nome do novo país não foi escolhido à toa. Os povos do antigo Império Russo conquistaram o direito de se autogovernarem e criarem estados próprios, que passaram a coexistir dentro da URSS. O domínio racista dos chamados grão-russos acabava. Os sovietes constituíram um sistema político, onde as características culturais, nacionais eram respeitadas.

A terra, as fábricas e as riquezas eram de todos os povos da União Soviética, não apenas de uma minoria burguesa, fosse russa ou de qualquer nacionalidade. As escolas passaram a ensinar as línguas locais, e não apenas o russo. O racismo era crime e a URSS passava a ter uma política de defesa da autodeterminação dos povos. 

Lênin e Stálin, líderes do Partido Bolchevique que dirigiu a Revolução de Outubro. Foto: reprodução

Revolução Russa inspirou a luta dos povos do mundo contra o colonialismo

Essa posição histórica dos bolcheviques e do poder soviético inspirou os povos de todo o mundo. Na África, Ásia e na América Latina, revoluções e revoltas aconteceram por todo o século XX. 

Em muitas dessas revoluções, o exemplo dos povos da Rússia em 1917 sempre era lembrado. Fosse no Vietnã, no sudeste asiático, ou em Cuba operários e camponeses se uniram na defesa do socialismo e da libertação do colonialismo e do imperialismo. 

Na África, dezenas de países colonizados pela Europa, se levantaram inspirados na luta anticolonial dos povos soviéticos. Foi assim na Argélia, Moçambique, Angola, África do Sul e outros lugares. 

O exemplo da luta dos povos da Rússia pelo socialismo continua vivo até hoje. Num momento em que vivemos com um presidente fascista que financia o genocídio da população negra, dá apoio estatal à recolonização das terras dos povos indígenas, as pautas da Revolução de Outubro continuam muito vivas e atuais.