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quarta-feira, 24 de abril de 2024

De onde vem a água de nossa torneira?

DIREITO AMEAÇADO. Reverter a privatização da CEDAE é o caminho para garantir água para todos no Rio de Janeiro (Foto: Vitor Ambrozioni/Pesguandu)

Falta saneamento básico e sobra poluição industrial nas lagoas do Guandu, principal reservatório hídrico do Rio de Janeiro. 

Raul Bittencourt e Wladimir Loureiro
Rio de Janeiro


RIO DE JANEIRO – Antes de chegar à nossa torneira, a água na maioria das metrópoles brasileiras segue uma longa jornada. Com o avanço da urbanização e da industrialização, associados ao constante êxodo rural e à agricultura intensiva, que descarrega adubos químicos e agrotóxicos nos córregos e lençóis freáticos, muitas captações de água que existiam nas periferias das cidades secaram, foram contaminadas ou se tornaram insuficientes frente à demanda crescente.

No Rio de Janeiro, os serviços de água e esgoto foram criados na década de 1960 e centralizados pela CEDAE. Na região metropolitana, 70% da captação e distribuição de água vêm do Rio Guandu, que sofre com a poluição industrial e com o esgoto residencial. Se, de um lado, a falta de uma política habitacional para a população, associada à displicência do Estado quanto à coleta e tratamento de esgoto na Baixada, contribuem para a poluição, por outro, grande parte dos contaminantes vem de indústrias, que derramam todo tipo de poluente nos rios da bacia do Guandu.

Água é um direito humano

A água deve ser considerada um direito universal, pois é intrinsecamente ligada ao direito à vida, diferente do que pensam os liberais e a grande burguesia, que a veem apenas como mais um produto a ser explorado. Infelizmente, com o governo do bolsonarista Cláudio Castro, que dá continuidade à política desastrosa dos corruptos Sérgio Cabral, Pezão e Witzel, de quem era vice, essa visão privatizante se tornou política de Estado, com a venda das atividades de distribuição da água antes feita pela CEDAE.

Além da privatização do acesso à água, outras medidas anti-povo foram tomadas, como a proposta de criação de uma barragem de esgoto nas lagoas do Guandu, em substituição a projetos de saneamento básico, visando a aumentar o lucro da empresa. A proposta, que ameaça pescadores que hoje sobrevivem trabalhando nas águas da Lagoa de Quiabal, região preservada e de grande diversidade biológica, está suspensa pela mobilização popular.

A Lagoa de Quiabal e o Lagoão do Guandu tiveram suas áreas ampliadas pela ação humana em razão da instalação de barragens, sendo hoje conhecidas pela comunidade como as “Lagoas do Guandu” ou como “Pantanal Iguaçuano”, uma área de vegetação conservada pela população local, localizada entre os municípios de Seropédica e Nova Iguaçu. 

Vitor Ambrozioni, presidente da da Associação de Pescadores das Lagoas do Guandu (Pesguandu), afirma que a barragem aumentou o alagamento da região e criou uma outra lagoa, o chamado Lagoão do Guandu, com grande volume de resíduos de esgoto no fundo. 

“Olhe aqui, essa areia era para ser branca como a areia dali das margens, mas ela é negra como carvão”, explicou. “Se o rio continuar poluído vai ter cada vez menos peixes. Temos pescadores que estão endividados, doentes por causa da diminuição de peixes causada pelo aumento da poluição. A água da cidade e o peixe do pescador dependem da recuperação desses rios”, defende Vitor. 

A poluição que contamina as lagoas do Guandu ameaça os pescadores da localidade e o abastecimento de água da população carioca e precisa ser contida.

A poluição nas lagoas do Guandu ameaça os pescadores e o abastecimento de água da população carioca (Foto: Vitor Ambrozioni/Pesguandu)

A poluição é inevitável?

O complexo lagunar do Guandu recebe contribuições de cinco rios: Rio Poços, Rio Ipiranga, Rio Cabuçu, Rio Queimados e Rio Guandu. O Rio Poços e o Rio Queimados recebem esgotos industriais do Polo Industrial de Queimados e desaguam na área de captação com cheiro de química. Os Rio Ipiranga e Cabuçu recebem esgotos domésticos de Nova Iguaçu e desaguam com lixo. O Rio Guandu, por sua vez, parece cumprir o papel de diluir todo esse veneno para habilitar essa água para tratamento e fornecimento à população, mas é vulnerável ao cenário de estiagens em São Paulo, de onde vem.

Estes rios podem ser recuperados, pois nascem límpidos na Serra de Tinguá, recebem poluição embaixo, em Queimados e Nova Iguaçu, e, se protegidos, poderão fornecer uma água ainda mais limpa que a água do Rio Guandu, além de oferecer lazer e pesca para a população do entorno.

VÍDEO: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=4558370914247803&id=100002248179682&notif_t=close_friend_activity&notif_id=1638800839697957&ref=m_notif

O sítio na internet do Comitê das Empresas do Rio Guandu informa que esses rios são de classe especial dentro da Reserva Biológica do Tinguá. Classe especial é dada quando o rio tem águas puríssimas, dispensando inclusive tratamento para ser consumido por seres humanos.

A falta de comprometimento dos donos do poder com o abastecimento da população pode ser visto nas constantes crises de falta de água ou na contaminação da mesma, como no caso da geosmina, utilizadas como argumento político para privatização do abastecimento. sucessivos governos não atuaram para solucionar os problemas estruturais e o constante aumento da poluição, pondo em risco o abastecimento e impondo a tendência de aumento de preços para a população. É uma profecia que se auto realiza: afirmam que faltará água e poluem os rios, garantindo que ela falte.

A solução é cobrar das empresas privadas que tratem o próprio esgoto industrial com os lucros de suas atividades, ao invés de compartilhar seu lixo com a população. Também é o fortalecimento da CEDAE e a reversão das privatizações das águas, reconhecendo o acesso à água tratada e ao saneamento básico como um direito essencial do ser humano. 

O poder público deve cumprir as promessas feitas a cada eleição e proceder com a captação do esgoto residencial da Baixada, providenciando o tratamento correto para ele, parando de jogar toda a sujeira in natura na natureza e fazendo obras que não solucionam o problema da falta de saneamento básico, empurrando o problema para as futuras gerações.

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