O retrato da pobreza menstrual no Brasil

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POBREZA MENSTRUAL. Milhares de mulheres não têm acesso à higiene básica (Foto: Reprodução/Unicef)

No Brasil, 25% das meninas entre 12 e 19 anos deixam de ir à escola pela falta de absorventes, o que leva muitas a recorrerem a outras opções, como miolo de pão, papel, pano e até absorventes de outros ciclos são usados para frear o sangue menstrual.

Lorena Rodriguez
Nilópolis (RJ)


MULHERES – Diante do veto de Bolsonaro à distribuição de itens básicos de higiene para estudantes de baixa renda, o debate acerca da pobreza menstrual ganhou os holofotes da mídia e do povo. Por ser um tópico de fácil entendimento para pessoas que menstruam, a solidariedade e empatia foram perceptíveis entre elas. 

Apesar de “pobreza menstrual” ser um termo autoexplicativo, é necessário ter em mente que trata-se da falta de recursos, infraestrutura e conhecimento para um indivíduo lidar com o seu ciclo. Ademais, quando dizem que esse problema está restrito a países mais pobres, tem-se um julgamento falso e uma desconsideração da situação de vida de encarceradas e pessoas em condições de rua no Brasil, por exemplo.

Um fator importante no cotidiano de um sujeito em extrema pobreza ou encarcerado é a falta de atenção oferecida pelo governo, que, de diversas maneiras, atribui irrelevância à vida dele. Onde não há educação de qualidade, falta informação sobre o seu corpo. Em locais sem distribuição de itens para a higiene, muitos recorrem a outras opções: miolo de pão, papel, pano e até absorventes de outros ciclos são usados para frear o sangue menstrual.

A ausência de informação e recursos afeta também aqueles que ainda estão no colegial. Para a ginecologista Fernanda Torras, a média de absorventes para um dia de menstruação gira em torno de cinco, sofrendo variações proporcionais à intensidade do fluxo de cada um, o que dificulta a proliferação de fungos na região pubiana. Contudo, em um país onde 25% das meninas entre 12 e 19 anos deixam de ir à escola pela falta desses produtos, essa recomendação está distante do alcance geral, pondo em risco a saúde e o acesso à educação dessas meninas.

Solidariedade

Pensando nisso, o núcleo de Nilópolis do Movimento de Mulheres Olga Benário e o Grêmio Estudantil João Vitor Precioso Zini – Voz Ativa arrecadaram absorventes nas ruas do município da Baixada Fluminense. Ao realizar tal ato, as tristes constatações mencionadas anteriormente foram exemplificadas na realidade: diversas mulheres quiseram se solidarizar, porém relataram que situavam-se na mesma condição, devido aos altos preços dos absorventes e protetores de corrimento vaginal.

A intenção do movimento, além da distribuição de absorventes para pessoas em situação de rua, é ressaltar a premissa do respeito aos nossos direitos. Além disso, uma das metas é manter viva a discussão, para que os tabus envolvidos sejam rompidos, já que não falar sobre menstruação, ou ocultá-la com expressões do tipo “estar de chico” e “estar naqueles dias”, é menosprezar a dignidade menstrual de todos com útero. 

Acima de tudo, é preciso lutar por empregos e condições de saúde básica supridas, pois, além da ajuda fornecida, é necessário que pessoas que menstruam tenham condições de adquirir absorventes e outros produtos de higiene. Sendo assim, instruí-las para a mudança de gestão pública e desenvolver consciência sobre o sistema em que vivemos é urgente.

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