Nesta sexta-feira (12), teve início o 2º Congresso Nacional da Unidade Popular pelo Socialismo. As primeiras mesas do congresso se dedicaram a avaliar a situação que enfrenta nosso país, o papel que o partido cumpriu no último período, organizando o povo para ocupar as ruas contra o fascismo e a necessidade de avançar ainda mais o trabalho entre o povo pobre pela construção do socialismo do Brasil.
Carla Castro e Cadu Machado
SÃO PAULO – Com o tema “Povo nas ruas, UP nas lutas” foi realizada, nesta sexta-feira, 12 de novembro, a abertura do 2º Congresso Nacional da Unidade Popular pelo Socialismo (UP). A atividade contou com a presença de lideranças políticas, militantes e ativistas de movimentos populares ligados às mulheres, ao direito à moradia, à juventude e dos povos originários. O ato político, que aconteceu no Sindicato dos Metroviários, em São Paulo, contou com a presença de filiados e filiadas de todas as regiões da mais nova sigla política no país.
Mesa de abertura recebeu diversas organizações políticas e discutiu a luta contra o fascismo e pelo Fora Bolsonaro
O primeiro a falar para o ginásio com muitas pessoas foi o anfitrião, Ricardo Senese, diretor do Sindicato dos Metroviários e militante do Movimento Luta de Classes. Senese destacou ser uma grande honra receber o congresso no local que já organizou muitas greves. “Quando começou nossa campanha salarial em abril, o governo comunicou que colocaria este imóvel em leilão. Desde então passamos inúmeras noites resistindo contra a reintegração de posse. Hoje foi tirado em reunião o indicativo de greve para parar essa cidade. Atacar essa sede é atacar a classe trabalhadora”, destacou.
Na sequência, falou o presidente da Unidade Popular do Equador, Giovani Ayala. “Quando o povo brasileiro toma as ruas é um exemplo para os povos latino-americanos”, afirmou. Ainda de acordo com Ayala, o povo equatoriano também está nas ruas enfrentando o neoliberalismo, como no Brasil.
As questões ligadas aos jovens foram abordadas na fala de Isis Mustafa, secretária geral da UNE e militante da União da Juventude Rebelião. “A realidade da juventude brasileira é dramática. A gente sente na pele cada violência que o sistema capitalista apresenta para o povo trabalhador. Um quarto da juventude está desempregada ou está nos subempregos sem o mínimo dos direitos trabalhistas. Por isso, a juventude não tem alternativa senão lutar com seu sangue”.
O dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Edmilson Costa, apontou que em nossas organizações revolucionárias, os congressos são momentos de reflexão, quando fazemos o balanço do período anterior e debatemos os próximos. “Tenho certeza que os camaradas darão um passo no avanço na luta pelo proletariado brasileiro.
Para Diego Vitelo, da CST/PSOL, “temos um grande desafio aos que são parte do campo da esquerda classista que é dar resposta da classe trabalhadora ao que está acontecendo”.
“Foi a UP que destravou o imobilismo das organizações com o 29 de maio. Foi um gesto político de colocar Bolsonaro na defensiva. A UP tem uma militância enraizada nas periferias, dá o exemplo. Lá no Barreiro e na Baixada Fluminense, os militantes estão sempre fazendo atividades. Os militantes da UP estão na linha de frente, o que será decisivo para a luta que temos que travar”, disse Israel Dutra, MES/PSOL.
A presidente da Fundação Lauro de Campos do PSOL, Natalia Szermeta, referiu que ao olhar para as pessoas ao redor, via os rostos daqueles que estão na rua e na luta. “Vocês são parte importante dessa trincheira. O povo está desiludido. É tarefa nossa como socialistas estar presentes nas lutas do povo”.
Pelo Movimento Memória, Verdade e Justiça, Pedro Laurentino, afirmou que quando se começa a falar sobre memória, verdade e justiça tem quem diga: lá vem chover no molhado. Porém, esse molhado é de sangue. “Tenho orgulho de ser da geração que derrubou a Ditatura Militar”.
Glauber Braga, deputado federal do PSOL, enviou uma mensagem e falou sobre sua admiração pelo trabalho que a UP toca. “O Brasil tem hoje uma força de esquerda que faz a diferença. A UP tem cumprido esse papel”.
A coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida Pública, Maria Lucia Fattorelli, também enviou sua saudação ao 2º Congresso Nacional da UP. Em sua fala, saldou os delegados, mandou um abraço a seu amigo, Leonardo Pericles, e ressaltou a importância da auditoria cidadã figurar no programa da Unidade Popular para a revolução brasileira. “Contamos muito com a UP para lutar por essa pauta. Essa dívida tem sido usada como justificativa para as privatizações e o corte dos gastos sociais.
Temos que dar um basta neste modelo!”
Penelope Martinez, da Juventude da Unidade Popular do Equador, destacou que os jovens do seu país estão felizes em ver a luta do povo brasileiro. “O processo de luta na América Latina está crescendo, nem governo, nem vírus travam a luta do povo que avança na construção do poder popular e do socialismo”.
A coordenadora nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Poliana Souza, demonstrou emoção ao ver o congresso de um partido que viu a gestação. “Gente com muita grana não conseguiu fazer o que fizemos. Hoje, a UP consegue olhar para isso e ver futuro e não vai esperar a eleição de 2022.
Representando o Partido Comunista Revolucionário, Wanderson Pinheiro, ressaltou que a luta de classes se aprofunda. “Evidentemente devemos nos organizar política e ideologicamente para enfrentar o fascismo. Devemos nos preparar para períodos de defesas, mas também de ofensivas revolucionárias pelo país. A UP está na linha de frente da vanguarda desse processo colocando o povo na rua.”
O último a falar foi o presidente nacional da Unidade Popular, Leonardo Péricles. “A unidade do campo e da cidade é determinante. Não recebemos um centavo da burguesia para fazer esse congresso. Temos plena independência ideológica, junto com o nosso povo. Quando vemos companheiros de cada campo deste país fazendo finanças desde quando convocamos em março é o que demonstra a grandeza da nossa militância.”
Precisamos nos tornar um partido de milhões e construir o socialismo no Brasil
Na manhã do sábado (13), a programação foi voltada à conjuntura. O debate se iniciou com uma exposição de Péricles, que abordou questões ligadas ao acirramento da luta de classes, as grandes transformações que o mundo vem passando, principalmente, com a crise sanitária, política e econômica que vem ocorrendo desde 2019.
“Temos a disputa entre Estados Unidos e China, a resistência do povo chileno e a reversão de um golpe na Bolívia. Estamos vendo uma América Latina insurgente que não aceita o domínio neoliberal”.
Segundo Leonardo, a coragem da UP de enfrentar o fascismo e as intenções golpistas de Bolsonaro foi determinante para barrar um novo golpe no Brasil. Ainda segundo Leo, no próximo período será de intensificação das disputas entre o povo e a burguesia. Sendo assim, será ainda mais importante a luta do comunistas pela democracia e contra o fascismo.
Péricles concluiu dizendo que, “precisamos realizar uma ampla de filiações para deixarmos de ser um partido de milhares e nos tornarmos um partido de milhões” e parafraseou Garrincha, dizendo que “para nos sermos referências políticas da classe trabalhadora, precisamos combinar com o povo antes”.
O meio ambiente também foi pauta pelo dirigente. “Conseguiram secar o pantanal Quem está fazendo isso é o agronegócio, o latifúndio que é baseado na exploração das nossas riquezas. O Brasil produz o melhor café, mas ele está sendo bebido agora em Paris ou em Pequim. Isso tem que nos indignar”.
Depois da exposição do camarada Leo, foram abertas as intervenções para os delegados. Houveram muitas inscrições e as intervenções falaram sobre as experiências de lutas contra a fome e a carestia durante a pandemia, a importância das mobilizações populares pelo Fora Bolsonaro que têm sido construídas desde o 29 de Maio e a necessidade uma nova jornada de lutas que derrube o governo de militares e banqueiros e aponte e fortaleça a construção do socialismo no Brasil.
Uma das delegadas que se inscreveu para falar foi Rakylane Rios, uma mulher negra, nordestina e trans, como ela mesma se apresentou. A companheira relatou as lutas que têm realizado em sua cidade e o papel determinante que a UP cumpriu na reversão de um golpe que sofreu nas eleições para o Conselho Municipal de Saúde de Santo André. Segundo Rakylane, para ela “a UP é o partido das trans e só a UP pode representar essa parte da sociedade que sofre tanto”.
Foi marcante a presença de companheiros negros, negras e indígenas no congresso. O companheiro Arão, indígena delegado do Rio Grande do Sul, emocionou o plenário com sua intervenção. “Meu avô morreu lutando e hoje estou aqui lutando. Pode ser que morra, mas estarei sempre lutando pelas nossas terras”.
O congresso está apenas em seu segundo dia e a certeza da vitória do povo contagia os delegados presentes. Durante os próximos dias seguiremos acompanhando as atividades do 2º Congresso Nacional da UP e suas deliberações.